Nihon Hiro

 "Nihon Hiro"

Produção da Vulcan Entertainment. Dirigido por Mike Poser.


O Japão está à beira do colapso, corroído pela corrupção, dominado pelo crime e mergulhado no caos. A justiça é impotente diante desse abismo sombrio. Mas a nação não está desamparada. O poderoso deus Susanoo, guardião do Japão, invocou seus guerreiros! Cem jovens promissores foram escolhidos para a batalha, reunidos na misteriosa Ilha de Sarushima, na baía de Tóquio. Nesta arena implacável, eles lutarão pela sobrevivência em um kodoku mortal, onde apenas um poderá emergir como o herói supremo: o Nihon Hiro!

Prepare-se para uma competição épica de força, estratégia e vontade de ferro. Nossos lutadores usarão trajes de heróis de tokusatsu, com capacetes, luvas e trajes justos, enfrentando desafios cruéis em meio à incerteza. A ação será transmitida como uma mistura eletrizante de realidade e ficção. Aqui, a linha entre o entretenimento e a brutalidade se desfaz.

Você está pronto para assistir à verdadeira face da justiça japonesa? Acompanhe os desafiantes enquanto enfrentam armadilhas, lutam pela supremacia em territórios selvagens e provam sua força em combates ferozes. Sem regras. Sem limites. Somente os mais fortes e astutos sobreviverão.

Será que algum deles será digno de se tornar o Nihon Hiro e liderar os Nihon Senshi, a última linha de defesa contra o caos no Japão? Descubra a verdade por trás deste reality show sem precedentes, onde a fronteira entre o entretenimento e a sobrevivência está para ser quebrada!

Sarushima


Sarushima — literalmente “Ilha do Macaco” — era um paraíso natural antes da virada do século XX. Localizada a poucos quilômetros da costa de Kanagawa, a ilha era famosa por sua biodiversidade singular e por ser o único habitat de uma rara espécie de macaco endêmico do arquipélago japonês. Durante o período Meiji, a pressão por modernização e industrialização transformou radicalmente sua paisagem. Veios profundos de carvão foram descobertos sob suas colinas, e a ilha rapidamente foi convertida em um entreposto minerador.

Ao longo da Primeira Guerra Mundial e até os anos 1930, Sarushima prosperou como uma instalação autossuficiente, contendo escolas, áreas residenciais, campos esportivos, hospitais e instalações militares. A fauna foi exterminada e a flora nativa dizimada para dar lugar a concreto, aço e fumaça. Seus habitantes originais — tanto humanos quanto não-humanos — foram substituídos por operários, engenheiros e militares.

Com o declínio da indústria carbonífera no pós-guerra, a ilha foi progressivamente abandonada. Nos anos 1960, Sarushima se tornou uma ruína esquecida, parcialmente demolida por terremotos, tufões e o próprio tempo. À medida que as décadas avançaram, a vegetação começou a retomar seu lugar, enredando-se entre as estruturas quebradas. Na década de 1980, ela reapareceu nos radares — não como local turístico ou patrimônio ambiental, mas como palco sombrio de experimentos e entretenimento violento patrocinado por corporações clandestinas.


Descrição Geográfica Atual (1989)

Em 1989, Sarushima é uma ilha híbrida: parte selva, parte ruína. A superfície é irregular, composta por platôs artificiais e escarpas naturais. As regiões costeiras são abruptas, com penhascos altos no lado norte e praias estreitas e pedregosas no sul e leste. A oeste, há uma enseada calma usada como ancoradouro secreto.

A vegetação selvagem tomou posse das zonas abandonadas, especialmente ao redor das antigas minas e dos bairros residenciais. Árvores frondosas crescem sobre os telhados e raízes racham paredes de concreto. Muitas passagens foram soterradas ou bloqueadas por deslizamentos. A visibilidade é precária em áreas florestadas, e a umidade torna o terreno traiçoeiro.

Internamente, a ilha abriga uma série de túneis, minas, passarelas, ruínas de apartamentos e áreas comunitárias soterradas. Algumas dessas estruturas são instáveis ou colapsadas, outras foram reforçadas secretamente por engenheiros a serviço da Vulcan Entertainment, Pentex e seus braços armados.

DOSSIÊ CONFIDENCIAL – CLASSIFICAÇÃO NÍVEL 5 (INTERPOL / STARGAZER)

Compilado por: Yunuen Trembley Pérez
Local de operação: Kobe, Japão
Data: 13 de Junho de 1989
Alvo: Michael “Mike” Poser
Status: Ativo / Alta Periculosidade Cultural e Humanitária


IDENTIFICAÇÃO GERAL

  • Nome completo: Michael Poser

  • Codinomes conhecidos: "The Editor", "Red Reaper", “M.P.”

  • Nacionalidade: Holandês (naturalizado norte-americano)

  • Idade estimada: 34 anos

  • Profissão pública: Diretor de cinema documental e produtor de "cinema extremo alternativo"

  • Afiliado a: Eagle Eye Productions, Vulcan Entertainment (subsidiária Eagle Eye), co-produtor em diversos projetos da rede Americana e Canadense “RazorWire TV”


PRINCIPAIS OBRAS E CONEXÕES CRIMINAIS

  1. Espectros da Morte (Vol. 1 a 12)
    Série de vídeos “documentais” que simulam (ou não) mortes reais, tortura, sequestro e degradação humana. Vendidos como material jornalístico ou arte grotesca.
    Evidências forenses indicam que ao menos 4 segmentos mostram vítimas reais (dois indígenas canadenses e dois desaparecidos do Havaí).

  2. American Gladiators (Co-diretor, 1987)
    Reestruturação do programa para incorporar elementos de “humilhação ritualizada” disfarçada de esporte. Segundo denúncia de ex-funcionário da Vulcan:

    “Mike dizia que, com ângulos e cortes certos, um osso quebrado virava entretenimento.”

  3. Ilhas Silenciosas – Projeto 457-A
    Projeto de desaparecimento sistemático de indígenas nas regiões do arquipélago filipino, Palau e litoral canadense. Documentos da Eagle Eye cruzam com nomes de pessoas desaparecidas e títulos de roteiros não filmados.


ANÁLISE DE PERFIL

  • Psiquê: Narcisista, carismático, sádico funcional. Compensa a vaidade com humor autodepreciativo, criando falsa empatia.

  • Presença pública: Adorado no circuito "culto-experimental". Convidado frequente de revistas underground (Men’s Playroom, REZ, Nyctophilia). Sempre defende seus filmes como "esclarecedores" ou "provocações sociais".

  • Comportamento habitual em set: Rodeia-se de milicianos urbanos (Dreadnoks, confirmados), costuma dar ordens através de megafones como forma de reforçar sua autoridade “teatral”.


ENTREVISTA DADA A REVISTA ADULTA "MEN'S PLAYROOM"

“O Horror é Sexy”

Mike Poser fala sobre ultraviolência, cinema vérité, e o que realmente acontece atrás das câmeras de Espectros da Morte.


Apresentação

No cruzamento entre arte marginalfilme Brealismo brutalista e pornografia existencial, você encontrará Mike Poser — um homem que sorri mais do que deveria ao falar sobre sangue, sofrimento e gritos humanos capturados em 16mm. Holandês de nascimento e cidadão norte-americano por escolha e contrato, Poser é o co-criador da série cult “Espectros da Morte”, uma coleção de vídeos em VHS que causaram convulsões tanto em censores quanto em cinéfilos. Ele também é um dos nomes por trás da primeira temporada de American Gladiators — sim, aquele com menos colágeno e mais fraturas expostas.

Encontramos Poser em um estúdio abandonado nos arredores de Atlanta, vestido com jeans rasgados, camiseta branca suja de tinta spray e um par de Ray-Bans espelhados, mesmo sendo meia-noite. Ao lado, uma polaroid de um ator supostamente “morto” nas gravações.


PLAYROOM:
Mike, você parece sempre à beira de uma piada interna. O que exatamente te diverte tanto?

POSER:
[Risos] Eu gosto da ideia de que o público sempre acha que está vendo algo que não devia estar vendo. Isso me diverte. O tablado da arte não é para os tímidos. As pessoas assistem meus filmes com um olho coberto e o outro arregalado.


PLAYROOM:
Vamos direto ao ponto. Espectros da Morte—real ou falso?

POSER:
[Rindo alto] Você também vai me perguntar se Papai Noel existe? Olha, a ideia de Espectros é que tudo pareça real demais para ser verdade. Nós usamos efeitos práticos, sim, mas muito do que assusta nas minhas produções é a performance. Não há monstros — só humanos no limite. E eu sei como chegar nesse ponto.


PLAYROOM:
Então você nunca filmou uma execução real?

POSER:
Executar alguém seria barato. A ilusão é bem mais cara. Nós usamos câmeras escondidas, atores não-profissionais e muito improviso. A câmera tremendo, o som abafado — isso é intencional. É design. Eu faço teatro de guerra com orçamento de guerra fria.


PLAYROOM:
Você co-dirigiu American Gladiators. Aquilo era esporte ou sadismo estético?

POSER:
[Risos] Os dois. A primeira temporada foi crua. Era a ideia: gladiadores americanos enfrentando testes de força, ego e testosterona — com um pitada de guerra urbana. A audiência respondeu bem à violência, então a produção... exagerou um pouco. Mas era tudo espuma e coreografia, baby.


PLAYROOM:
Dizem que você teve problemas com os sindicatos por “abusos” no set...

POSER:
Ah sim, “abusos”. Olha, qualquer coisa fora do manual tradicional assusta os burocratas. Eu não sou um diretor de sindicatos — eu sou um artista performático com câmeras. Se eu quiser filmar um cara sendo atropelado por um tanque de mentira, eu filmo. Se quiser gravar um parto dentro de uma rave de necromancia industrial... eu faço. A indústria só quer controle. Eu quero o caos.


PLAYROOM:
Você tem fama de misógino. Em muitos dos seus filmes, mulheres sofrem horrores.

POSER:
Elas também causam horrores. Eu dou papéis poderosos. Faces 3 tem uma mulher que arranca os próprios dentes com alicate para escapar de um interrogatório. Isso é horror ou heroísmo? Eu acho que as mulheres nos meus filmes são mais livres do que em qualquer comédia romântica. Elas não são vítimas — são criaturas. Assustadoras, belas, invencíveis. Como minha ex.


PLAYROOM:
E quanto à crítica mais pesada: que você glamouriza a dor?

POSER:
Todo mundo consome dor. Você assiste o noticiário com café e ovos. Eu só te dou o noticiário sem o jornalismo hipócrita. Eu coloco você dentro da cena. E se você sente culpa por assistir... então talvez a culpa não seja minha.


PLAYROOM:
Você trabalha com a Eagle Eye, certo? O que é essa produtora?

POSER:
[Risos curtos] A Eagle Eye é uma produtora independente. Tem sede na Califórnia e um olhar... aguçado para o underground. Eles investem em liberdade criativa. Me deram carta branca desde o primeiro projeto. Eu posso fazer o que quiser — o que, pra mim, é o único jeito de fazer arte.


PLAYROOM:
Algum projeto novo?

POSER:
Tenho sim. Estou desenvolvendo uma experiência transmídia em locação exótica — algo com realidade aumentada, mas orgânica, saca? Os jogadores não vão saber se é atuação ou vida real. Quero mesclar game showfilme de guerra e documentário ao vivo. Vai ter sangue de mentira e emoção real. Vai se chamar... talvez Nihon Hiro.
Mas é só um rascunho... por enquanto.


PLAYROOM:
Se você não fosse diretor, o que seria?

POSER:
Empresário de boxe. Ou vendedor de caixões. Ou comediante stand-up. Tudo que envolva espetáculo e agonia.


PLAYROOM:
Última pergunta: você acredita em inferno?

POSER:
Claro. Eu já filmei lá. E a trilha sonora era excelente.


RELACIONAMENTOS

  • Vulcan Entertainment: Diretamente envolvida em tráfico de seres humanos.

  • Eagle Eye: Patrocinadora de várias de suas obras. Confirmada presença dele em reunião do board da Empresa em Seattle, 1987.

