Feriado em Camboja

 

Feriado em Camboja

Prelúdio

Japão, início de 1989.
Durante uma série de operações conduzidas pela força-tarefa internacional Stargazer, agentes identificaram e desmantelaram centros clandestinos de treinamento e experimentação ligados à megacorporação Star Alimentícios. Nestes locais, foram descobertas diversas drogas experimentais, mas uma delas se destacou por sua periculosidade: a S-Gamma — uma substância com propriedades de controle mental, capaz de transformar suas vítimas em “soldados-zumbis”, obedientes de forma cega à primeira pessoa que lhes dirigir uma palavra-chave durante o estado de indução hipnótica.

Investigações mais profundas revelaram que a droga não era apenas um composto químico, mas um híbrido perverso de biotecnologia moderna com práticas ocultistas, envolvendo o que algumas testemunhas chamaram de “sangue de demônio”.

Os efeitos da S-Gamma foram observados pela primeira vez em jovens japoneses sequestrados, aliciados por promessas de artes marciais, rebelião ou oportunidades no exterior. Esses jovens foram capturados por uma organização militar privada conhecida como o Exército da Vingança, liderada por um comandante misterioso conhecido apenas como Vendetta, ou "H.U.N.K". Injetados com a droga, os adolescentes foram posteriormente vendidos aos Heróis do Khmer Vermelho, uma facção comunista radical do Sudeste Asiático, então liderada por Ong Son — um veterano colossal em estatura e força, conhecido com respeito e ironia como “O Cambojano Grandão”.

Embora Ong Son tenha sido capturado durante a operação “Fim de Treino”, os Heróis do Khmer Vermelho conseguiram fugir com os japoneses drogados. Sem sua liderança, a facção acabou caindo sob controle de seu segundo em comando, Kiri An — um fanático sanguinário que sonha em se tornar rei de um novo Camboja tirânico. Ele declarou Ong Son morto, tomando o controle absoluto da facção com o apoio do Exército da Vingança e maior acesso à S-Gamma, com a qual vem criando um exército cada vez maior de soldados zumbificados.

A Stargazer compreendeu que o uso dos jovens japoneses não era apenas prático, mas também simbólico e político: uma demonstração do poder da droga sobre qualquer ideal, cultura ou vontade individual.

Após a sua libertação das mãos da seita japonesa Yagyu, Ong Son foi resgatado pela Stargazer e convencido a abandonar a estratégia da coerção e lutar por uma causa justa — reunindo novamente seus antigos aliados, mas agora guiado por princípios legítimos de libertação e autodeterminação, sob normas da lei internacional e com o compromisso de nunca mais cooperar com interesses corporativos ou exploratórios.


Por que a Stargazer se envolve

O superintendente Charles Lacroix, líder da força-tarefa Stargazer, determinou que o envolvimento no Camboja era inevitável. Caso a S-Gamma se espalhe, a Star e seus aliados poderão reconfigurar lealdades políticas no Terceiro Mundo — criando exércitos de marionetes e promovendo guerras por procuração, tudo isso mascarado por discursos de progresso.

Além disso, a recuperação dos jovens japoneses não é apenas uma missão humanitária, mas crucial para a compreensão total da S-Gamma. Caso a operação tenha êxito, a Stargazer poderá coletar amostras das diversas variações da droga e finalmente desenvolver um antídoto eficaz. O caso foi nomeado com ironia como "Operação Feriado no Camboja", alusão direta à forma como o Exército da Vingança disfarçava o tráfico humano sob o pretexto de “intercâmbios culturais” e “retiros espirituais”.

Fase Um – Infiltração e Reconexão

20 de julho de 1989.

A missão tem início com um desembarque clandestino na cidade portuária de Krong Preah Sihanouk, onde os agentes da Stargazer devem encontrar o agente Ricardo Cruz — operativo da equipe de Yunuen responsável por reconhecimento internacional. De lá ele irá os conduzir até a vila de Kanpok Trach, nas bordas do território agora dominado por Kiri An, hoje um campo minado de antigos aliados hesitantes.

Krong Preah Sihanouk


Com a possibilidade de restaurar Ong Son à liderança dos Heróis do Khmer Vermelho, resgatar os reféns japoneses e impedir a consolidação da droga experimental, a Stargazer se prepara para sua missão mais suja, ambígua e politicamente volátil até então — onde cada inimigo pode ser uma vítima, e cada vitória, uma derrota moral disfarçada.

O Acordo com Ong Son

Após a crise da prisão La Santé e com o colapso da aliança com Hatori, Ong Son foi transferido — sob risco extremo — à custódia da seita Yagyu, inimigos sutis e imprevisíveis. Antes disso, no entanto, ele aceitou uma proposta da Dra. Gunwoo, temendo cair no esquecimento por parte da própria facção que ajudou a construir.

O acordo era simples, mas ousado:

Libertar todos os sequestrados. 

Cessar toda e qualquer relação com o Exército da Vingança.

Gunwoo, por sua vez, ofereceu orientação para que Ong Son reconstruísse sua organização de forma legítima, livre de práticas exploratórias ou alianças corruptas. Sem meios seguros de mantê-lo detido, a Stargazer precisou apostar alto, confiando que ele honraria a palavra.

Antes disso, Gunwoo o interrogou exaustivamente, coletando informações valiosas sobre a estrutura dos Heróis do Khmer Vermelho: suas instalações, líderes e rotas de suprimento — informações que, se usadas contra ele, podem destruir o que resta de sua influência. E ele sabe disso.

A Ascensão de Kiri An

Durante a ausência de Ong Son, o comando dos HKV caiu nas mãos de Kiri An, um homem frio, fanático e sedento de poder, que rapidamente se aliou ao Exército da Vingança e passou a expandir o uso da droga S-Gamma. Seu plano é simples e brutal: criar um exército de soldados-zumbis leais apenas a ele, capazes de fundar um novo regime — sua versão radicalizada do antigo Khmer Vermelho.

O Exército da Vingança também lucra com isso: testa a droga em campo real, desestabiliza a região e sustenta o caos necessário para manter regimes frágeis e governos fantoches em Camboja, Vietnã, Laos e Tailândia. A constante ameaça do exército de Kiri An é o combustível perfeito para o tráfico de armas, drogas e “proteção internacional”.

No interior dos HKV, o clima é de divisão:

Alguns guerrilheiros se deslumbraram com a ideia de comandar escravos imparáveis.

Outros estão aterrorizados pelas atrocidades e pela completa perda de propósito.

Mas ninguém ousa se levantar — pois os dissidentes se tornam os próximos zumbis.

A Oportunidade

Alguns poucos guerrilheiros ainda leais a Ong Son desertaram e se escondem. Com eles pode estar a chave para reconquistar influência, libertar reféns e tomar posse dos ativos do Exército da Vingança.

Gunwoo aposta tudo em um refúgio isolado, cuja localização foi passada por Ricardo Cruz, que está na região pouco mais de um mês, viabilizando a missão. Segundo ele, o local é usado apenas pelos remanescentes leais a Ong Son. Pode ser uma armadilha? Claro. Mas Gunwoo está disposta a arriscar tudo — não apenas pelos prisioneiros, mas pela chance de compreender, de uma vez por todas, a versão S-Gamma usada pela Stardust.

Desdobramento da Operação

Para essa missão crítica, Charles Lacroix destaca os operativos Lad’ya e Shiro — mas Shiro é substituído de última hora por Elizabeth Browing, dado o nível de risco.

A operação exige precisão total e discrição máxima:

Extração dos reféns vivos.

Apreensão dos ativos do Exército da Vingança.

Retirada segura de todos os agentes envolvidos.

Se tudo correr bem, a aliança com os HKV pode ser restabelecida com Ong Son no comando.

Se falhar... o Camboja poderá cair nas mãos de um tirano ainda mais insano que Pol Pot.

Objetivos Primários

Extrair os reféns dos Heróis do Khmer Vermelho. 

Apreender o máximo possível de ativos do Exército da Vingança. 

Garantir a retirada com vida de todos os operativos.

Objetivo Secundário

Estabelecer uma aliança estratégica com os HKV, sob nova liderança de Ong Son.

Krŏng Preăh Seihănŭ

Os investigadores chegam ao Camboja sob o calor úmido e pesado da costa, desembarcando discretamente na cidade portuária de Krŏng Preăh Seihănŭ, onde o passado colonial se mistura com ruínas da guerra recente. À sua espera está Ricardo Cruz, agente veterano da equipe de Yunuen Trembley Pérez, que há semanas prepara o terreno com o cuidado de quem sabe que um passo em falso pode custar vidas.


Ricardo os leva para conhecer a guia local: Chivy San, policial veterana, de poucas palavras e olhar opaco. Eles a encontram num restaurante simples, meio vazio, onde o rádio sintonizado em ondas curtas parece resistir ao tempo como ela. Magra, baixa e marcada por anos de frustração e batalhas perdidas, Chivy fala sem rodeios:

“O Camboja já sangrou demais. E esses ‘Heróis’... só fazem piorar tudo. A polícia não quer se meter. Eles levaram a sobrinha da minha melhor amiga. Eu disse que não ia mais ficar parada.”

Ela trouxe consigo duas velhas picapes Toyota da década de 70, veículos da polícia cambojana — enferrujadas, com os bancos remendados e o motor cansado, mas confiáveis como ela.

“Uma é minha. A outra é de vocês. Não abusem.”

Chivy não apenas entrega o veículo — ela guia pessoalmente a caravana até a vila de Kanpok Trach, cruzando estradas de terra esburacadas, pontes improvisadas e postos de controle sob domínio vietnamita. O tempo todo, atenta ao horizonte e ao rádio, ela explica o contexto: o Vietnã ainda domina a região, mas está pronto para se retirar a qualquer momento, o que deixará um vazio de poder que Kiri An está ansioso para ocupar.

Antes da partida, Gunwoo reúne a equipe à sombra de um galpão desativado:

“Atenção total. Se sentirmos cheiro de emboscada, abortamos. Se parecer armadilha, abortamos. Se Chivy ou Cruz tiverem qualquer hesitação, abortamos. Essa missão é importante, mas ninguém aqui vai virar mártir.”

A poeira levanta à medida que os motores rugem.
Chivy San vai à frente. Os investigadores a seguem.
Depois de Kanpok Trach, estarão sozinhos.

Mas, ao contrário dos receios de Gunwoo, não há armadilha.

Ao chegarem ao destino, os investigadores encontram uma velha borracharia à beira da estrada poeirenta de Kanpok Trach — uma estrutura modesta de paredes rachadas e ferramentas penduradas como talismãs. Na fachada, uma placa desbotada exibe em cambojano apenas:
“Borracharia Son”.

É lá que vivem os fantasmas de Ong Son.

Chivy San, agora mais à vontade após horas de estrada, havia conversado longamente com Ong durante o trajeto. Algo mudou em sua expressão. Ao descer da caminhonete, ela os encara um a um, e pela primeira vez em muito tempo, sorri — com leveza, mas também com peso. Em seguida, endurece a fisionomia e se despede com palavras que parecem gravadas a fogo:

“Vocês me deram algo que eu não queria… esperança.
Se transformarem isso em veneno, eu juro que os caço em qualquer lugar onde estejam.”

Ela deseja boa sorte no próprio idioma, vira as costas e parte — levando consigo o rastro de todos os que um dia acreditaram demais.

Na borracharia, o grupo é recebido por Borai Son, irmão mais novo de Ong. Ao ver o gigante à sua frente, seus olhos se enchem — de lágrimas e de ira. O reencontro é tenso, amargo.

“Você devia ter morrido com os outros. Pelo menos teria levado tua culpa com você.”

Borai acusa Ong por tudo: pelas mortes, pelos sequestros, pela traição dos ideais revolucionários que seu povo nutria.

“Você transformou os Heróis do Khmer Vermelho em monstros! E agora traz agentes estrangeiros pra terminar o serviço?”

Ong não reage com raiva. Apenas se curva, abaixa a cabeça — e pede perdão.

“Não vim repetir o erro. Vim consertar o que comecei. E por isso... trouxe eles.”


Para forçá-lo a encarar o legado que deixou, Borai os conduz até o fundo da casa, onde repousa o patriarca da família: Dara Son, o avô de ambos, agonizando lentamente de câncer.

Ao vê-lo, Gunwoo se agacha instintivamente ao lado da cama, observa a coloração da pele, o ritmo da respiração, os frascos empoeirados na mesa. Sua expressão se fecha.

“Essa medicação... está obsoleta. E pior: é mal fabricada. Pode matá-lo antes do câncer o fazer.”

Sem esperar permissão, Gunwoo chama Yuki Kagawa e Dan Ji Seok, e os três montam um posto médico improvisado ali mesmo, no chão de cimento, ao lado das ferramentas e peças de borracha.

Lad’ya se aproxima de Borai, pousa uma mão no ombro dele.

“Deixa ela trabalhar. Você vai ver.”

Enquanto Gunwoo reorganiza os medicamentos e os aplica com destreza, Ong explica:

“Ela é a melhor médica que conheço. E a única que ainda acredita em cura.”

Horas depois, com o paciente estabilizado, Gunwoo se levanta, suada e exausta, e entrega a Borai um frasco com remédios mais potentes e instruções detalhadas.

“Seu avô é forte. O que fizemos vai mantê-lo por pelo menos um mês. Mas ele vai precisar de acompanhamento, exames, deslocamentos... e proteção.”

Ela faz uma pausa, firme:

“Nós podemos prover isso. A Stargazer pode prover isso.
Mas não podemos ajudar num território que nos considera inimigos.
Se essa vila — se esses homens — se tornarem hostis, não haverá mais cuidados. Só silêncio.”

Borai a encara em silêncio. Em seguida, olha para o irmão, e diz com dureza:

“Prometa. Prometa que não vai falhar com ele de novo.”

Ong olha nos olhos do irmão e responde com gravidade:

“Eu juro. Por ele... e por tudo o que destruí.”

Gunwoo entrega os remédios restantes a Borai e passa as instruções com precisão quase militar.
Borai então se vira para o grupo, respirando fundo:

“A vila é de vocês. Enquanto fizerem o que é certo...
Kanpok Trach será um refúgio.”

E assim, entre remendos de borracha, mágoas profundas e promessas renascidas, a Stargazer fincava seu primeiro ponto de apoio no território do inferno.

Ricardo aproveita a situação para chamar todos para o briefing que ele preparou. 

BRIEFING OPERACIONAL — OPERAÇÃO “FERIADO NO CAMBOJA”


Local:
Kanpok Trach
Data: 20 de julho de 1989
Horário: 18:00
Classificação: CONFIDENCIAL – STARGAZER EYES ONLY

Responsável pelo briefing: Agente Ricardo Cruz (Equipe de Reconhecimento - Trembley Pérez)

Situação Atual

A liderança dos Heróis do Khmer Vermelho (HKV) encontra-se sob domínio de Kiri An, ex-guarda real cambojano e atual agente operativo do Exército da Vingança.
Extremamente brutal, carismático e manipulador, Kiri An consolidou seu poder utilizando a droga S-Gamma como ferramenta de controle comportamental em larga escala.