  • COBRA / Red Shadows: Cooperação confirmada em projeto experimental de “Reality War Footage”, nunca exibido.

  • Dreadnoks: Grupo paramilitar que atua como segurança e “casting agent” em áreas remotas.


INCIDENTES CONHECIDOS

  • Caso "Índigo": 1985, cinco jovens indígenas desaparecem na reserva de Klamath. Três meses depois, Espectros da Morte Vol. 7 mostra rituais com participantes “anônimos”. Uma tatuagem de família foi identificada.

  • Caso “As Ilhas que Gritam”: Em 1983, moradores de uma aldeia nas Ilhas Marshall denunciam a presença de “equipe de filmagem” que levou cinco jovens sob pretexto de gravação. Nunca retornaram.


 CONCLUSÃO

Mike Poser é mais que um diretor. Ele é um arquétipo da corrupção artística a serviço da destruição cultural e indenitário. Sua imagem pública foi construída com base em controle narrativo, brutalidade estilizada e parcerias com entidades corruptoras.
Sua captura ou exposição é essencial para desmantelar a rede de entorpecimento cultural que atua sob a fachada da “vanguarda artística”.


RECOMENDAÇÃO STARGAZER:
Evitar confronto direto. Alvo é carismático, mas perigoso.
Identificar e interceptar rotas de captura humana ligadas à Vulcan.
Obter material bruto de seus projetos – pode servir como evidência e instrumento de exorcismo mediático.

 
Assinado,
Yunuen Trembley Pérez
Agente Especial (Stargazer)
Divisão de Reconhecimento e Mobilidade Estratégica
13/06/1989 – Kobe, Japão


Operação Jogo Mortal

A Operação Jogo Mortal foi viabilizada pelo sucesso da Operação Popstar, liderada pela operativa Mari Azai, com o apoio da agente Yunuen Perez e da agente Rey Ichiyama. Com base nos resultados obtidos na Operação Popstar, a Força-Tarefa Stargazer identificou uma janela de oportunidade para infiltrar agentes no reality show "Nihon Hiro," uma fachada para o tráfico humano e recrutamento forçado para o Exército da Vingança e outras operações criminosas.

Coordenação e Equipe
A operação será coordenada pela agente líder Yunuen Perez, com os seguintes agentes e operativos envolvidos:

  • Operativa Charlotte
  • Operativa Mari Azai
  • Agente Rostov (GIAF)
    Além disso, infiltrados entre os participantes do Nihon Hiro estão:
  • Agente Cósmica (GIAF)
  • Colaboradores civis: Douglas Rock, Frederico Nakajima, Mary Kingston e Wilssen De Jong

Apoios adicionais:

  • Investigador Jun Harada, da Polícia Metropolitana de Tóquio, coordena uma operação paralela da Guarda Costeira para intervenção após a coleta de provas suficientes.
  • Agente Amélie Boucher oferece apoio estratégico e investigativo, se comprometendo em encontrar e remover qualquer elemento corrompido dentro da operação da Guarda Costeira ainda que limitado, dada a necessidade de manter seu disfarce.
  • Agente Rey Ichiyama irá auxiliar Agente Boucher em sua missão.
  • Superintendente Mayu Nakayama, da Polícia Metropolitana de Osaka, está fornecendo recursos e cobertura tática em momentos chave.

Objetivos da Operação

Objetivos Primários

  1. Desmantelar o programa Nihon Hiro:
    Coletar evidências legais e substanciais suficientes para encerrar o programa Nihon Hiro e associar os crimes às gangues Black Warriors e Dreadnoks, atuando principalmente em Tóquio e Nagoya. Essas evidências devem incluir:
    • Relatos de sobreviventes (preferencialmente com testemunhos gravados)
    • Documentos jurídicos, fiscais e contratos
    • Provas físicas e digitais (vídeos, fotografias, gravações de áudio)
    • Registros detalhados de transferências de dinheiro, propriedades e tráfico de pessoas.

Nota: Evidências sobre o envolvimento da Vulcan Entertainment e da Eagle Eye Entertainment, empresas que podem estar ligadas a Star Corp, são cruciais para expor a conexão empresarial com as operações ilegais e ampliar o impacto internacional da operação.

  1. Garantir a segurança e o resgate dos agentes e colaboradores:
    Prioridade máxima para garantir a sobrevivência e extração de todos os agentes, operativos e colaboradores civis infiltrados.

Objetivos Secundários

  1. Resgatar o maior número de vítimas:
    Embora a proteção das vítimas seja crítica, o resgate delas não pode comprometer o sucesso dos objetivos primários ou colocar em risco a segurança da equipe operacional.
  2. Capturar Abobo:
    Líder dos Black Warriors, Abobo representa uma ameaça significativa, mas sua captura não é essencial para o sucesso da operação. A captura deve ocorrer apenas se for possível sem comprometer as evidências ou os agentes envolvidos.
  3. Capturar Zanzibar:
    Líder dos Dreadnoks no Japão e piloto do "Tubarocopteroplano”, Zanzibar é uma peça-chave no tráfico de pessoas entre o Japão e a Coreia do Sul. Sua captura seria benéfica, mas, assim como no caso de Abobo, a prioridade é obter provas de sua conexão com o tráfico e os crimes relacionados.
  4. Capturar Mike Poser:
    Diretor do Nihon Hiro e responsável pela produção dos vídeos criminosos, Poser é um alvo secundário de grande relevância. Sua captura poderia desmantelar a operação de filmagem e a distribuição dos conteúdos criminosos, mas deve ser feita apenas se não comprometer a missão principal.

Possíveis evidências adicionais:

  • Dispositivos eletrônicos com registros de filmagens e transmissões
  • Ordens de pagamento e transferências bancárias
  • Planos de logística para tráfico de vítimas entre países
  • Comunicações entre membros da Vulcan Entertainment, Eagle Eye e gangues envolvidas.

Equipamento Disponível para a Operação

  1. Infiltração:
    • Lancha rápida para inserção inicial (agente Yunuen, operativa Charlotte, operativa Mari e agente Rostov)
  2. Equipamento de Comunicação:
    • Walkie-talkies
    • Laptop e telefone celular DynaTac
  3. Equipamento de Vigilância:
    • Câmera de vídeo, três máquinas fotográficas, gravadores de áudio
  4. Equipamento de Proteção e Combate:
    • Colete à prova de balas camuflado, capacete camuflado
    • Equipamento de combate padrão (carregado por Yunuen)
    • Armas pessoais de Mari Azai (socos ingleses)
    • Armas de Yunuen (atlatl, machadinha tática Tomahawk, lança customizada)
  5. Equipamento Pessoal:
    • Walkman e fitas musicais de Mari Azai (usados para comunicação secreta)

Sugestão de Equipamentos Adicionais:

  • Equipamentos para hacking ou bloqueio de transmissões eletrônicas (para impedir que evidências sejam destruídas)
  • Medicamentos e kits de primeiros socorros avançados para as vítimas e agentes
  • Flares de sinalização para chamar a Guarda Costeira em caso de emergência.

 

Charlotte, Mari e Yunuen chegam em Tóquio de trem, Yunuen, cansada, pede que Mari e Charlotte lidem com o taxista dessa vez. Mari pediu que o taxista levassem elas até o porto.

Ryan Goveia

No porto, elas se dirigiram até o depósito onde a operação da guarda costeira acontecia. Lá, se encontraram com Rey Ichiyama, Vostok e Ryan Goveia, Goveia se desculpa por Boucher, porque ela não pode vir, mas mandou ele no lugar. Yunuen pergunta se ela está bem, e Goveia responde bem-humorado, que depois da operação deles, tem certeza que ela vai ficar. Mari e Charlotte perguntam que operação é essa e ele fala que é espancar uns bandidos que pensam que estão montando uma armadilha para ela.

Rey parecia exausta, mas com um brilho no olhar, como quem já aceitou o caos da situação e até se diverte com ele e Mari a elogia dizendo que ela parece menos suada.

Rey, Goveia e Vostok informaram que investigaram o depósito com ajuda de Jun Harada e falaram que o possível informante dos Black Warriors é detetive da guarda costeira detetive Hinami – Rey chegou a o fotografar conversando com um do líderes dos Black Warriors, o gangster conhecido como Ron Roper.

Após tirarem algumas dúvidas e pedir melhores esclarecimentos, Goveia se despede e vai embora ajudar Boucher, Rey avisa que vai ficar cuidando e vigiando o bote, indo embora de bicicleta, Vostok se une a elas e expressa certa preocupação com Cósmica, embora acredite que ela possa se cuidar sozinha. Em um rompante paternal, ele diz que adoraria que Cósmica fosse amiga de Charlotte e Mari. Charlotte não gostou da ideia e deixou a impressão passar, Charlotte não gostou da ideia, mas deixou a impressão passar. Mari a censurou, lembrando que estavam com o pai de Cósmica. Acrescentou que, apesar de estranha, Cósmica era bem legal, e que a considerava amiga — só não sabia se ela sentia o mesmo. Vostok disse que tem certeza que ela adora Mari e disse a Charlotte que ela só estava com aquele humor no avião porque ele estava presente. Curiosa Charlotte pergunta porque, Mari disse que acha que é birra de filha com pai, e Vostok concorda. Charlotte diz que ela é uma jovem e depois se toca que ela também é, mas diz que vai dar uma chance para ela. Finalmente Yunuen pergunta “Acabou? Podemos voltar a missão?”

Detetive Harada

As três e Vostok entram no depósito e falam com Detetive Harada. Ele se sente mais à vontade em conversa com Mari, mais é cordial com todos. As detetives e Vostok pedem uma reunião secreta, e ele diz que podem fazer isso nos fundos do armazém.

Se encontrando lá, um espaço apertado entre a parede do armazém e uma cerca gradeada do cais, as três e Vostok falam sobre Detetive Hinami – possível informante dos Black Warriors. Harada fica entristecido, mas não exatamente surpreso, explica que Hinami está com dificuldades financeiras devido a uma compra de nova casa para sua família com esperança de que o bônus de fim de semestre fosse gordo, mas não foi tanto assim. Acabou ficando em divida com a imobiliária, e possivelmente a imobiliária tem relação com os Yakuza, que repassaram essa informação para os Black Warriors. Eles discutem o que fazer com Hiname. Eles discutem o que fazer com Hinami. Vostok e Yunuen acreditam que ele pode ser perigoso demais — e que o melhor é 'removê-lo'. Charlotte concorda, mas hesita, sem saber exatamente o que 'remover' implica. Harada e Mari não gostam da idéia, Harada por ter Hiname como um amigo, e Mari porque acha que ele foi persuadido, enganado, mas que não se sabe se ele aceitou ainda falando inclusive que se “remover” ele, o que quer que isso signifique, pode alertar os Black Warriors que algo está errado.

Eles decidem então emboscar Hinami no velho cais abandonado da Segunda Guerra Mundial. Harada inventaria que marcou um encontro com alguns agiotas, recomendados pelo gerente do banco, para resolver sua dívida. Eles também concordam, que irão questionar Hiname, e dependendo de suas respostas, irão decidir o que fazer com ele.