Segundo relatos verificados por Cruz, os reféns japoneses estão sendo mantidos vivos como “reserva de energia”, sendo literalmente canibalizados por Kiri An em rituais pseudomilitares que ele acredita conferir força espiritual e física.

A retomada do controle por Ong Son dependerá da reconquista de suas antigas linhas de comando, principalmente os três tenentes-chave:

Objetivos Prioritários (Ativos Potenciais)

1. Narith Chum — Especialista em Comunicações e Criptografia

Formação: Academia Militar Bǎodìng Jūnxiào (China)

Situação: Leal a Ong Son por convicção ideológica, mas coopera com Kiri An por pragmatismo.

Vulnerabilidade: Parte de sua tropa foi zumbificada com S-Gamma como forma de pressão.

Missão ativa: Amanhã, Narith estará liderando uma operação para interceptar armas de uma coluna vietnamita. A abordagem nesta janela é essencial.

Valor estratégico: Possui os códigos de comunicação internos dos HKV. A captura/adesão de Chum permitirá interferência e redirecionamento de ordens inimigas.

2. Sokhann Prak — Comandante de Cavalaria Blindada e Especialista em Demolições

Formação: Academia Militar Saint-Cyr (França)

Perfil: Intelectual militarista, altamente disciplinado. Aderiu à causa de Ong Son por idealismo; permanece com Kiri An por cálculo estratégico.

Motivação: Pragmático. Considera trocar de lado se perceber Ong Son como força viável de vitória.

Recursos sob seu controle:

1 T-55 (tanque principal)

2 BMP-1 (veículos de infantaria)

1 ZSU-23-4 Shilka (antiaéreo)

1 pelotão de elite com engenheiros de combate

Importância tática: Prak controla o grosso do poder de fogo terrestre dos HKV. Sua adesão altera completamente o equilíbrio militar.

3. Dara Yim — Comandante de Logística e Transporte

Formação: Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa (China)

Habilidades: Especialista em suprimento, manutenção, mobilidade e realocação de tropas blindadas.

Vínculo pessoal: Antiga companheira de Ong Son. Continua ideologicamente oposta a Kiri An, mas está emocionalmente aprisionada.

Ponto de contenção: Seu irmão, Sareth Yim, foi sequestrado e transformado em soldado-zumbi por ordem de Kiri An. Dara colabora com o regime para manter o irmão vivo.

Hipótese operacional: Cruz acredita que Sareth está lotado em um pelotão que conecta a cadeia de suprimentos de Prak a Dara, o que torna essencial conquistar Prak antes de tentar recuperar Dara.

Valor estratégico: Se Dara abandonar Kiri An, ele perderá a espinha dorsal logística do exército, comprometendo o suprimento de munição, combustível e ração.

Análise de Prioridades – Ordem Recomendada de Ação

Narith Chum

Abordagem: Contenção e convencimento.

Resultado esperado: Acesso aos códigos de comunicação dos HKV + dissolução parcial da tropa zumbificada.

Sokhann Prak

Abordagem: Demonstração de força, combatividade e articulação.

Resultado esperado: Captura de blindados e ruptura no front de combate.

Dara Yim

Abordagem: Missão de resgate com operação cirúrgica para curar Sareth Yim.

Resultado esperado: Colapso da retaguarda logística de Kiri An.

Recomendações Finais

Após o encerramento do briefing, a agente Samantha Gagnon recomendou exercícios de adaptação em ambiente tropical/silvestre, com foco em navegação de terreno irregular, movimentação furtiva e resposta a emboscadas em vegetação densa.

Missão será retomada ao nascer do sol.
Autorização para uso de força letal apenas sob ameaça direta.
S-Gamma é um fator biológico e espiritual. Capturar usuários vivos é prioritário para estudo e neutralização posterior.

FIM DO BRIEFING
Agente Responsável: Ricardo Cruz
Autorizado por: Comando Operacional - Trembley Pérez

(21/07/1989)Líder a ser persuadido – Narith Chum

O amanhecer no interior montanhoso do Camboja ergue-se enevoado e abafado, como se o próprio ar retivesse a tensão da missão. Com os motores das caminhonetes desligados, os agentes da Stargazer observam a mata densa ao redor enquanto Ricardo Cruz se ajoelha sobre um mapa rasgado e sujo de barro, traçando com precisão a provável rota de um grupo rebelde.

“A emboscada vai ser aqui,” sussurra. “Estrada montanhosa, ponte improvisada. Um comboio vietnamita deve cruzar esse rio no fim da manhã. Chum estará esperando com seus homens.”

Narith Chum, o primeiro dos três tenentes a ser abordado, é um estrategista e operador de comunicações altamente treinado. Embora tecnicamente subordinado a Kiri An, seu passado com Ong Son e sua formação ideológica revelam um homem dividido entre a obediência forçada e a memória de um ideal traído. Sua lealdade, como o próprio Cruz alerta, é uma corda esticada prestes a arrebentar.

Narith Chum

O plano de Kiri An é claro: manter Chum sob controle zumbificando parte de seus homens com S-Gamma, tornando-o dependente e cercado. Se Chum tiver esperança de voltar a pensar por si mesmo, será agora — antes que a droga engula o resto de sua tropa.

Com base nos rastros de rádio e sinais dispersos no espectro, Ricardo triangula a posição do pelotão. Ele deixa o grupo a pouco mais de um quilômetro do local, preparando sua posição de observação e prometendo estar ao alcance de uma chamada de rádio para resgate ou reforço.

“Se algo der errado, chame por ‘Cruz’. Eu estarei ouvindo.”

Gunwoo, sempre clínica e precisa, aproveita a pausa para fazer um lembrete firme:

“Eles são vítimas. Se possível, sem tiros letais. Estamos aqui para quebrar um ciclo, não continuar outro.”

Ela ordena o uso de munição não letal sempre que viável, principalmente com os soldados-zumbis.

Sob orientação de Samantha Gagnon, o grupo parte em formação dispersa, usando a mata como camuflagem. Para manter-se fora do alcance das ondas de rádio detectáveis, Gunwoo determina que o time mantenha distância mínima de 200 metros da coluna de Chum até que o contato visual seja estabelecido.

“Quando localizarem o grupo, retornem e reposicionem a equipe a 100 metros. Só então faremos a abordagem.”

A tarefa de reconhecimento silencioso cabe a Ong Son e Lad’ya, os únicos com a experiência e presença física capazes de se infiltrar sem levantar suspeitas — e ainda assim, caso fossem notados, intimidar.

Na espreita entre cipós e lama, os dois seguem em silêncio. Em pouco mais de uma hora, a missão ganha forma: o grupo de Chum está ali, em marcha até o ponto da emboscada.

Com a localização confirmada, Ong e Lad’ya retornam. Gunwoo monta a operação de rádio com apoio remoto de Hiyata Mamoru, que comanda as comunicações criptografadas a partir da base em Kobe.

“Saru chamando Bunny,” sussurra Mamoru pelo canal seguro.
“Bunny na escuta,” responde Gunwoo com naturalidade, enquanto calibra o transmissor.

Após alinhar a frequência de Chum, Ong Son assume o microfone.
Sua voz, pela primeira vez em muito tempo, tem um tremor sincero.

“Chum... é Ong. Estou vivo. E não voltei pra repetir o passado. Voltei pra consertá-lo.”

Uma pausa longa. O rádio chia. E então, a voz de Narith Chum, seca e dura como pedra:

“Fico feliz por saber que ainda vive... Mas também queria que estivesse morto, maldito. Pelo que fez, pelo que deixamos virar…”

A tensão no grupo é palpável. O silêncio da selva amplifica cada batida do coração.

Mas Chum se isola do grupo, deslocando-se para um ponto seguro da estrada onde possa continuar a conversa fora do alcance auditivo dos soldados-zumbis. Isso por si só já é um avanço. Ele quer ouvir — mesmo que ainda não esteja pronto para perdoar.

“Fala. E seja convincente. Porque a verdade é que só estou ouvindo por respeito ao homem que você já foi.”

A diplomacia de campo vai começar.

Na encosta da colina coberta por bambus e folhas úmidas, o rádio estala com ruído seco, e a voz de Narith Chum retorna, desta vez mais firme — mas carregada de mágoa.

“Você pôs tudo a perder, Ong. Foi você quem abriu as portas. Nós lutávamos por liberdade… agora olhe para nós: sequestradores, carniceiros, servindo um novo senhor... e nem temos consciência disso.”

A voz de Chum é acompanhada por sussurros ao fundo — seus homens mais próximos, ainda confiando nele. Alguns, provavelmente sob efeito da S-Gamma, conversam, riem, fumam. Não há nada de anormal neles, exceto a nova bússola moral que agora os orienta: Kiri An.

Ong Son respira fundo, aperta o transmissor.

“Você tem razão. Eu deixei isso começar. Eu me curvei, deixei o poder cegar meu ideal. E agora... eu estou pagando por isso. Só que não com arrependimento, Chum. Com ação.
Estou aqui para consertar.
E trouxe aliados para isso.”

A conversa se prolonga, tensa. Chum escuta. Avalia. Questiona.

“E esses aliados? Outra força estrangeira? Outro mestre oculto no jogo das nações?”

Ong responde com firmeza:

“Eles não representam nenhum governo. São a Stargazer — uma força internacional que nasceu para combater os crimes fascistas que os impérios modernos deixaram crescer. Eles não querem tomar nosso país, Chum. Eles querem impedir que o arrastem ainda mais para o abismo.”

Hesitante, Chum aceita ouvir a tal agente.

Gunwoo assume o canal. Sua voz não é autoritária, mas segura. Precisamente diplomática, com a energia de quem está acostumada a negociar entre feridas abertas.

“Chum, não estamos aqui para comandar. Estamos aqui para impedir que monstros como Kiri An e a Star Corp nos reduzam a ferramentas.
Se for pelo pragmatismo, aceite nossa ajuda. E se, no fim disso, quiser nos ver partir… partiremos.”

Um longo silêncio. Depois, o rádio chia:

“Você fala bem, doutora. E ouve melhor do que muita gente. Muito bem. Eu topo. Mas há um problema.”

Chum explica, com a voz quase abafada:

“Metade do meu pelotão está sob S-Gamma. Eles são meus homens. Ainda são. Mas... se souberem que vou abandoná-lo, me matarão. Ou pior — me delatarão.”

Gunwoo responde com calma:

“Nós temos o antídoto. Mas não podemos usá-lo em campo sem um plano.”

É então que Lad’ya se inclina, pensativo, e propõe:

“Vamos nos disfarçar. Só um pequeno grupo. Cientistas. Fingimos ser enviados do Exército da Vingança para vacinar os soldados contra malária ou outra doença tropical. Aplicamos o antídoto no processo.”

A ideia é boa — mas há um detalhe que Gunwoo logo aponta:

“Eles já foram vacinados contra malária. Isso vai levantar suspeitas.”

Silêncio. Então, Gunwoo sorri de lado, iluminada por um lampejo de inspiração:

“Diga que o comboio vietnamita está transportando material radioativo capturado dos imperialistas.
A injeção será a ‘substância B-43’ — um reforço de resistência física e proteção contra radiação, um projeto especial da Star. Os soldados já ouviram esse tipo de coisa antes. Vão engolir.”

Chum concorda. É uma boa cobertura. E uma narrativa que os soldados — mesmo sob o efeito da droga — reconhecerão como plausível.

Momentos depois, no canal de rádio aberto entre os soldados, a voz de Narith Chum ecoa firme:

“Atenção, irmãos.”
“Recebemos ordem direta de Kiri An. O comboio carrega equipamento capturado dos imperialistas — material experimental, radioativo. Há risco de contaminação. O Exército da Vingança está enviando uma equipe médica com injeções reforçadas de resistência física, adaptadas pelos próprios cientistas da Star para nosso uso.”

“Todos devem seguir o protocolo. Recusa será tratada como sabotagem.”

O transmissor se fecha. O zumbido da tensão volta a tomar conta do silêncio.

É a hora.
O disfarce está montado. O antídoto está pronto.
E pela primeira vez, Ong Son não carrega apenas a culpa — mas também, um plano.

Os céus de chumbo pairam sobre o vale montanhoso quando o grupo avança. A encosta rochosa ao norte abriga o destacamento de Narith Chum, junto ao equipamento de rádio e seus seis guerrilheiros mais confiáveis. Do outro lado da clareira, ainda dispostos em posição de emboscada, dez combatentes conversam, mantêm suas armas limpas, cantam entre si. Estes são os outros — os marcados pela droga. Os “zumbis”, como muitos os chamam, embora o nome não lhes faça justiça.

Eles sorriem, trocam piadas, demonstram preocupação com as famílias, debatem comida e saudade, como qualquer soldado em campo. Mas por trás do riso, há algo profundamente distorcido: seus corações batem por Kiri An. Não por escolha, mas por redirecionamento. A S-Gamma não rouba a alma. Ela realoca a bússola moral — e por isso, é tão terrivelmente eficaz.

Os agentes da Stargazer se aproximam com passos firmes.

Gunwoo, Dan Ji e Yuki estão vestidos como cientistas do Exército da Vingança — o disfarce é convincente, quase natural, sobretudo porque Dan Ji e Yuki, em algum ponto de seus passados, de fato já serviram involuntariamente à Star Corp.

Lad’ya, por sua vez, assume a persona de soldado veterano, escoltando a equipe com naturalidade e uma postura que inspira respeito. Mas antes de entrarem no vale, ele olha de esguelha para Gunwoo, franzindo as sobrancelhas com leve provocação:

“Doutora, a senhora está... convincente demais. Parece uma cientista que perdeu o irmão num teste de armas biológicas e agora tem sede de vingança. Vai atrair atenção.”

Gunwoo sorri — por trás dos óculos e do cabelo preso com precisão cirúrgica.

“Então finja que estamos discutindo detalhes técnicos. Assim eu me recalibro.”

A aproximação se dá sem resistência. Narith Chum repassa as ordens com naturalidade e voz de comando. O anúncio das vacinas — o protocolo da substância B-43 — não levanta suspeitas. Pelo contrário, dois dos soldados mais próximos, aqueles que Lad’ya havia impressionado durante a chegada, se adiantam para serem os primeiros na fila.

Com autoridade médica, Gunwoo orienta:

“Dois grupos, formem fileiras. Injeção no braço esquerdo. Mantenham a respiração regular. Sentirem náusea, avisem imediatamente.”

Ela e Yuki inoculam os soldados um a um, enquanto Dan Ji e Lad’ya preparam as seringas com o antídoto. A operação corre com precisão cirúrgica.