Detetive Hinami

Charlotte, Mari, Vostok e Yunuen chegam no porto primeiro no carro de Vostok, um Volvo 740 GLE preto. Harada chega com Hinami depois, em um Honda Accord sedan verde musgo. Harada vai acompanhando Hinami até o meio do encontro e ele vai falando para Harada que não precisava daquilo, ele ia se arrumar sozinho, mas Harada reiterando que já havia arranjado a reunião, então valia a pena ouvi-los. Então Vostok liga os faróis altos de seu carro, criando uma atmosfera intimidadora. Yunuen é direta, perguntando a ele logo se ele traiu Harada ou não. Confuso, Hinami pergunta por que esses agiotas são meninas, e que história é essa de traição. Mas o aperto no ombro que Harada dá é firme, indicando a Hinami que ele não tem para onde ir. Harada pergunta para Hinami se ele andou conversando sobre a operação dele com os Black Warriors. Mari se junta, dizendo, com jeito, que elas tem as fotos dele com um dos lideres deles, Ron Roper. Sem saída, Hinami confessa que estava conversando sim, mas não aceitou. Fala sobre o problema de dívida imobiliária e como isso chegou aos Black Warriors e como Ron Roper disse que a divida sumiria se ele apenas dissesse para eles tudo que ocorresse na operação da guarda costeira. Yunuen, farejando o ar, não detecta sinais de dissimulação e afirma que ele está sendo honesto. Mas Rostov e Charlotte ainda afirmam que ele não pode ser confiável. Porém, num rompante de arrependimento, Hinami se ajoelha e diz querer se redimir e fala tudo sobre o local que os Black Warriors se firmaram e onde eles o esperam, o Bar da Marinha. Esse bar era popular entre veteranos e aposentados da marinha, mas que foi tomado pelos Black Warriors e onde ele deveria se encontrar com eles. Hinami sugere que pode juntar um grupo bom de homens de confiança da Guarda Costeira e irem lá a paisana acabar com eles.

Eles se reúnem e consideram a ideia de Hinami Harada fala que é possível sim Hinami juntar uns quatro, que com ele, seriam seis homens da guarda costeira. Somados com Charlotte, Mari, Vostok e Yunuen dariam dez no total. Os polícias ocupariam os gangsters e os investigadores partiriam para cima dos líderes. Eles iriam a paisana para fazer a invasão extra-oficial, uma necessidade para não se alertar os Ichiwakage-gumi – os aliados Yakuza dos Black Warriors, ir em caráter como a Guarda Costeira seria prova para os Yakuza de que a guarda costeira está tramando contra eles. No caráter à paisana, eles poderiam passar por marinheiros zangados com a invasão dos Black Warriors.

Mari arregala os olhos, formando um “o” com a boca, e exclama:
— “Já que vamos nos passar por marinheiros… por que não chamar marinheiros de verdade para ajudar?”

Maeda “Senshi Ojo” Imura

Em seguida, ela começa a contar a história de como conheceu Maeda “Senshi Ojo” Imura, um marinheiro com quem se tornou amiga. Durante uma investigação sobre carregamentos suspeitos no porto, Mari descreveu para ele a tatuagem dos criminosos que descarregavam equipamentos de filmagem e logística destinados à ilha Sarushima. Maeda, ao ouvir, recusou-se a ajudar, dizendo que aqueles homens eram perigosos demais e que não queria ver uma mulher se machucando.

Mari riu da preocupação e respondeu com firmeza que sabia se defender. Maeda caiu na risada e desafiou:
— “Se conseguir me vencer, eu acredito.”

Eles lutaram ali mesmo — e Mari saiu vitoriosa, ainda que por pouco. Convencido, Maeda a ajudou a identificar as tatuagens, o que levou Mari a descobrir que, além dos Black Warriors, os Dreadnoks também estavam envolvidos. Ao encerrar sua história, ela sorri confiante:
— “E foi assim que viramos amiguinhos! Acho que consigo convencer o Maeda a reunir uns marinheiros... de verdade! Aí juntos vamos pocar os Black Warriors e recuperar o Bar da Marinha.”

Eles então decidiram dividir o grupo, Yunuen e Vostok iriam escoltar o bar da Marinha enquanto Charlotte e Mari iriam até Yokosuka, no porto da Autodefesa Japonesa, próximo da Base Americana de Yokosuka.

Mari e Charlotte vão de metrô e depois pegam um ônibus, aonde finalmente chegam no porto. Com malandragem, Mari se passa por “namorada do Maeda”, dizendo que Charlotte é amiga dela, o truque funciona e elas ganha acesso ao porto, onde saindo perguntando, descobrem que Maeda está na cafeteria do navio destroyer Yamagiri. Clamando para o tenente do navio que buscava Maeda para perguntar por que ele não apareceu no encontro que eles marcaram, Mari e Charlotte ganharam acesso ao navio, onde foram até a cafeteria e encontraram um surpreso Maeda, que não esperava que além de durona, Mari conseguiria entrar em um navio militar só no papo... e levando uma criança junto.

Destroyer Yamagiri


Mari explica para Maeda “Senshi Ojo” Imura sobre o que está acontecendo, os Black Warriors tomaram o Bar da Marinha, onde aposentados da marinha se encontravam. E fala que a guarda costeira vai atacar lá para expulsar a gangue. “Daí me perguntei se a marinha ia deixar barato e deixar a diversão toda para o pessoal da guarda costeira.” Ela provocou.

Maeda disse que não mesmo, e que iria levar mais gente que a guarda costeira.

Imura acabou por levar 6 outros marinheiros consigo.

Mari e Charlotte retornam com a boa notícia, e se encontram com Vostok e Yunuen, notam que Vostok está ferido, Yunuen explica que Vostok “é um louco” e entrou no bar para examinar por dentro, fingindo ser um cidadão comum querendo beber um pouco sem entender que tinha entrado em um antro de criminosos. Vostok fala que não foi nada e valeu a pena, pois agora eles sabem os números de gangsters lá dentro e que eles estão preparados para uma reunião, em peso, com mais de 20 para intimidar, mas não estão esperando resistência.

Na esquina do bar da marinha, os cinco da guarda costeira se encontraram com os sete marinheiros e os investigadores. Os marinheiros fizeram pouco dos investigadores “É tudo menina e só um homem?” No que Maeda retruca apontando para Mari. “Aquela alí me espancou e eu posso espancar vocês tudo!” E charlote fala. “E eu posso vencer vocês sem quebrar minha unha.” O que fazem os marinheiros rirem mas Mari fala. “Essa daí certeza que me vence, e eu venci do Maeda, que vence de vocês tudinho!”

 Vostok e Yunuen explicam para os grupos todas as entradas e saídas do bar, também onde os líderes se encontram, em uma grande mesa aguardando a chegada de Hinami. Existe uma entrada frontal e a dos fundos. Cada entrada está defendida por quatro gangsters Black Warriors e a mesa dos líderes está localizada mais próxima da entrada principal. Vostok e Yunuen desenham o mapa do bar para o grupo: uma entrada principal, outra nos fundos. Cada porta é vigiada por quatro Black Warriors, e a mesa dos líderes fica perto da frente, aguardando Hinami.

O plano: investigadores e guarda-costeiros entram pela frente; os policiais seguram os capangas enquanto os investigadores avançam nos chefes. A marinha ataca pela porta traseira. Há um momento de disputa – os marinheiros queriam o “show” da entrada principal –, mas acabam cedendo. Takeshi “Iron Whale” Morimoto ergue a chave inglesa e sorri:
— “Relaxa. A gente arrebenta pelos fundos e ainda abre a porta da frente pra vocês!”

Os preparativos têm início.
A guarda costeira veste um equipamento padronizado: jaquetas pesadas — não blindadas, mas grossas o bastante para absorver impactos —, calças jeans e bastões de madeira simples e eficazes.

— “Vocês ainda parecem policiais.” — faz pouco Yunuen, enquanto abre seu estojo de lacrosse e monta sua intimidadora lança-flecha maia. Ela tira a jaqueta, revelando braços e peito tatuados com jaguares, guerreiros, flores, serpentes e pássaros maias.

Mari ajusta seu walkman na calça jeans, fones nos ouvidos, cantando trechos de Scorpions e David Bowie. Calça um soco inglês, prepara o bastão telescópico e começa a fazer shadow boxing.

Charlotte ajusta seu pequeno guarda-chuva — na verdade, um bastão metálico disfarçado. Vostok calça dois socos ingleses e aquece os músculos com socos no ar.

Enquanto isso, Hinami e Harada reparam que a guarda costeira não veio para brincadeira.

Maeda ‘Senshi Ōji’ Imura é o mais leve em armamento, com dois socos ingleses.
Iron Whale Morimoto carrega uma chave de navio imensa como se fosse um porrete.
Shigeru “Torpedo Fist” Yamane, o mergulhador, empunha uma faca de combate.
Hajime “Boom-Boom” Arakawa, especialista em demolições, traz um alicate de partir correntes e uma bolsa de explosivos.
— “Ei cara, você não vai usar esses, né?” — pergunta Mari. Ele só sorri como um maníaco e dá de ombros.
Daigo “Echo” Funakoshi, especialista em comunicações, trouxe sua Shinn Guntō — o sabre militar dos oficiais.
Riku “Rust Buster” Tanabe, oficial mecânico, segura um machado de incêndio... e claramente não é para abrir portas.
Masaru “Silent Tide” Kurosaki, o sniper do navio, carrega um arpão militar, pronto para ser usado como lança.

Preparados, os grupos se separam.

A guarda costeira avança ombro a ombro pela rua até o Bar da Marinha. Os investigadores logo atrás.
Os Black Warriors percebem a aproximação e começam a se mover, sacando correntes, porretes e facas.
Os homens da guarda costeira gritam “BANZAI!” e avançam com ímpeto.

Um rugido semelhante ecoa pela entrada dos fundos.

E assim começa a batalha pelo Bar da Marinha.



A guarda costeira se choca com os Black Warriors, trocando golpes de porrete. Oficial Ryoto, agarra um deles pela jaqueta e o usa como aríete para arrombar a porta. Os investigadores entram no recinto. O bar da marinha, um espaçoso estabelecimento antes decorado com motivos navais ainda retém parte de sua decoração original, porém quadros e fotografias vandalizadas. No lugar, bandeiras da gangue Black Warriors foram estiradas e decoração duvidosa de partes de motos e cápsulas de balas tomaram o lugar. Os black Warriors parecem loucos, muitos tem o cabelo tingido com tons de fogo e quase todos possuem intimidadoras tatuagens. O mais interessante, é que muitos não são japoneses, confirmando a informação da Stargazer que eles são originários de New Jersey, Estados Unidos. Elvis Presley cantava “Jailhouse Rock” pela Juke Box do bar quando eles entram.

Logo os líderes black warriors se levantam. Williams, um americano forte e tatuado, usando uma jaqueta e calças azuis e luvas reforçadas. Ron Roper, um alto homem negro de cabelos espetados pintados de vermelho, peito nu de músculos esbeltos e definidos cobertos de tatuagens de gangue, um olhar tão frio quanto seu taco de baseball metálico. Linda Lash, uma provocante dominatrix em látex decotado e um chicote. Chin Taimei, um misterioso lutador Taiwanês de atlético e coberto de cicatrizes, desejoso por uma luta e, fazendo sombra em todos eles, o gigante Abobo, com seu corpo repleto de músculos quase impossíveis e seu icônico bigode fu manchu. Abobo grita: “Vamos proteger a muamba! Vocês acabem com esses desgraçados!” Fazendo os líderes partirem e debanda para uma porta no fim de um corredor, apenas Williams ficando para trás para coordenar a defesa na parte superior.

Linda Lash, Roper, Abobo, Williams e Chin Taimei


A guarda costeira invade em peso, se digladiando com os capangas. Por trás, os marinheiros fazem o mesmo, suas armas subindo e descendo contra as armas dos capangas.

Mari não deixa barato, corre para cima de Ron Roper que fugia e desfere nele uma cotovelada. “Tá amarelando, fujão?” Ela provoca.

Vostok abre caminho até Mari, espancando com dois socos um capanga que ousou se colocar em seu caminho.

Charlote entra, nota que o bartender está se armando com um rifle de trás do balcão e lança sua canção hipnotizante, fazendo-o parar. Yunuen, que se lança para abrir caminho até Mari em um dropkick que apaga um capanga, nota que outro está se aproximando de Charlote, e o ataca com uma acrobática ombrada.

Williams encontra Vostok e os dois iniciam um duelo.

Chin Taimei se amaldiçoa por ter que recuar, ainda mais quando Mari consegue o alcançar e socar seu flanco. “E aí, china? Não que brigar não ou é só um tigre de papel?” A brasileira provoca, fazendo ele proferir uma promessa de vingança.

Williams desfere golpes pesados contra Vostok, nos quais o soviético facilmente se esquiva e troca seus igualmente pesados mas mais eficazes socos, fazendo o líder Black Warrior perder o folego quando é atingido na boca do estômago.