Em minutos, os dez soldados afetados pela S-Gamma são tratados.

O efeito é imediato — e devastador.

O brilho nos olhos deles muda. Pequenos gestos ganham peso. A consciência retorna como uma enxurrada de memória e culpa.

Primeiro vêm os olhares — confusos, estranhamente aflitos. Depois, o tremor nas mãos. As vozes embargadas. A realização: as ordens que seguiram, os amigos que entregaram, os inocentes que calaram... tudo foi feito de livre vontade roubada.

Um dos soldados, um jovem com uma tatuagem de estrela na clavícula, grita. Agacha-se no chão, tapa os ouvidos como se pudesse deter o barulho da própria consciência.

“Eu... Eu... Eu disse que era pela revolução! Que ela era traidora! Mas ela só queria ver o filho! Meu Deus!”

Ele desaba, tomado por um colapso nervoso violento.

Imediatamente, Gunwoo larga a maleta, ajoelha-se ao lado dele. Dan Ji segura seus ombros para que não se machuque. Narith Chum, embora calejado, segura as lágrimas e o abraça:

“Você está de volta, irmão. E é isso que importa. Nós vamos passar por isso. Juntos.”

Outros soldados caem de joelhos. Alguns choram em silêncio. Um deles segura a mão de outro com força, como se só o calor de um companheiro pudesse mantê-lo inteiro. Outro grita para o ar uma jura de vingança contra Kiri An.

A tropa, agora unida — zumbis e “livres” — torna-se um só corpo de cicatrizes.

A operação foi um sucesso tático, mas o preço emocional se revela alto.
A Stargazer libertou corações, mas agora precisa lidar com suas ruínas internas.

Lad’ya, Gunwoo, Yuki e Dan Ji sabem que o maior inimigo agora não é o Exército da Vingança.
É o eco do que se perdeu.

O vale havia mudado.

Em pouco mais de uma hora, o campo de emboscada se tornara uma sala de recuperação. Não havia tiros, não havia ordens. Havia gente deitada no chão, chorando ou rindo em nervosismo, abraçada a colegas de combate, buscando um norte no meio da névoa que a S-Gamma havia deixado para trás.

Os agentes da Stargazer — Gunwoo, Dan Ji, Yuki e Lad’ya — alternavam entre curativos, palavras de consolo e explicações. Alguns dos soldados curados mantinham os olhos baixos, como se olhassem diretamente para a vergonha em seus próprios peitos. Outros, enrijecidos, queriam respostas.

“Vocês não são do Exército da Vingança,” disse um deles.
“Então quem são? Quem faz isso... e depois ajuda?”

Gunwoo os encara, limpa as mãos com um lenço úmido manchado de terra e sangue, e responde sem hesitar:

“Somos da Stargazer.
Não somos Estado. Não somos império.
Somos quem caça aqueles que esquecem o valor da vida humana.”

A resposta cala fundo. Um dos soldados, ainda ajoelhado, esboça um sorriso torto. Outro assente em silêncio, enxugando os olhos com as costas da mão.

Da subida da colina, o som de passos anuncia a chegada de reforços.

Descendo pela estrada de terra vêm Samantha Gagnon, ainda suada e com o sua besta nas costas, e Beth Brawl, a montanha de cabelos alvos marrenta. Juntas, como leões fêmeas guardando a retaguarda de algo muito mais perigoso.


E com elas, como um pilar de concreto com olhos humanos, Ong Son, o Cambojano Grandão.

Quando os ex-zumbis o veem, alguns tremem. Outros gritam. Uma das mulheres da tropa sussurra, com os olhos marejados:

“Eles... eles não podem ser porcos capitalistas. Olhem quantas mulheres lutam com eles...!”

A observação é recebida com risos nervosos, e logo uma espécie de calor humano toma conta do ambiente. Mesmo feridos, mesmo em colapso, os soldados se aproximam de Ong — tocando seu braço, abraçando suas pernas, chorando como filhos voltando para casa.

Narith Chum, agora firme e orgulhoso, se posiciona ao lado de Ong Son. O gesto diz tudo.

Ong ergue os braços e o vale silencia.

“Camaradas,” sua voz ecoa como trovão sobre a terra úmida.
“Olhem para mim. Eu não volto como salvador. Volto como culpado. Fui eu quem colocou vocês nesse caminho. Fui eu que deixei a ideia dos nossos heróis ser corrompida...
…mas também sou eu que escolho, agora, colocar fim nesse erro.”

“Os Heróis do Khmer Vermelho não foram feitos para servir senhores estrangeiros.
Não fomos feitos para dopar os nossos.
Fomos feitos para proteger o povo cambojano da fome, do império e do esquecimento.

Ele pausa, olhando nos olhos daqueles que antes chamavam Kiri An de mestre.

“Agora, vamos retomar essa luta. Com o punho limpo. Com a mente livre.
Se me seguirem, juro diante dos nossos mortos... faremos justiça.
E o nome ‘Heróis do Khmer Vermelho’ voltará a significar o que sempre deveria ter sido:
o punho cerrado da liberdade.”

O silêncio dura um segundo. Talvez dois. E então:

Um urro.
Um grito coletivo.
Punhos ao alto.

“ÔÔÔÔÔNG! ÔÔÔÔÔNG!”

O chão parece tremer. Mesmo feridos, mesmo sem saber o dia de amanhã, os guerrilheiros saltam, se abraçam, cantam como quem foi devolvido à vida.

Ali, sob o céu cinza e sobre o barro da montanha, a Stargazer testemunha sua primeira vitória no Camboja.
E Ong Son, agora erguido em ombros, não é mais o traidor que fugiu.
Ele é, novamente, o herói que voltou.

Kanpok Trach – O Peso da Consciência 

O sol da tarde tingia de dourado as palhoças de Kanpok Trach quando os investigadores retornaram com Narith Chum e seus quinze guerrilheiros. A vila, antes silenciosa, agora fervilhava de murmúrios e passos apressados. Os recém-libertos da S-Gamma caminhavam como sonâmbulos acordados à força, alguns encostando-se uns nos outros como se temessem desmoronar. 


Gunwoo organizou um espaço sob a sombra de uma mangueira, onde os guerrilheiros se sentaram em círculo. Alguns encaravam as próprias mãos, como se não as reconhecessem. Outros olhavam para o horizonte, perdidos em memórias que agora voltavam com a clareza de uma faca. 

 — "Vocês não estão mais sob controle dela," Gunwoo disse, voz baixa, mas firme. "Mas a cura não apaga o que foi feito. Só dá a chance de escolher de novo." 

 Um dos homens, mais jovem, com cicatrizes de queimadura nos braços, começou a tremer. 

 — "Eu matei ela..." ele sussurrou, os olhos marejados. "Minha irmã... ela só queria fugir. Eu chamei ela de traidora. Eu... eu atirei." 

 Lad’ya se ajoelhou ao seu lado, colocando uma mão pesada em seu ombro. Não disse nada. Não precisava. O guerrilheiro agarrou seu braço como um náufrago e desabou, soluçando. 

 Enquanto isso, Dan Ji e Yuki circulavam entre os homens, checando pressão, aplicando sedativos leves para os casos mais críticos. Um tailandês de expressão vazia recusou o comprimido que Yuki ofereceu. 

 — "Não mereço alívio," ele resmungou. 

 — "Não é sobre merecer," Dan Ji respondeu, secamente. "É sobre não desistir antes da hora." 


Gunwoo conversa e conforta incansavelmente os guerrilheiros e famílias, até um senhor, pai de um dos garotos notar o quanto ela mesma está cansada e, com uma caneca de chai na mão, pede para que ela sente e descanse um pouco. 

 Do outro lado do pátio, Ricardo Cruz arrancou uma risada abafada de um cambojano de queixo quadrado, contando uma história em português quebrado sobre um "cara que tentou roubar um jacaré e acabou casando com a irmã do bicho." Ninguém entendeu direito, mas o absurdo da entonação foi suficiente. 

 Samantha Gagnon e Beth Brawl organizavam armas e suprimentos, separando o que ainda servia. Beth tentou puxar conversa com um dos locais, mas após três tentativas frustradas de comunicação, resmungou: 

 — "Precisamos de um dicionário de cambojano pra ‘vai se foder’." 

 Samantha sorriu, mas seus olhos não perderam o foco. 

As Escolhas 

Dos quinze, quatro não queriam continuar. Dois deles — um pescador vietnamita e um ex-fazendeiro — foram convencidos pelas próprias famílias a ficar. 

 — "Se você desistir agora, quem vai impedir que isso aconteça de novo?" uma velha de rosto enrugado perguntou ao neto, segurando seu rosto com mãos calejadas. 

 Os outros dois, um tailandês e um sul-coreano, só queriam voltar para casa. 

 — "Eu não consigo mais segurar uma arma," o coreano admitiu, olhando para Ong Son. "Não depois do que eu fiz sob aquela maldição." 

 O gigante cambojano inclinou a cabeça. 

 — "Kanpok Trach é sua casa até conseguirmos te levar pra Coreia. Mas prometa uma coisa: quando estiver seguro, conte sua história. Para que ninguém mais caia nessa armadilha." 

 O homem assentiu, aliviado e amargurado. 


Após darem um jeito nos guerrilheiros, Ricardo chamou todos para o debriefing sobre o que fazer em seguida. O grupo deveria agora convencer o segundo comandante dos Heróis do Khmer Vermelho a se juntar à rebelião... ou neutralizá-lo.

Se discutiu sobre Sokhann Prak.

O mapa desgastado estava aberto sobre a mesa da borracharia, iluminado por uma lamparina que projetava sombras irregulares nas paredes. Sokhann Prak, o "Fantasma de Saint-Cyr", era o alvo. 

— " Prak é um comandante formado na famosa Saint-Cyr, lutou ao lado dos franceses contra o Vietnã, mas desertou para o lado vietnamita ao ter previsto o desastre que seria a batalha de Dien Bien Phu. Retornou ao Camboja onde se filiou aos Heróis do Khmer vermelho. É o melhor comandante do antigo grupo do Ong Son e não é um fanático como Kiri An"

Em seguida, Narith Chum explicou, traçando uma linha no mapa com o dedo. "Ele é um calculista. Se vir que Ong Son tem mais força, ele muda de lado sem hesitar." 

— "Então vamos mostrar força," Lad’ya resmungou, os olhos fixos no ponto onde a estrada serpenteava entre colinas rochosas. "Vamos emboscá-lo, pode ser na própria vila, é possível se chegarmos cedo o que acham?" 

— "Hm, não sei." Samantha falou, cruzando os braços. "Se formos direto para a vila, podemos cair na armadilha dele, se ele for tão bom ele deve ter deixado homens lá. Melhor pegá-lo no caminho, marchando e despreparado." 

Ricardo Cruz inclinou-se sobre o mapa, apontando para um trecho estreito da estrada. 

— "Aqui. Dois acessos, terreno elevado dos dois lados. Ele vai passar por aqui antes de chegar à vila. Se o interceptarmos, controlamos o diálogo." 

 Gunwoo, até então silenciosa, ergueu os olhos do mapa. 

— "Essas colinas têm templos abandonados. Podemos colocar atiradores escondidos." 

Ong e Narith trocaram um olhar impressionado. 

— "Ela está certa," Narith confirmou. "São ruínas antigas. Poderíamos usar, diabos, Prak pode estar usando elas."

Ong confirma com a cabeça.   — "Assim como ele pode ter homens na vila, pode ter no caminho."

— "Então nós chegamos lá primeiro," Gunwoo decidiu. "Lad’ya e Samantha se posicionam lá. Tiros de advertência, depois abrimos diálogo pelo rádio." 

— "E se ele ignorar o rádio?" perguntou Lad’ya. 

— "Aí a gente grita," Ricardo sorriu. "Nada como um pouco de pressão psicológica." 

Os Preparativos 

A equipe se dividiu: 

- Atiradores de Elite:

  - Lad’ya (posição primária, cobertura frontal) 

  - Samantha Gagnon (besta de virotes explosivos, flanco direito) 

  - Beth Brawl (metralhadora pesada, supressão) 

  - Ricardo Cruz (FN FAL, cobertura móvel) 

- Força Terrestre: 

  - Ong Son e Narith Chum liderariam os dez guerrilheiros, posicionados para bloquear a estrada. 

  - Gunwoo, Dan Ji e Yuki ficariam na retaguarda, prontos para evacuação médica se necessário. 

 

— "Prak terá quinze homens," Narith alertou. "Todos veteranos. Se ele sentir que estamos em vantagem, vai negociar. Se não…" 

— "Aí a gente dá um show," Beth resmungou, acariciando a coronha de sua PKM. 

Gunwoo olhou para o grupo, calculando. 

— "Precisamos estar no local às 02:00. Isso significa acordar à 1h." 

Ricardo confirmou com um aceno. 

— "Durmam cedo. Amanhã, ou Prak se junta a nós… ou descobrirá por que a Stargazer não perde." 

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas determinado. Cada um sabia o que estava em jogo: blindados, artilharia e, mais importante, o homem que poderia virar a guerra contra Kiri An. 

O briefing terminara, mas a noite ainda estava jovem. Sob o luar prateado, as sombras alongadas dos agentes da Stargazer e dos guerrilheiros de Narith Chum se moviam como espectros no terreno acidentado às margens de Kanpok Trach. 

Samantha Gagnon, equilibrando-se numa rocha inclinada com a agilidade de uma felina, apontou para o barranco à frente—uma subida íngreme de terra solta e raízes expostas. 

— "Prak não vai nos esperar em terreno plano. Se escorregarem aqui, morrem lá. Então não escorreguem." 

Ong Son, com seus dois metros de músculos e cicatrizes, cruzou os braços. 

— "Quem cair, volta e sobe de novo. Até não cair mais." 

---

 

A Queda e a Quarta Chance

Yuki Kagawa e Dan Ji Seok—os dois mais acostumados a hospitais do que a campos de batalha—lutavam. Na primeira tentativa, Yuki escorregara logo no início. Na segunda, Dan Ji perdeu o equilíbrio ao meio do caminho. Na terceira, ambos rolaram ladeira abaixo, cobertos de terra e frustração. 

Foi então que Yuki desabou. 

— "Não consigo... não consigo!" Ela enterrou o rosto nas mãos, os ombros tremendo. Dan Ji, suado e com os nós dos dedos brancos de tanto se agarrar às raízes, sentou-se ao seu lado em silêncio. 


Narith Chum aproximou-se, olhando para os dois com um misto de dureza e compreensão. 

— "Porra, garotos..." Ele se ajoelhou ao lado deles, a voz áspera mas sem rancor. "Eu sou um soldado. Comando soldados que marcham, atiram e obedecem ordens. Eles parecem durões, mas eles sangram. E eles morrem." 