Charlotte consegue encantar o bartender no momento em que ele mirava em Mari, ele para bobo ouvindo a canção.

Ringo, o cachorrinho dos investigadores, late entusiasmado por trás da proteção de seus mestres.

Yunuen continua com seus acrobáticos e pesados golpes contra os capangas, na esperança de abrir um corredor que ligue eles a Mari que está avançada. Enquanto isso, Abobo arromba a porta dos fundos do corredor com uma ombrada, e Linda Lash desaparece nas escadas atrás dela.


Vendo que se adiantou muito, e que não vai conseguir pegar os líderes sozinha, Mari parte para cima dos capangas afim de ajudar a criar o corredor de passagem. Ela canta “Here I am, Rocking like a Hurricane!” enquanto desfere chutes giratórios como se fosse um furacão de chutes contra vários capangas.

Charlotte manda o bartender tentar jogar a arma no alvo de dardos. Ele obedece, mas erra o alvo ficando triste. Yunuen quebra as costelas de um capanga o jogando contra sua própria coxa.

Após arremessar a arma, o bartender consegue sair do encanto de Charlotte. Ele então alcança debaixo do bar uma granada. Vendo o perigo, Yunuen é tomada por fúria momentânea, seu sangue de deusa Jaguar se manifesta e ela salta de forma assombrosa contra o bartender e enterra sua lança flecha em seu pescoço, atravessando o corpo dele até atingir o coração.

Neste interim, Vostok terminou de surrar Williams, a guarda costeira e Mari finalizam os últimos gangsters e charlote ordena uma gangster a se render com sua melodia. Nos fundos, os marinheiros estão cortando em pedaços o último de seus oponentes que tentou alcançar uma espingarda na parede.

Com o bar tomado, Harada avisa que mais gangsters estão vindo em socorro. Os investigadores descem as escadas dos fundos em perseguições dos líderes fugitivos enquanto marinheiros e guarda costeira ficam a postos para enfrentar os reforços.

Os investigadores tinham feito o dever de casa. Sabiam que aquela escadaria levava a um antigo museu particular — uma homenagem ao passado pesqueiro e à Marinha japonesa, criado por um dono anterior do bar. Mas o que viram ao descer foi outra coisa.

O museu havia sido transformado numa casa de jogos de azar clandestina — e jogos de azar são ilegais no Japão.

Entre fichas, sacos de dinheiro e cadernos de contabilidade, estavam três dos quatro líderes restantes dos Black Warriors: Linda Lash, Chin Taimei e o brutamontes Abobo.

Yunuen, que enxergava melhor no escuro, fechou os olhos por um instante e usou a telepatia de Charlotte para avisar a todos:

"Ron Roper está na próxima sala. Está vasculhando tambores de munição."

O clima ficou tenso.
Abobo, ao vê-los, soltou um rugido:

“Chega! Agora mataremos todos vocês!”

Chin Taimei estalou os punhos:

“Finalmente, a luta que eu esperava.”

Mari sorriu, provocando:

“Ei, Abobo! Lembra do Oichi Top Six que te espancou uns meses atrás? Eu sou a única Top Six que ainda não te espancou!”



E o combate começou.

Mari avançou em disparada na direção de Ron Roper, que surgiu carregando sobre a cabeça um barril de munições.
Charlotte posicionou-se ao centro da sala, braços estendidos, pronta para conjurar sua música-arma. Ringo, o cãozinho da Stargazer, ficou logo atrás dela, latindo furiosamente.

Chin Taimei correu em direção a Vostok, mas foi interceptado por Yunuen, que saltou entre os dois.
Linda Lash estalou seu chicote em direção a Mari, mas a brasileira se esquivou com um giro veloz.

Ron arremessou o barril, mas Mari o interceptou com um uppercut no queixo, seguido de um chute giratório acrobático enquanto gritava, com fones no ouvido:

🎵Fall fall fall fall out of the sky!” — The Cure 🎵

O líder Black Warrior foi arremessado contra uma pilha de cadeiras, rugindo de dor.


Vostok
enfrentava dificuldades contra o colosso Abobo. Seus socos ricocheteavam como se atingissem pedra bruta.
Quando o gigante ergueu o punho para esmagá-lo, Charlotte cantou uma nota poderosa, congelando Abobo por um instante.

Chin, percebendo a ameaça de Charlotte, avançou contra ela —
Mas Yunuen, mesmo ferido por uma chicotada de Linda, lançou um dropkick brutal, atingindo o taiwanês no peito e entortando-lhe o equilíbrio.

Vostok, vendo Abobo momentaneamente atordoado, aproveitou e desferiu uma sequência rápida de socos no tronco do gigante.

Linda recuou, preparando um golpe especial —

Flash Lash!

Mas Mari saltou por cima do chicote, girando no ar, e desferiu dois socos e um chute com precisão. No ar, cantarolou com escárnio:

🎵We will, we will rock you!🎵

Abobo, ainda zonzo, errou um soco que teria esmagado o tórax de Vostok. O russo só pôde recuar.

De saco cheio de Linda, Yunuen partiu para cima com outro dropkick de dois pés, derrubando a mulher com força no chão.

Ron Roper se ergueu do entulho, sacou um taco de beisebol e gritou:

“Essa aí luta como os malditos Lee!” — apontando para Mari, estupefato.

Chin, também recuperado, se lançou contra Mari e conseguiu acertar um soco rápido e preciso no estômago dela.
Ela cambaleou, mas recuperou a postura com um sorriso feroz, e devolveu com um soco alto no nariz e um chute baixo no joelho:

Hey! Ho!

Chin caiu com o impacto.

Enquanto Vostok ainda segurava firme contra Abobo, Charlotte entoava versos de poder, dando-lhe apoio moral e místico.

Yunuen correu até Ron Roper e, com sua lança, perfurou-lhe a coxa. O líder Black Warrior caiu, uivando de dor e perdendo a consciência.

Charlotte, decidida a acabar com Abobo, começou a cantar um soneto de rendição, uma melodia tão profunda e hipnótica que o gigante caiu de joelhos, perdido, com os olhos marejados.

Linda Lash tentou recuperar o chicote, mas Mari a interceptou no ar com uma cotovelada precisa no queixo:

“Vai dormir, lambisgoia.”

Linda obedeceu — pela força do impacto.

Por fim, Yunuen se aproximou de Abobo e, com um golpe firme, chutou o joelho do brutamontes para o lado oposto, deslocando-o com um estalo grotesco.

Abobo rugiu de dor, mas logo depois caiu, vencido.

“Eu… me rendo…” — sussurrou, antes de desmaiar.

Os investigadores descobrem pelos documentos de contabilidade que os Black Warriors estavam envolvidos em tráfico de armas e tinham cadernetas com nomes de pessoas na polícia que foram pagas para “olhar para o outro lado” e de pessoas “recrutadas” para o show Nihon Hiro.  

Renderam os quatro líderes, prendendo-os e obrigaram eles a levarem eles até os tuneis do Bar da Marinha, que, pelos os esgotos, levavam até um armazém com um furgão à espera. Vostok conduziu o furgão enquanto Yunuen, Mari e Charlotte questionavam os Black Warriors.

Eles admitiram que a ida deles até Tóquio não estava nos planos, que a ideia era que eles dominassem Nagoya e levassem, convencendo ou de forma forçada, pessoas com potencial atlético, como atletas, lutadores, ginastas, todos eles às margens da sociedade, estrangeiros, indonésios, indianos, indochineses, coreanos, polinésios, mestiços, punks, desempregados ou párias – pessoas que a sociedade não sentiria falta – para serem usadas no Nihon Hiro.

Eles não sabem como será o programa, mas sabem que os Dreadnoks estão encarregados da segurança do evento e também da manutenção de equipamento e “consultoria” das provas. Como a Stargazer teorizava, eles também confirmam que os Yakuza Ichiwakage-gumi estão ligadas a tudo isso, eles foram o motivo dos Black Warriors terem ido a Tóquio – para ajudar os Ichiwakage-gumi, na luta contra os Yakuza Yamaguchi-gumi, que conseguiram uma cabeça de ponte na cidade com Hanayama.

Chin Taimei se diz surpreso com o estilo de luta das três, em especial de Charlotte. “Usa energia chi de forma especial, pequena. Estilo Psíquico, não?” E ainda emenda. “Muito poder para uma criança, se és pelo menos viva.”

Charlotte responde de forma a não confirmar nem negar.

Mari fala. “Ia, sabichão, fica na tua cara, se toca!”

Finalmente, eles falam da surpresa que tiveram em ver Mari lutando, pois seu estilo é único dos irmãos Lee de Nova Jersey – o Sousetsuken. A surpresa veio porque eles imaginavam que apenas os irmãos Lee dominavam esse estilo morto. Mari diz para eles que existem então quatro pessoas que sabem esse estilo, que se chama Hitotsu no Shinjitsu Ryu e não Sousetsuken, ela, a mãe dela e esses irmãos Lee. Ela fica se perguntando se ela deve ter algum parentesco com eles. “Será que são meus irmãos? Um é Jimmy, outro é Billy – eles gostam de usar diminutivos. Eu sou Mari, de Mariana – também uso diminutivo!” Ela faz um “o” com a boca. “Talvez sejamos mesmo irmãos!”

Eles param o carro na fronteira de Tóquio, no meio do nada. Yunuen os solta e explica aos líderes Black Warriors que eles falharam com o Exército da vingança, os Dreadnoks e os Ichiwakage-gumi, e devem saber melhor que ela o que acontece com aqueles que falham com esses. “Vocês perderam milhões em armas deles, vocês acham que eles vão deixar vocês viverem por tempo bastante para se explicarem? Sumam, voltem para a merda dos Estados Unidos. Se eu ver algum de vocês novamente, vocês vão desejar terem sido mortos pela Caveira Dreadnok”. “O que é essa caveira?” Vostok pergunta. Mari fala “chi, lí no relatório do Tanaka e do Tyron...” Yunuen então procede a descrever: “ a Caveira Dreadnok é uma forma de execução, onde a vítima é colocada dentro de uma jaula de palha ou madeira em forma de crânio e a madeira é ateada em chamas... dizem que as vítimas parecem dançar em agonia no fogo”. Os líderes empalidecem. Ninguém discute. Descem e se perdem na escuridão da estrada.

O grupo retorna para Tóquio com provas, reforço da ligação dos inimigos e perguntas ainda maiores — e a certeza de que a guerra contra a Star Corp acaba de esquentar.


O plano agora era descansar antes da infiltração na ilha de Sarushima, no dia seguinte.
Yunuen instruiu Vostok a levá-los em seu Volvo 740 GLE até um hotel chamado Chantilly Akasaka. O carro serpenteou pelas ruas escuras do bairro, até parar diante de uma construção que parecia saída de um conto de fadas decadente: torres em miniatura, iluminação rosa-salmão e uma fachada de pedra falsa com o letreiro
シャントリー赤坂 em néon azul.

Vostok encarou o lugar e franziu a testa:
— Temos certeza de que este é o local? — perguntou, com o sotaque carregado.
Mari e Yunuen já estavam fora do carro. Yunuen virou-se para ele, confiante:
— Claro que sim! É esse o hotel.

Ele examinou melhor a entrada decorada com coraçõezinhos de acrílico e um cartaz mal traduzido que dizia “You relax. We clean. Welcome to Love!”.
— Uh... mas este não é um Love Hotel?

Yunuen olhou para ele como quem responde uma pergunta absurda:
— É muito mais barato e discreto do que hotéis comuns. E os quartos são enormes. Sério, você vai me agradecer depois.

Vostok apenas deu de ombros, resignado.
— Sua operação, suas regras.

Por segurança, todos estavam falando em inglês — até entre si —, uma medida combinada para despistar escutas e confundir qualquer ouvinte indesejado. Charlotte foi a primeira a notar que os painéis de seleção de quarto ficavam ao lado de espelhos espelhados que escondiam o rosto do atendente. Yunuen seguiu direto ao painel, escolheu dois quartos no oitavo andar, e pagou em dinheiro por uma fenda horizontal metálica.