Yuki ergueu o rosto, as lágrimas limpas pela poeira. 

Narith continuou, espetando o dedo no peito de cada um: 

— "Vocês? Vocês podem estancar o sangue deles. Podem evitar que eles morram. Não têm ideia de como são importantes na retaguarda quando os feridos começam a cair." 

Dan Ji engoliu seco. Yuki limpou o rosto com a manga. 

— "Agora subam a porra desse barranco!" Narith rugiu, mas havia um brilho nos olhos—quase paternal. 

Na quarta tentativa, Yuki agarrou-se às raízes como se fossem cordas salva-vidas. Dan Ji, ofegante, empurrou-a por trás. E quando finalmente chegaram ao topo, suados, ensanguentados, mas vencedores, até Ong Son deu um aceno de respeito. 

---

No descanso posterior, reunidos em torno de uma fogueira improvisada, as histórias fluíram como o saquê que Ricardo conseguira num cantinho da vila. Beth estava de bobeira contando piadas sobre padres e devotas gravidas quando Lad’ya quis saber um pouquinho sobre a vida guerrilheira dela.

Beth Brawl, esfregando a coronha de sua PKM, falou: 

— "Na Irlanda do Norte, a gente fazia barril de bomba com fertilizante e gasolina. Uma vez, um camarada tropeçou no detonador. Acordei com os peixes do rio chovendo em cima de mim." Ela riu, como se fosse uma lembrança de infância. 

Samantha, afiando um virote, seguiu: 

— "No Golfo da Guiné, piratas somalis atacaram nosso navio. Matei três com um arco recorvado—era o que tinha à mão. Depois descobri que eles estavam sequestrando crianças. Não me arrependo." Seus olhos frios refletiam as chamas. 

Ricardo sorriu, girando o cano de sua FN FAL: 

— "Na ALN, a gente chamava o Pará de 'inferno verde'. Uma vez, ficamos três dias comendo formiga tanajura porque o Exército cortou nossos suprimentos. Mas pegamos o coronel corrupto que mandou queimar as roças dos camponeses." Ele olhou para o céu. "Bons tempos." 

Foi então que ele se levantou, esmagando o cigarro no chão. 

— "Bom, amanhã o inferno começa de novo. Durmam. Ou vão me fazer carregar vocês no colo até a emboscada." 

Os sorrisos se dissiparam, mas a determinação permaneceu. Enquanto se dispersavam, cada um para seu canto, o vento noturno sussurrava uma verdade: 

A guerra não espera. E eles também não.

22/08/1989 Lider a ser persuadido – Sokram Prak

 


O dia começa às duas da manhã para o grupo da Stargazer e os rebeldes de Ong Son, eles marcham silenciosamente até a área marcada no mapa onde deveriam emboscar Sokram, mas uma coisa é estudar mapas, outra é estar lá. Ricardo logo notou que, das duas estradas, Sokram nunca pegaria a enlamaçada, muitas possibilidades de deixar rastros e alertar o Exército cambojano, mesmo se o caminho seja mais curto, não. Sokram usaria a estrada de britas, mas longa, mas com menos chance de alertar os cambojanos. Gunwoo pediu certeza para o parecer de Ricardo, ele a deu. Narith comandou pelo menos dois de seus guerrilheiros ficarem de olheiros na outra estrada, apenas no caso da máxima – não há certezas na guerra – se valer nesse caso.

Ao baterem a estrada eles acabaram notando que Prak avia se precavido mais do que eles haviam esperado, não só colocou homens escondidos na vila onde ele pretendia emboscar os blindados cambojanos, mas também na estrada, onde Ong Son e Samantha notaram um discreto alçapão de observação ocultado na beira de estrada, uma fina fumaça de café da manhã saia de lá se mesclando à névoa da manhã.

Felizmente, Prak não havia posto atiradores nos dois templos arruinados, mas Lad’ya e Gunwoo concordaram que seria muito óbio postar atiradores neles, no lugar, os guerrilheiros montaram decoys de palha lá, armados com velhas dragunovs descarregadas. No lugar, os quatro atiradores designados, utilizaram arvores estratégicas na área, usando um método de escalada que aprenderam dos guerrilheiros, também treinaram táticas de intimidação, como preparar múltiplas armas simultaneamente, para que quem ouça o barulho ache que existem mais soldados do que realmente há (ideia de Beth Brawl).

Prak era bom, seus soldados treinados, mas Ong Son e os membros da Stargazer eram simplesmente melhores, os atiradores se posicionaram com maestria, Narith Chum posicionou seus soldados nos lados da estrada, escondidos na névoa matutina como fantasmas, Gunwoo, agora munida com uma Dragunov sendo ela, além de tudo, uma exímia atiradora, dava suporte e proteção a retaguarda. A armadilha estava pronta, Prak cair nela não era uma questão de se, mas de quando.


Dito e feito, Prak e seus homens surgiram às 3:00 da manhã. Prak estava dentro de um caminhão carregada de frutas de dendê e acompanhado do motorista, flanqueando o caminhão, 8 homens, isso significava que ele havia distribuído 6 no caminho e na vila. Apesar de atentos, eles não tiveram nenhuma chance de detectar a armadilha.

Lad’ya, posicionado nas alturas, dentro da copa de uma árvore, observou a aproximação com sangue frio. Ele apertou o gatilho da Banshee, seu fuzil experimental anti-tanque, e a bala disparou com a força de um trovão. Quando a árvore caiu no caminho de Prak, interrompendo sua rota, foi o primeiro aviso — um estrondo colossal reverberando pela mata.


Quando a árvore caí bloqueando o caminho, Prak não perde tempo, coordena seus homens em posições de batalha e examina os arredores com um binóculo, logo encontrando um “atirador” na ruína do templo (era um espantalho, mas ele não sabia). Quando Narith, no grito fala:

“Sokram Prak! Você está cercado! Ligue seu rádio e vamos conversar!”

Prak range os dentes, e gesticula para seus guerrilheiros um movimento de pinça contra o espantalho, mas Narith o frustra ordenando seus homens engatilharem suas armas (Beth engatilha duas armas ao mesmo tempo), o barulho deixa claro para Prak que, de fato, ele está cercado tendo apenas a via traseira para a saída desonrada – a fuga. Ele ri, derrotado, notando que foi brilhantemente pego em uma armadilha, mas porque Narith faria isso? Ele liga o rádio para descobrir.

- Narith, seu traidor. – Prak fala pelo rádio. – Me explique o que é isso! É algum teste doentio de lealdade de Kiri An ou algum ato de rebeldia bêbada de ideologia e alienada da realidade?

- Nem um nem outro – Responde Ong SOn pelo rádio surpreendendo Sokhram Prak. – É uma retomada das rédeas dos Heróis do Khmer Vermelho para orientá-los para o caminho certo. E quero você conosco.

- Ong, seu maldito!? Você está vivo e aqui? – Prak fala surpreso. – Você não havia sido capturado no Japão.

Ong Son não nega. – Sim, fui capturado pela Stargazer, eles abriram meus olhos, para meus erros...

- De ter se envolvido com estrangeiros! – Prak interrompe. – Essa Stargazer está com você agora?

- Estão. – Ele responde. – Minha volta não seria possível sem eles...

Prak ri amargurado. – Não vê que está caindo no mesmo erro? Que está confiando em novos estrangeiros?

- Não me interrompa, Prak! – Ong vocifera. – Eles não são como esse Exército da Vingança, na realidade eles se opõem a eles. Como dizia, eles me abriram para a realidade de que uma luta justa deve ter soldados voluntários, e não forçados por meios vis.