Virou-se para Vostok:
— Quer dormir com a gente ou separado? Tem espaço pra todos. A cama é gigante, tem puff, sofá e o carpete é bem fofo.

Ele pigarreou:
— Acho que prefiro deixar vocês com sua... privacidade.

— Aaaah! Pensa só! — protestou Mari, com olhos brilhando de travessura.
Ela começou a dançar com um gingado hip-hop improvisado e sensual, balançando os braços e cantarolando:
Um homem, duas mulheres, uma criança e cachorrinho aconchegadinhos juntinhos em conchinha!

Charlotte estremeceu.
— Eu vou contar pro seu namorado!

Mari fez uma cara de choque exagerado:
— Ah é! Eu tenho meu namoradinho!
Depois se virou teatralmente pra Charlotte:
— Nãããão! Fala nãããooo!

Vostok deu um sorrisinho sem graça e respondeu apenas:
— Uh, não, obrigado.

— Você que perde! — retrucou Yunuen, dando uma piscadinha.

Antes de subir, ela ainda aproveitou um pacote promocional com jantar incluído — rosbife e salada césar, que Mari desejava há dias — e rachou a conta com Vostok.
— Aí vale a pena vir pro Love Hotel mais caro de Tóquio: com o soviético pagando metade, cortesia da KGB! — disse ela, com um sorriso travesso.

Vostok apenas respondeu com um leve aceno de cabeça.
— De nada.

O elevador os levou até o oitavo andar, em silêncio. As portas abriram para um corredor acarpetado, perfumado com algo entre talco e incenso de supermercado. Luzes suaves iluminavam discretamente as portas, todas numeradas com placas douradas. Os dois quartos eram vizinhos. O grupo se dividiu — mas ainda próximos o bastante para reagir, se necessário.

Do lado de fora, uma brisa fria soprava do alto de Akasaka. Lá embaixo, a cidade nunca dormia. Mas por algumas horas, eles podiam fingir que sim.

O quarto era espaçoso e ostentoso, beirando o cafona. Um pequeno terrário com plantas tropicais e uma cachoeira artificial dividia espaço com uma banheira de hidromassagem, uma cama redonda de veludo vermelho e uma mini sala de estar com sofás confortáveis voltados para uma TV equipada com videocassete, LD-ROM e videogame.
Uma prateleira com filmes em VHS, LDs e jogos chamava atenção — metade da seleção era de conteúdo adulto. Ao lado da cama, uma máquina de vendas em formato de arco-íris oferecia desde preservativos e brinquedos adultos até massageadores e gadgets para animais de estimação. 


Mari e Yunuen ficaram encantadas com as opções.

— É o novo modelo de Love Egg! — exclamou Yunuen, comprando um imediatamente.
Mari, por sua vez, pegou uma bolinha com pelos de silicone com argola de dedo.
— Isso aqui vai deixar o Ringo maluco!

Ela encaixou no dedo e começou a girar a bolinha. Ringo seguiu em círculos, latindo baixinho, completamente obcecado.

Yunuen ligou o massageador e começou a passar nas costas de Mari.
— Uma pena o soviético não estar aqui, hein? — comentou, com um risinho malicioso.

Charlotte, rápida, deu um tapa na bunda dela.
— Se comporta, safada!

Yunuen riu e virou o massageador para Charlotte, encostando o Love Egg nas costas dela. Charlotte soltou um gritinho e saiu correndo, rindo. Até Ringo entrou na brincadeira, recebendo uma "massagem" desconfiada, mas depois oferecendo a barriga, relaxado.

Enquanto esperavam a comida, as três decidiram preparar um banho. Yunuen colocou moedas na máquina da banheira e começou a ativar os jatos e luzes.

Mari e Charlotte examinavam a estante de filmes.
— Charlotte, nada de fuçar esse lado aqui! — avisou Mari, tapando a parte dos LDs adultos.
— Não sou tarada como você! — protestou Charlotte.
— Iá! Nem sou tããão tarada assim... — respondeu Mari, pensando por um segundo. — Quer dizer… tá, talvez um pouquinho.

Elas se empolgaram com os LDs clássicos. Mari escolheu Ribon no Kishi (A Princesa e o Cavaleiro) e Giant Robo. Charlotte ficou encantada — nunca tinha visto nada da Tezuka.

Com o desenho rolando na TV, Yunuen gritou do banheiro:
— Bora, suas freiras! A água tá uma delícia!

Sem cerimônia, ela tirou jaqueta e regata, jogando as roupas na cama. Depois vieram as botas, calça, calcinha — completamente nua, sem qualquer pudor, mergulhou na banheira com um suspiro.

Mari tirava a roupa enquanto falava:
— Só não começa com aquelas esquisitices de novo, hein.
— Aquilo foi só uma brincadeira, tonta! — retrucou Yunuen.

Charlotte, mais tímida, entrou na banheira com a chemise.
— Ih, por que tá entrando de camisola, menina? Vai molhar tudo! — reclamou Yunuen.

Na água, as três relaxaram. Mari e Yunuen riam enquanto testavam todos os botões da banheira — luz negra, jato de espuma, vibração. Charlotte olhava tudo meio espantada, mas logo também estava rindo.
Ringo rodeava a borda, inquieto, querendo entrar mas morrendo de medo de molhar as patas.

O interfone tocou. Yunuen gritou:
— Mari, atende lá!

Mari se enrolou na toalha.
— O rango chegou!
— Vai lá pegar!
— Ah, por que eu?! — resmungou.
— Porque você já tá de pé, tonta! — respondeu Yunuen.

Mari fez biquinho, mas vestiu calça, sutiã e camisa — ainda úmida.
— Tô nem aí se tô molhadinha. O entregador vai se apaixonar! — disse, apertando os próprios seios com cara de provocação.

— Esqueceu do seu namorado? — Charlotte ameaçou. — Vou contar!

— Há! Como esquecer? Amanhã vou salvar ele e depois fazer muito amorzinho com ele! — respondeu Mari com ar dramático.

— Eca! — fez Charlotte.

Yunuen interrompeu:
— Para de enrolar e desce logo!

Mari saiu correndo, rindo.

Yunuen olhou para Charlotte com um sorriso cúmplice.
— Essa safada não presta…

Mari voltou da porta animada.
— Estão comportadas? Trouxe o pai da Konya… da Yanna… sei lá! Vieram comer juuuunto!

Charlotte correu para se secar e vestir, enquanto Yunuen, ainda enrolando a toalha no corpo, gritou:
— Pode entrar!

Ela conhecia a amiga. Deu cinco minutos antes de abrir a porta, só o suficiente para as duas se aprontarem. Charlotte estava um pouco emburrada por não ter conseguido escovar o cabelo ou retocar a maquiagem.

Mari e Vostok entraram carregando marmitas de rosbife japonês com salada, dando de cara com Yunuen ainda puxando a regata por cima dos seios. Vostok abaixou os olhos educadamente.
— Aí, aí… Sabia que ela ia fazer um show! — Mari brincou.

— O vacilão nem viu! — Yunuen retrucou com um sorrisinho atrevido.

Charlotte, fingindo indignação, deu outro tapa na bunda dela.
— Ai! — Yunuen reclamou, rindo.

Vostok respirou fundo e falou, gentil:
— Espero não estar incomodando.

— Que nada, cara. Você é família! — respondeu Mari com naturalidade, fazendo Vostok rir, comovido.

— Vai entrando, soviético! Senta aí! — Yunuen se jogou no sofá.

— Como assim, sem mesa? — Vostok se alarmou, indo até a mesa de canto e trazendo-a até o sofá. — Vamos fazer isso direito!

Charlotte brilhou os olhos. Yunuen revirou os dela. Vostok forrou a mesa com cuidado e arrumou as marmitas com perfeição militar. Mari se empolgou e saiu correndo, voltando com um vasinho de flores que colocou no centro.

— Ficou legal, né? — ela perguntou.

— Magistral! — elogiou Charlotte.

— Bah, vamos comer! — Yunuen cortou o momento.

Vostok ajudou a preparar os pratos enquanto comentava:
— Vocês são um grupo e tanto. Reitero… adoraria que fossem amigas da minha Yanna.

— Eu já sou! — disse Mari com firmeza. — E espero que ela me veja assim também. Se você diz que sim, então vou continuar curtindo ela!

Charlotte hesitou por um instante, depois cedeu:
— É… posso tentar.

Yunuen, seca mas brincalhona, soltou:
— Eu não tenho amigos.

— Isso não é verdade, sua chata! — Charlotte respondeu na hora.

— Que mentiraaaa! — Mari gritou, teatral.

Yunuen e Vostok gargalharam. Ringo latiu feliz, abanando o rabo e implorando por um bifinho.

Vostok abriu uma garrafa de saquê e ergueu o copinho.
— À amizade, ao sucesso da missão, e à camaradagem entre nós!

Kanpai! — todos brindaram.

Enquanto comiam, repassaram os detalhes da missão e os temores. Sarushima seria um desafio brutal: um lugar de morte, onde cem pessoas estavam presas, sendo usadas em um sistema de recrutamento cruel. Entre elas, amigos de Mari… e a filha de Vostok.

Eles sabiam que precisariam de tudo: força, astúcia e, principalmente, do fator surpresa. Mas estavam confiantes. Tinham algo mais: uns aos outros.

No fim do jantar, Vostok se despediu com um sorriso.
— Boa noite, meninas. Descansem. Amanhã será puxado.

— Ah, mas eu queria ver o resto do desenho… — Charlotte protestou.

— O soviético tem razão! — Yunuen bateu palmas, impondo ordem. — Vamos dormir, suas vagabundas

Antes de dormir, Yunuen começa a raspar todo o pelo de Ringo. Enquanto ela faz isso com cuidado, Mari e Charlotte se aproximam, de braços cruzados, prontas para intervir caso a resposta da amiga não seja convincente.

— Por que tá pelando o Ringo, Yuyu? — Mari pergunta, desconfiada.

Yunuen responde com toda a calma do mundo:
— É bom raspar o pelo desses bichos de três em três meses. Ajuda a crescer pelo novo, desembaraçar o velho, evitar problema de pele... e, principalmente, aumentar as chances de sobrevivência dele.
Ela faz uma pausa, olhando para as duas.
— Em Sarushima tem muito cão vadio. Se ele aparece todo peludo, parecendo um Chevalier King Charles, vai se destacar. Os Dreadnoks logo percebem que não é nativo.

Mari e Charlotte se entreolham e reconhecem: faz sentido. Então, sem mais discussão, se juntam a ela para terminar o trabalho.

Depois vem a bagunça da hora de dormir.

— Vamos dormir de conchinha, Mari? — Yunuen provoca com um sorrisinho safado.

— Nãããão! Depois daquela vez, nunca mais! — Mari responde, teatral.

— Hahaha! Descobri como provocar a tonta! Que delícia! — Yunuen se dobra de rir.

— Ha ha, muito engraçaaaada... — Mari revira os olhos, mas depois acaba rindo junto.

Charlotte entra na brincadeira com um brilho nos olhos:
— Eu quero dormir de conchinha com você, Yunuen!

Yunuen se comove com a doçura e se aproxima:
— Ô, menininha, quer é? Então vem cá!

— Só não vai peidar! — Charlotte solta, rindo.

— Que peidar, menina! Quer dizer… com aquele rosbife, pode ser que sim. Mas eu aviso e viro a bunda pra Mari!

Mari gargalha:
— E eu durmo com minha bunda na tua cara...

Ela imediatamente se arrepende da frase.

— Hm... promete? — Yunuen não perde tempo.

— Esqueeece! — Mari grita e se cobre com o lençol.

— Então você vai dormir cheirando meu chulé! — Yunuen continua a provocação.

— Nem! Vou dormir de conchinha do outro lado da Charlotte! Sanduíche de Charlotte!

— Yay! — Charlotte comemora, empolgada.

— Hmm... então vamos ficar com o rosto pertinho uma da outra... — Yunuen insiste, maliciosa.