- Não existem pessoas que querem ajudar terceiros sem um ganho, qual é o ângulo deles?

Foi então que Gunwoo entrou na conversa de rádio (que se passava com os interlocutores em suas posições, sem se revelar).

- Comandante Prak, sou Gi Gunwoo, diretora dessa operação da Stargazer e aliada de Ong Son. – Ela fala em francês, sabendo que Prak conhece a língua.

- Nosso ângulo é devolver Ong Son a seu lugar de direito, como líder dos Heróis do Khmer Vermelho, e lhe aviso, conseguiremos isso com ou sem o senhor.

Prak rí admirado do desafio da mulher, segurando firme o rádio comunicador.

- Mas o que vocês ganham com isso, diretora Gunwoo? – Ele pergunta em francês.

- Um aliado na Indochina contra o Exército da Vingança, um local seguro na região para nossas operações, a certeza que a região não será influenciada por plutocratas e imperialistas. Ela responde.

- Tudo muito admirável, tudo muito bonito. – Prak responde, com um tom meio sarcástico. – Mas o que vocês GANHAM.

Gunwoo solta um risinho no rádio. – Comandante Prak, no nosso ramo, informação é a mais valiosa commodity. Com a derrota do Exército da Vingança aqui, capturaremos vários de seus agentes e ativos, conseguiremos novas tecnologias, novos materiais e novas informações que valem mais que ouro para outras agências de espionagem. Tudo isso enquanto entregamos a vocês o que é de vocês por direito, exigindo em troca apenas uma via de negociações, negociações justas e sem clausulas nas entrelinhas.

Prak se impressiona com a resposta honesta e crível.

- Você é boa nisso, devo admitir... Você e sua equipe. Embora já tenha detectado dois de seus atiradores... assumo que são seis? Ele pergunta.

- Não discuto estratégia com inimigos... Vai se juntar a nós? – Gunwoo pergunta.

- Quero falar com Ong. – Ele responde seco.

-Estou aqui – Ong interrompe.

- Você me venceu na estratégia, e agora fui vencido no argumento, lhe congratulo grandão. Mas você esteve preso por meses... e não sigo líderes que não conseguem se defender. Prove que ainda é forte, meu Savate contra seu Vovinam, em território neutro, 100 metros a frente, só eu e você.

- Ong ri – Feito velho, como preciso de você vivo vou pegar leve.

Antes de Prak responder, ele gesticulou para seus homens, que baixaram as armas. O alívio foi instantâneo, e o ar tenso se dissipou.
Prak olhou para a estrada, o sorriso finalmente aparecendo em seu rosto. Ele sabia que havia sido pego, mas não perderia a oportunidade de testar Ong Son.

— "Você verá que esse velho tem novos truques na manga."

Beth Brawl e Lad’ya foram posicionados a uma distância segura para observar a luta. Não era uma questão de simplesmente assistir, mas garantir que a integridade de ambos os combatentes fosse preservada e que, se necessário, intervissem. A tensão no ar era palpável; tudo dependia da força e da decisão desses dois homens.

Prak e Ong Son, de ambos os lados da arena improvisada, removeram suas armas, as proteções e o equipamento tático. Não havia mais necessidade de armamento — era um duelo primitivo, onde a força bruta e a técnica refinada de combate seriam o único fator determinante.


Com um movimento rápido e preciso, Prak avançou primeiro. Ele corria em direção a Ong Son, a terra sob seus pés fazendo o som de batidas pesadas. Com a força de um cavalo, Prak disparou um chassé frontal — um golpe planejado para rasgar a defesa de qualquer oponente. Mas Ong Son, com a calma e precisão de um veterano, bloqueou o golpe com um movimento natural, como se estivesse apenas afastando uma brisa. Atacar a guarda de Ong foi como atacar uma muralha feita de aço: impenetrável e implacável.

Prak tentou se reposicionar, mas foi atraído exatamente para onde Ong Son queria que ele fosse. O gigante cambojano, com um movimento de incrível agilidade, o agarraram com precisão militar, fazendo Prak perceber que não havia mais espaço para escapar. Prak tentou, com toda sua habilidade, evadir-se, mas falhou miseravelmente. Ong Son, com a força de um gigante, executou seu icônico đòn chân — um golpe de pernas que, com um impulso brutal, arremessou Prak contra uma rocha.

O som do impacto foi ensurdecedor, e por um momento, Prak perdeu o fôlego. Ele ficou atordoado, os olhos girando como se estivesse tentando voltar à realidade. Ong Son, com a calma de um homem que já lutou suas batalhas, esperou ele se recompor.

Quando Prak finalmente se ergueu, a raiva queimando em seu olhar, ele rangeu os dentes. Determinado, ele se preparou para continuar a luta. Ong Son, com sua impressionante força e destreza, caiu sobre ele com um chute curto, rápido e direto, mas Prak reagiu, defendendo o golpe com agilidade e dando um passo para trás, tentando se reposicionar.

Prak, com uma fúria contida, foi para o ataque novamente, tentando agarrar Ong Son com um movimento de violência primitiva, mas Ong Son, com a rapidez de um tigre, se afastou, desferindo dois socos seguidos e, com um último chute certeiro, atingiu Prak no abdômen, fazendo-o cair de joelhos, sem forças para continuar. Prak, agora sem forças nas pernas, desabou no chão. O choque do golpe foi tão forte que ele não conseguiu se levantar.

Ong Son, sem pressa, sentou-se ao lado de Prak, seu olhar imponente e calmo, mas repleto de respeito.

"Ganhei, velho."

Prak, respirando com dificuldade, lutando contra a dor, olhou para ele com os olhos pesados e, com um sorriso amargo, respondeu:

"Você não é humano..." Ele fechou os olhos brevemente, tentando manter-se consciente. "... Você é algo mais."

Lá ao fundo, Lad’ya e Beth Brawl estavam impressionados, mas sabiam que a luta não havia terminado ainda — Prak precisava de socorro rápido. Eles chamaram Gunwoo, Yuki e Dan Ji para prestar auxílio.

Prak, respirando pesadamente, olhou para Ong Son, e com um tom de surpresa, perguntou:

"Como você treinava preso?"

Ong Son, sem sequer desviar o olhar, respondeu com uma calma de quem já enfrentou os piores demônios:

"Usando as paredes de concreto e as barras de ferro como sacos de pancada."

Prak, com um riso amargo e com dor nas costelas, deu uma risada forçada:

"Você é um semi-deus, Ong." Ele exalou profundamente. "Fico feliz em lhe dizer que estou do seu lado. De outra forma, seria o meu fim."

Ong Son, com um sorriso discreto, colocou a mão firme no ombro de Prak.

"Não sou divino, sou um homem. E preciso de um homem como você ao meu lado, camarada."

Ong em seguida se levanta para dar espaço para Gunwoo, Dan-Ji e Kagawa cuidarem de seu velho amigo.

Os demais da Stargazer, Narith e seus guerrilheiros e os soldados de Prak esperam, das névoas das 3 da manhã Lad’ya, Beth, Gunwoo, Seok e Kagawa emergem, mas mais importante. Ong e Prak emergem abraçados. Narith puxa o coro. – Prak! Prak! Prak! – Guerrilheiros de Prak e Chum se confraternizam, alternando cânticos de “Ong Son!” “Sokham Prak!” e cânticos revolucionários.

Agora, juntos, eles têm blindados para capturar. 


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