Mari finge se preparar para uma briga:
— Sei não, hein… vou dormir com o punho fechado na frente da boca. Se você tentar beijar meu punho... POW!

Ela soca o ar. Yunuen e Charlotte caem na risada.

Finalmente, as três se ajeitam na cama. Apesar da zoeira, provocações e piadinhas, o que fica é o conforto da companhia. Não precisaram dizer nada — o carinho entre elas estava ali, prático, vivo, verdadeiro. E dormiram bem.

Yunuen foi a primeira a acordar. Silenciosa, levantou-se sem incomodar as outras duas. Vestiu a roupa de mergulho preta, justa como uma segunda pele. Depois, por cima, veio o disfarce civil: blusa de manga longa com gola rolê, jeans, jaqueta, lenço no pescoço, luvas. A mochila nas costas, a bolsa de lacrosse com a lança maia e o atlatl dentro. Só quando estava completamente pronta, acordou as amigas com um empurrãozinho leve:

— Vamos, dorminhocas. Hora de ir!

Mari e Charlotte saltaram da cama, ainda sonolentas, mas animadas.

— Poxa, Yu! Como você consegue acordar tão cedo? Eu achava que você era mais da noite! — Mari resmungou, coçando os olhos.

— E sou. Mas isso é treino, minha filha. Agora olha só pra vocês: pularam da cama sem reclamar. Estão ficando boas nisso!

— Iá! É mesmo! Ih, Charlotte! A gente tá virando super-espiãs! — Mari disse, empolgada, já tentando se enfiar na roupa de mergulho.

— Ai, Yu, tá apertado! Não consigo fechar o zíper no bumbum!

— Calma, gorda! Essa é sueca, então o tamanho é meio menor. Vem cá, deixa que eu fecho — disse Yunuen, rindo enquanto ajudava.

Mari se olhou, toda satisfeita:

— Iá! Tô usando um traje da Suécia! Que chique! Me sinto uma espiãzona internacional!

Yunuen soltou uma risada curta e passou a ajudar Charlotte, com mais delicadeza.

As três vestiram-se discretamente, com as roupas civis por cima das roupas de mergulho. Golas rolês, jeans, jaquetas. Mari completou com um véu islâmico que havia comprado durante a missão no Afeganistão.

— Isso foi uma ótima ideia. Queria ter pensado nisso. — Yunuen comentou.

— Né? Com isso aqui ninguém nem me olha! Hihihi! — Mari respondeu, satisfeita.

— E é bonito. Eu também comprei um! — Charlotte lembrou, com um sorrisinho.

Charlotte também foi instruída a vestir um colete à prova de balas por baixo. Mari e Yunuen optaram por não usar — queriam mais mobilidade para o salto noturno.

Já prontas, desceram e se encontraram com Vostok, que também estava vestido de forma discreta, mas funcional. Nenhum deles falou muito — o foco já tomava conta.

Entraram no carro dele e seguiram pela madrugada fria até um quebra-mar esquecido nos arredores de Yokosuka. Ali, Rey Ichiyama os esperava — já havia escondido o bote que os levaria até Sarushima.

Quando chegaram ao quebra-mar de Yokosuka, procuraram por Rey Ichiyama — e deram de cara com um corpo pálido e suado largado entre as pedras.
A garota, de cabelos castanhos curtos, estava deitada de lado, vestindo uma regata preta velha, colada no corpo, calção jeans rasgado e botas de trilha. Dormia ao sol feito um lagarto, completamente à vontade nas pedras ásperas. Só acordou quando Charlotte, Mari, Vostok e Yunuen chegaram a uns seis metros de distância.


Rey se levantou devagar, arqueando o corpo numa espreguiçada exagerada, como um vampiro saindo da tumba. Abriu um sorriso sonolento, os olhos semicerrados, quase fechados, como se estivesse sempre a um passo de voltar a dormir.

Ohayō... — ela murmurou.

— Ela é esquisita — Charlotte comentou, fazendo uma careta.
— Ih, é. Não sei se me acostumo — Mari respondeu.
— Me pergunto o que os pescadores pensaram ao ver ela largada aí desse jeito... — Charlotte continuou.
— Provavelmente acharam que ela tava bêbada — Mari deu de ombros.

— Tava dormindo largada aí, preguiçosa? — Yunuen perguntou, cruzando os braços.

— Só pegando um solzinho e tirando um cochilo, chefa... — respondeu Rey, sorrindo com os olhos ainda semicerrados.

— O bote tá pronto? — Yunuen quis saber.

— Tudo em ordem! — Rey respondeu de repente com energia, pulando em pé, batendo continência e descendo pelas pedras aos pulinhos, cantarolando enquanto se equilibrava com os braços esticados como se andasse numa corda bamba.

— Ela é retardada, mas extremamente eficiente. Sigam a doida — Yunuen disse, sem emoção.

Rey levou o grupo até a base do quebra-mar. À primeira vista, parecia só um monte de pedras escuras, amontoadas de forma natural. Mas Rey continuava avançando com passos leves, pulando de pedra em pedra, até que... desapareceu.

Ela havia criado uma entrada secreta — uma caverna perfeitamente escondida pelas sombras e pela arquitetura baixa, como a toca de um urso.

— Esperta — comentou Vostok.
— A retardada é um gênio — Yunuen disse, pulando dentro da caverna.

Lá dentro, havia espaço de sobra para o bote. Totalmente inflado, pronto para sair: cordas firmes, remos presos, motor abastecido e bem encaixado, tudo oleado e seguro. Varas de rolamento já estavam posicionadas sob o casco para facilitar a saída. Ao fundo, a bicicleta de Rey, amarrada e preparada para transporte.

Rey “olhava” para todos com os olhos ainda fechados, um sorriso bobo no rosto, suor escorrendo da testa.

— Muito bem, sua nojenta. Agora se manda daqui. Vai tomar banho e dormir, você fede! — mandou Yunuen.

Rey soltou uma risadinha, pegou a mochila e foi saindo aos pulinhos com a bicicleta nas costas.

— Por que você anda de olhos fechados? — Charlotte não se aguentou e perguntou.
— Hm? Ah! É pra conservar energia, descansar os olhos... — respondeu Rey, já perdendo fôlego no meio da frase.

— Já pensou em tomar café? — Charlotte provocou.

Rey levantou uma rede improvisada onde carregava um fogareiro portátil e dois bules vazios.

— Ah... — ela murmurou, meio sem reação.

— Deixa a doida em paz. Temos trabalho — cortou Yunuen, seca como sempre.

— Queria conhecer ela melhor quando ela estivesse... normal — arriscou Charlotte, olhando na direção por onde Rey tinha sumido.

— Shi... boa sorte com isso! — Yunuen provocou com um meio sorriso.

— Hmm... Ei, Yu, sabe quando é o aniversário dela? — perguntou Mari, mexendo coçando a cabeça com o indicador.

— Sei lá — respondeu Yunuen, indiferente.

— Hmm... acho que me lembro! Ei, Charlotte! Você pode conhecer ela melhor depois das missões! O aniversário dela vai ser comemorado agora com a galera desse semestre! — Mari falou animada, os olhos brilhando.

Yunuen arregalou os olhos.

— E aquilo faz aniversário? Shii... isso implica que ela tem mãe... — resmungou a guatemalteca, com uma risada nasalada.

Vostok jogou a chave do carro para Rey — e ela pegou com os dentes, como um cachorro treinado.

— Ela sabe dirigir? — Vostok perguntou, sem ironia.
— Sei lá. Acho que sim — respondeu Yunuen, indiferente.

Rey se afastou tranquilamente, acomodando a bicicleta no teto do sedan. Antes de entrar, colocou óculos escuros e acenou. Ninguém teve certeza se ela abriu os olhos pra dirigir.

Yunuen pediu ajuda para empurrar o bote até a água. Enquanto ele rolava pelas varas, Charlotte foi a primeira a embarcar, acomodando Ringo junto da bagagem fofa. Mari entrou em seguida e se posicionou na proa, conferindo o walkman e as pilhas. Depois veio Yunuen, sentando ao lado do motor, e por fim, Vostok.

Yunuen girou a ignição e o motor respondeu. O bote zarpou, cortando as águas em direção a Sarushima.

Sarushima

A viagem até Sarushima foi tensa. Mari permaneceu o tempo todo na proa, imóvel como uma estátua, atuando como vigia.
— A tonta vai ficar com a cara toda encharcada — comenta Yunuen para Charlotte, sem desviar os olhos da rota.

Ninguém sabe exatamente quão boa Yunuen é com veículos terrestres. Mas no mar… no mar ela é uma mestre. Sua habilidade com embarcações e senso de geolocalização são impressionantes. Ela deslizou sobre as águas como se Sarushima fosse sua casa de infância.

A ilha tem esse nome porque, até antes da Primeira Guerra Mundial, era um paraíso ecológico habitado por uma espécie única de macaco. Mas com o avanço da “modernização” japonesa, Sarushima foi cobiçada por seus veios de carvão. Toda a fauna e flora nativa foi suprimida por minas e estruturas de concreto. A ilha se transformou em algo que lembrava um encouraçado de pedra.
Com a mudança do foco para o petróleo e o declínio do carvão, a ilha foi abandonada. Com o tempo, a natureza retomou o espaço — árvores, cipós e raízes brotando por entre as rachaduras do concreto, fazendo da ilha uma mistura dissonante de selva e ruínas industriais.

Yunuen manteve o bote fora da vista, não apenas evitando as patrulhas dos Dreadnoks, mas também antecipando suas rotas. Ela completou uma volta tática ao redor da ilha.
Essa manobra se provou extremamente útil: descobriram que o antigo porto havia sido reformado pela produção do Nihon Hiro para receber navios, lanchas e até uma monstruosidade tecnológica: um híbrido de avião, helicóptero e navio, atracado ali com o símbolo dos Dreadnoks pintado. Em sua fuselagem lia-se, à luz do dia, o nome “Hesperonis.”

Hesperonis - Tubarocopteroplano


Yunuen começa a bater fotos do veículo e do porto. — Para mandar aos nerds militares. — Ela disse.

—O que é Hesperonis? — Pergunta Mari.

— Sei lá, deve ser alguma coisa grega para eles se sentirem com pau maior. — Responde Yunuen.

— Hm, isso eu imaginei, mas o que significa? — Pergunta Mari.

— Também não sei, teremos que jogar essa dúvida aos nerds linguísticos. — Responde Vostok.

Vários Dreadnoks guardavam o local, armados com suas bizarras ferramentas motorizadas. Mas pareciam mais interessados em beber, fumar e provocar uns aos outros do que em vigiar.

A volta pela ilha também revelou um ponto de entrada ainda melhor: com excelente cobertura, facilidade de recuo e acesso privilegiado ao centro da ilha.
Yunuen atracou em silêncio e, com eficiência quase militar, organizou a camuflagem do bote.
— Todo mundo, colhe folha local. Vamos forrar o bote.

Em poucos minutos, o bote estava coberto de folhagem local, amarrado com cordas e içado até o topo das árvores. De baixo, era invisível. E mesmo para quem olhasse para cima, pareceria apenas parte da vegetação.

— Chequem os aparelhos de comunicação — instruiu Yunuen, ativando o rádio e tentando contato com Hiyata Mamoru.

O sinal estava fraco, mas funcional.

Macaco, aqui é Jaguar. Na escuta? Chegamos no ninho — disse ela.

— Na escuta, Jaguar. O sinal tá ruim... Pode ser que tenham um bloqueador na ilha. É amador, mas pode atrapalhar — respondeu Mamoru, do outro lado.

— Faz sentido. Mesmo se forem filmar um show, um bloqueador evita que vaze o que não for conveniente — concluiu Yunuen.

— Isso. Recomendo usar o pager e o rádio só pra mensagens urgentes ou complexas. Minha equipe tá sobrecarregada — disse Mamoru.

— Entendido, Jaguar desligando. — Ela se virou para os outros. — Ouviram, né? Prioridade no pager!

— Ahh, queria que você mandasse um abraço pra ele por mim... — suspira Mari.

Yunuen mostra a língua em resposta.

Em seguida, reuniram-se sobre os mapas. Três locais estavam destacados com base nas informações de Yanna “Cósmica”, filha de Vostok.
Um ponto, ao norte, era marcado como “Arena de Combate”.
Mais ao centro, próximo à arena, o “Dormitório dos Participantes.”
E, não muito longe dali, a “Torre de Rádio.”

Yunuen marca no mapa também o porto, e abre as possibilidades.

— Ok, temos as localizações da Cósmica. Precisamos confirmar a precisão dessas marcas. A torre de rádio é prioridade para comunicações e, onde tem torre, não deve faltar QG. Mas... tivemos sorte de encontrar o porto. Lá, podemos coletar dados valiosos: registros de carga, vítimas, número de gangsters, equipe de filmagem, equipamento, armamento, veículos... E ainda sabotar os barcos.
E ninguém espera uma invasão durante o dia.

— Arriscado, mas parece a melhor opção — concorda Charlotte.

— É, demos sorte! Vamos aproveitar! Estou com um bom pressentimento — diz Mari, animada.

Vostok assente, mas pondera:

— Apesar da lógica tática, a chance de sermos vistos à luz do dia é maior. E... bem, minha filha está lá dentro. Temos seis dias. Podemos observar durante o dia, e sabotar à noite.

— Eu ia sugerir isso só quando a gente estivesse lá pra te encurralar, soviético. Bom saber que tem sangue de barata — provoca Yunuen.

— Não é sangue frio. É fé. A Cósmica sobrevive melhor do que eu.

Os investigadores avançavam pela mata densa, atentos a cada som, galho partido, cheiro estranho. Logo notaram que haviam cruzado para a área reservada aos competidores, reconhecida por uma placa decorada com o logotipo estilizado do evento “Nihon Hiro” e um aviso em inglês e japonês:

AVISO – Você está saindo das áreas autorizadas. Se prosseguir, será desclassificado e sofrerá consequências.

A ameaça parecia parte de uma encenação publicitária, mas quem sabia o que realmente acontecia ali entendia o peso das palavras.

Ultrapassaram o aviso. Diante deles, um campo aberto separava a mata de uma estrutura de concreto coberta de limo — a antiga entrada das minas. No caminho, uma cerca improvisada de arame farpado e estacas de ferro. Poderiam contornar por entre a vegetação rasteira, mas havia também uma torre de vigia, que tornava a travessia impossível caso houvesse alguém atento no alto.

Por sorte — ou providência — a torre estava vazia naquela hora do dia. Yunuen não perdeu tempo: mandou todos contornarem pela lateral da cerca, mas ela própria escalou com facilidade felina a barreira, subindo na torre com movimentos certeiros, como se já conhecesse cada polegada daquele aço oxidado. Observou o entorno. Estava limpo. Fez um gesto com os dedos. A travessia estava liberada.

Eles avançaram até a entrada escura da estrutura e desceram os primeiros degraus até as profundezas das minas abandonadas.

— É uma boa ideia usar as minas… — começou Vostok, ajustando o colarinho. — Mas as chances de nos perdermos são enormes. Tens um mapa?

— Ficou maluco? — Yunuen respondeu seca, sem nem olhar para trás. — Até os mapas da época já eram ruins. Um mapa aqui só ia atrapalhar.

— Então… qual é o plano? — ele insistiu. — Mesmo um túnel que parece reto pode nos levar direto para as profundezas da ilha.

— Pai da Konya… sério. Só confia na Yu. — murmurou Mari, com sua voz mais grave e séria que o normal.

Mas Yunuen ergueu a mão, pedindo silêncio, e se virou lentamente para encarar o soviético.

— Acha que eu sou burra, soviético?

Vostok ergueu uma sobrancelha.

— Nem um pouco. Só sou cauteloso.

— Bom. Porque mesmo uma mina como essa tem padrões. Bussolas indicam o norte. Pêndulos mostram inclinação. — Ela mostrou o pulso: um relógio antigo, mas funcional, com bússola integrada. Ao lado, uma pulseira de contas de madeira parecia simples adorno indígena… até que ele notou o pequeno pêndulo preso a uma delas. — Além disso, a luz natural tem um calor próprio. Indireta é fria, difusa. A coloração do mofo nas paredes também indica profundidade. Escadas de madeira são expansões e improviso; de concreto, projeto original.

Vostok fez que sim com a cabeça.

— Ainda assim — ela continuou — vocês vão ter que confiar em mim. Mas se prestarem atenção, vão começar a ver o padrão também.

E com isso, ela desceu. Ringo foi atrás, abanando o rabo no escuro como se tivesse feito isso mil vezes. Charlotte sorriu, esperou um pouco, e então o chamou suavemente Mari e Vostok.

— Vamos queridos?

Mari colocou a mão no ombro de Vostok com tranquilidade.

— Pode confiar nela de olhos fechados nessas coisas. Ela é quase um bicho nessas situações!

Vostok hesitou um segundo. Depois sorriu de lado.

— Confio que ela confia em si mesma. Mesmo assim… farei uma trilha.

— Tipo João e Maria? — Mari perguntou, divertida.

— Tipo isso. — ele respondeu, já tirando discretamente um giz de bolso e fazendo a marca “Ж” no batente da escada.

Dentro do túnel, já ficava claro que um mapa seria inútil. A câmara estava tomada pela água; impossível ver onde se pisava. Havia canaletas de concreto, ligeiramente elevadas acima do nível da inundação — e foi por elas que o grupo se moveu.



— Vamos nos manter apenas no primeiro nível sempre que possível. Não se preocupem. Mais adiante já posso ver que isso seca — disse Yunuen, firme, sem diminuir o passo.

Vostok a observou em silêncio, impressionado com a visão aguçada da moça. Por um instante, pensou em sua filha — Yanna — que também enxergava como predadora no escuro.

— Aproveitem a luz natural o máximo que puderem. Usem os óculos de visão noturna apenas no breu total… ou quando for realmente importante. — Ela fez uma pausa, olhando ao redor. — E lembrem-se: esses lixos dos Dreadnoks gostam de vagar por aí. Podemos encontrar alguns mesmo aqui. Lembrem-se de Nova Jersey. Fizeram o mesmo.

Mari, já com o capacete de visão noturna preparado, mas com o visor ainda levantado, arqueou uma sobrancelha.

— Ué… ninguém aqui esteve em Nova Jersey, Yu.

— Não me provoca, tonta. Eu sei que você leu os relatórios. Não se faz de burra.

— Iá, foi mal… — Mari resmungou, encolhendo os ombros.

Yunuen então virou-se para Charlotte, e com um gesto cômico — dois dedos indicadores nas têmporas — pediu a conexão mental.

Charlotte sorriu e atendeu sem palavras. Num piscar de olhos, todos sentiram a ligação sutil das suas mentes — um elo telepático, gentil mas firme.

— Isso é muito útil para infiltração… — comentou Vostok, inaugurando a conversa mental.

— E o mais legal é QUE DÁ PRA GRITAAAR! — Mari pensou alto demais.

— Corta a tonta se ela fizer mais uma dessas — pediu Yunuen, do jeitão sarcástico habitual.

— De nada, queridos! — Charlotte respondeu com bom humor.

Seguiram então pelos túneis. Como Yunuen dissera, o terreno foi ficando mais raso. Poucos metros adiante, o piso finalmente emergia da água, com apenas poças aqui e ali refletindo a luz escassa.

Os corredores eram labirínticos. Havia claros sinais de deslizamento e escavações irregulares que terminavam em abismos. Algumas dessas valas estavam cheias d’água, sem fundo visível. Numa delas, apenas uma corda podre balançava, amarrada a um gancho antigo, enquanto noutra uma escada de madeira parcialmente submersa rangia sem vento.

Como combinado, Vostok e Mari só utilizavam os óculos de visão noturna nas travessias delicadas ou quando a escuridão era absoluta. Charlotte, pequena demais para o modelo PVS-5, levava os binóculos de luz noturna emprestados de Lacroix. Ringo ia carregado por Yunuen — que, estranhamente, parecia dispensar qualquer tipo de auxílio visual. Enxergava tudo. Como se tivesse nascido ali dentro.

Mais uma vez, Vostok pensou em Yanna.

Será Yunuen também um projeto militar? Como minha filha foi? — ponderou, cauteloso, evitando projetar a pergunta pelo elo mental.

Yunuen, de tempos em tempos, escalava poços de ventilação ou escadas de inspeção para se orientar em relação à superfície. Logo, Vostok começou a fazer o mesmo. Como ela prometera, os padrões se tornavam perceptíveis. O distanciamento entre escadas verticais era previsível: de nove a doze metros. A própria luz do dia ajudava — os raios solares penetravam por rachaduras e grelhas antigas, permitindo uma espécie de norte primitivo, natural, reconfortante.

Mas não era a mina o verdadeiro perigo.

Yunuen parou subitamente.

— Ouviram?

Todos silenciaram. A escuridão respirava em volta deles.

E então, no fundo do túnel… o som:

Tap… tap… tap...tap… tap…

Batidas. Tapas secos, cadenciados e continuas.

Yunuen ergueu o punho, sinal de parada. Olhos atentos na escuridão.

Eles não estavam sozinhos.

Ao se aproximarem, o barulho de tapas vinha seguido de grunhidos e suspiros. Yunuen já revirava os olhos antes mesmo dos outros entenderem.

— Ah, não! Eu me recuso a usar a visão noturna pra isso! — Mari resmungou, adivinhando a cena.

Pitgirl & Powercord


Dreadnoks eram animalescos. E todos entenderam: havia um casal deles “mandando ver” adiante.

— Não tô pedindo pra vocês serem voyeurs. Só prestem atenção onde pisam, estudem o local e me sigam. Vamos contornar esses cachorros no cio — disse Yunuen, pelo elo mental.

De fato: um homem e uma mulher, semi-nus, estavam um sobre o outro, fornicando como se o mundo estivesse acabando.

— Isso parece mais uma briga… — Mari murmurou.

— Me poupe dos detalhes, sua nojenta! — Charlotte respondeu com asco.

— Eca… olha as curubas nas costas dele! EEECA! — Mari provocou, enjoada e divertida ao mesmo tempo.


— Parem com essa merda. Observem o acampamento. Tem equipamento pra quatro. Faltam dois. Vejam aquela porta nos fundos — doze metros deles. Eles podem ter vindo de lá. Peguem a escotilha e subam. Encontro vocês na próxima escotilha.

— Aí, acho que vi os outros dois! — Mari avisou, já contornando o casal.

— É… — disse Yunuen com uma voz cansada, quase derrotada.

Vostok grunhiu, num misto de asco e indignação.

— Ugh! Nojentos! — Charlotte virou o rosto, arrependida de ter olhado.

Atrás de uma parede arruinada, os outros dois Dreadnoks observavam a cena.

E...

— TÃO BATENDO UMA PUNHETA. ECA!! — Mari gritou mentalmente.

— NÃO QUERO DETALHES! Se não eu desligo esse elo! — Charlotte reagiu, indignada ameaçando cortar o elo.

— Chega. Subam agora. Já sabemos a localização deles — ordenou Yunuen, encerrando o inferno sensorial.

— Boa sorte, Yu. — Mari disse num tom solene.

 — Vou lavar meus olhos e meu nariz depois… — Fala Yunuen conformada.

Quando os três saem pela escotilha, percebem que há mais inimigos no exterior.

Abaixo da construção, próximo a uma porta metálica enferrujada, dois Dreadnoks estavam deitados numa velha maca médica, tomando sol como se estivessem num spa pós-apocalíptico.

Um deles, vestindo apenas uma cueca imunda, era esquelético, pálido, e coberto por tatuagens de caveiras flamejantes com asas de morcego que reluziam no sol. Ao seu lado, um segundo homem usava calças de camuflagem, jaqueta militar aberta e exibia uma cabeleira desgrenhada enquanto descansava com um fuzil apoiado sobre o peito.



Sentada ao lado deles, numa cadeira plástica pichada e desbotada, uma mulher grande, de moicano, vestia calças de couro e um sutiã preto que mais parecia parte de um figurino de bondage. Ela fumava, roncava e bebia do infame refrigerante Dread Punch, cujo rótulo era um soco em forma de caveira.

À frente deles estava o que um dia fora um Land Rover Perentie, agora transformado numa aberração mecânica: placas de aço com viseiras substituíam os para-brisas, serpentinas de arame farpado corriam pelas laterais, e lâminas de foice estavam montadas sobre os para-lamas. Um espigão de aço reforçava o radiador, e a pintura, num degradê de vermelho, laranja e preto, ostentava a caveira flamejante dos Dreadnoks no capô.



“Tsuki, tem mais aqui!” — Mari avisa a Yunuen telepaticamente, chamando-a pelo apelido japonês.
“São mais três. Estão descansando, acho.” — completa Charlotte.
“Ok. Mantenham-se escondidos. Não deixem eles lhes verem. Estou subindo pela próxima escotilha.” — responde Yunuen, serena como sempre.

Enquanto isso, os Dreadnoks discutiam, animadamente, sobre qual droga usar em qual ilha paradisíaca.

— Lá no Fiji, eu usaria haxixe, cara! — disse o magrelo das tatuagens, gesticulando com um cigarro de filtro amarelo.

— Haxixe é droga de bebê, seu frouxo! — rebateu a mulher do moicano, cruzando os braços por cima da barriga que tremia a cada risada.

— Cala a boca, sua gorda! É de acordo com o clima da ilha! Em Krakatoa, por exemplo... eu usaria craque!
— CRAQUE?
— Sim! Pra explodir junto com o vulcão, porra!

Ele pulou da maca, apontando o dedo pra ela.

— Você vai cair com a boca espumando na primeira fungada, seu moleque! — ela respondeu, levantando-se e assumindo uma postura de boxeadora, socando o ar com tanta força que o peito balançava como gelatina de guerra.

— Tá me chamando de frouxo, sua puta sapatona?!

— Vem ver, então!

Os dois começaram a se agredir sem nenhuma coordenação: socos, tapas, mordidas, até lambidas no peito e chaves de braço improvisadas.

O cabeludo caiu na gargalhada e, entre goles de Dread Punch, começou a molhar os dois com o refrigerante. Foi nesse exato momento que Yunuen surgiu pelas sombras, e os investigadores começaram a se mover discretamente.

Mas então...

Enquanto Vostok passava por cima de uma viga, o cabeludo notou algo.

— Ei... galera? Tô doidão ou passou um bicho por cima de mim? Foi uma nuvem estranha? Sei lá...

O cabeludo olhou pra cima, olhos semicerrados. Vostok, por sorte, conseguiu recuar sem ser visto.

A mulher, que prendia o magrelo numa chave de braço enquanto levava cotoveladas nas costas, parou e olhou com raiva:

— Tá querendo empatar nossa porrada, seu bosta?

— Ou tá escondendo os comprimidos, hein?! — rosnou o magrelo, lambendo os próprios dentes.

O cabeludo examinou o céu de novo, depois olhou pra eles com um sorriso torto:

— Deve ter sido o comprimido…

— ENTÃO PASSA ELE AQUI! — gritou a mulher.

Imediatamente, os dois largaram a briga e partiram pra cima dele, tentando saqueá-lo. Gritavam, xingavam e reviravam os bolsos do pobre infeliz.

Era o momento perfeito.

A equipe aproveitou o pandemônio. Passaram despercebidos por trás do Land Rover blindado e seguiram pelas laterais da construção.

As docas não estavam longe agora.

Crazy Revolver, Sapper e Bulky Boot

O grupo alcança as docas de Sarushima pouco depois das oito da manhã. A movimentação ali era tudo, menos sutil.

As docas se estendiam como um labirinto de containers amassados, píeres de madeira podres e plataformas improvisadas. Do ponto de vista dos investigadores, o caos era visível — e barulhento. Quatro lanchas armadas com metralhadoras pesadas estavam ancoradas, prontas para ação. Havia ao menos uma dúzia de jet-skis atracados, e, mais adiante, o que parecia ser um navio torpedeiro de guerra — com canhão, lançadores de mísseis e tudo — ostentava uma pintura roxa berrante com a caveira flamejante dos Dreadnoks no casco.

Mas nada se comparava ao monstro no centro da cena: o Hesperonis, apelidado entre eles de “tubarocopteroplano”. Um híbrido grotesco de hidroavião e helicóptero, com hélices de rotor nas laterais e um canhão pesado no nariz. Ele dominava o espaço como um deus mecânico em meio a um carnaval de ferro-velho armado.

Mais ao fundo, viam-se outras estruturas: uma pequena boathouse, de telhado de zinco e graffiti, e a guarita da doca, o único prédio que parecia ter alguma função estratégica — e o objetivo deles.

Pelo menos dez Dreadnoks estavam espalhados pelo local. Quatro, escondidos do outro lado do Hesperonis, estavam pescando e gritando, como os investigadores sabiam desde a volta pela ilha. Os outros seis estavam visíveis, cada um mergulhado em seu próprio tipo de insanidade.


Um deles, sem camisa e de moicano, pintava o casco de uma das lanchas com um pincel largo. Parava de tempos em tempos para colocar um comprimido debaixo da língua, fechando os olhos com um suspiro extasiado.

Outro, moreno, musculoso, armado com uma haste terminando numa serra circular rotativa, balançava a cabeça no ritmo de uma música imaginária. Mas não era só na cabeça dele: ao lado, uma mulher loira, desgrenhada, de pintura facial que lembrava asas negras de corvo, tocava uma guitarra elétrica de frente para o mar, fazendo distorções brutais em volume máximo.

No píer vizinho, um homem careca, de calças cravejadas de rebites afiados que deixavam suas nádegas expostas, berrava com um fuzil nas mãos:

EU QUERO MATAR! EU QUERO MATAAAR!

— Calma, Cheeky Bastard, daqui a pouco começa o jogo — disse o homem da serra circular, conhecido como Slice Mike, sorrindo com dentes de nicotina. — Sempre tem uns otários querendo sair. A gente estoura eles!

— Sem contar que é um prazer ver esses desgraçados se matando por nada, né, Slice? — gritou a guitarrista, conhecida como Busty Bass, soltando um solo distorcido que parecia evocar o próprio inferno.

— Ver é bom... mas matar é mais gostoso! — rebateu Cheeky Bastard, babando um pouco ao rir.

— Mais gostoso que eu, é? — Busty Bass provocou, empinando o quadril.

— Sossega a xoxota, mulher! Tu já não levou quatro hoje? — retrucou Cheeky Bastard, empinando as nádegas com orgulho tribal.

— Tu tá um atrás, pela minha conta! — devolveu ela, tirando outro solo que fez Slice Mike rir que perdeu o folego.


—Até o fim do dia te supero em pinto e na matança! Finalizou gritando Cheeky Bastard fazendo Slice Mike sufocar no riso.

Mais atrás, junto a um Humvee blindado, pintado nas cores dos Dreadnoks e com uma metralhadora montada, estavam os dois últimos visíveis. Um deles, magro, de cabelos longos pretos e rosto sujo de pó branco, estava recostado contra a roda do veículo, completamente apagado. As calças de couro estavam abertas, e de sua virilha saía o rosto adormecido de uma mulher de cabelo cornrow, usando uma jaqueta cheia de rebites e short militar.

Ela havia vomitado nas calças dele antes de desmaiar, e agora dormia como se estivesse em um spa.

Caóticos. Erráticos. Viciados em violência, drogas e exibicionismo grotesco — mas extremamente perigosos. Sua imprevisibilidade era uma arma em si.

O grupo sabia o que precisava fazer: chegar até a guarita, acessar os arquivos do sistema e rastrear os movimentos da gangue.

Mas para isso... teriam que passar pelo meio desse circo demente.

Era impossível passar no momento, não sem luta, não em plena luz do dia. Como eles planejaram, eles iriam esperar pelas sombras.


Mari, aproveitando o elo telepático de Charlotte, decidiu falar uma coisa que a estava incomodando.
“Yu, sobre sabotar os barcos, não sei se é uma boa ideia fazer isso agora não, porque sabe-se lá quanto tempo a gente vai ficar aqui, e se eles verem a sabotagem antes, fudeu.”
Yunuen respondeu sem nem virar o rosto:
“Pensa que não pensei nisso, tonta? Fica tranquila! Faremos isso apenas na hora de nossa saída. Agora cala a boca e foco. Vamos fazer certo e esperar o tempo que for por nossa oportunidade. Nada de repetir a merda de Osaka.”


O silêncio que seguiu carregava o peso do fracasso de Osaka — Ren e Sanjuro abandonaram a vigília e subestimaram o inimigo atacando um membro de gangue isolado. Acontece que haviam bem mais por perto e eles foram derrotados. Mari se uniu a eles para tentar ajudá-los, mas também foi derrotada. Para sorte deles, Charlotte não se envolveu e conseguiu fugir, os salvando mais tarde.

. Mari assentiu, sem rebater.
“Não, pode crer, vamos fazer tudo direitinho!” respondeu com voz baixa, já tirando da mochila saquinhos de banana chips e distribuindo entre o grupo.

Antes de abrir o próprio, Yunuen mostrou por que trouxera Ringo. O cão já estava com o pelo raspado irregularmente, coberto de terra e fuligem, com manchas que o faziam parecer mais um vira-lata esquálido e doente. Perfeito para a paisagem miserável da ilha. Com um clicador de adestramento e alguns gestos que só Ringo entendia, ela deu a missão: mijar em cada barco e cada porta que encontrasse.

“Ainda não entendi direito como isso vai nos ajudar” Vostok pergunta.

“Ele tá mijando no caminho inteiro. Depois é só seguir o mapa de xixi.” Yunuen explica.


“Você também consegue discernir o cheiro?” Vostok arrisca.

Yunuen dá de ombros. “Do mijo do Ringo? Sim, dieta especial a mambo jambo indígena.” Ela brinca sarcástica e seca.

Enquanto o cão se afastava, a caminho das docas, ninguém comentou nada — sabiam que não era só um truque sujo. Era estratégia.

As docas fervilhavam em caos funcional. Ringo passou por baixo de encanamentos, entre pneus pendurados e debaixo de correntes de ancoragem. Cheeky Bastard, Slice Mike e Busty Bass discutiam sobre qual das músicas da banda “Rotten Maggot Ass” era melhor para se tocar para uma pesca com dinamite. O pintor vomitava no mar enquanto ria sozinho. Perto da guarita, um loiro de óculos escuro e dentes amarelos cortava o próprio braço com uma serra de precisão para “atrair piranhas” para pescar, fazendo o outro que acabara de pescar uma bota rir, explicando que “piranhas são peixe do mar atlântido”. Ninguém percebeu Ringo, ou se perceberam, ignoraram. Cachorros eram parte da sujeira natural da ilha.

O cão passou rente ao casco de uma das lanchas armadas, levantando a perna e marcando território com precisão. Depois, caminhou até o banheiro químico onde já avia cheiro forte de mijo e ele se demorou um pouquinho mais decifrando todos os cheiros (ele ainda é só um cão).

O Boathouse teve sua porta marcada também. Ela estava vazia com a exceção de uma lancha que estava sendo pintada e uma turbina de jato içada no topo. Depois da mijadinha, seguiu.
Dois containers, usados como “quartos”, também foram “abençoados” por Ringo. Em um deles, um Dreadnok com mullet tingido de verde fazia flexões nu, berrando “Setenta e oito! Setenta e nove! Salve Zanzibar!” enquanto uma mulher de cabelos tingidos de vermelho e moldados em forma de estaca dava um tapa na bunda dele para cada flexão, explicando porque ela já estava roxa. Ringo deixou seu jato na porta com dignidade.


Foi quando, se esgueirando até o lado oculto do Hesperonis, Ringo viu os dois vigias adicionais. Um, negro, forte como um touro, com uma tatuagem de caveira que cobria o rosto inteiro e se estendia em chamas pelo escalpo careca. Ele parecia esculpido em raiva. Segurava um lança-chamas como se fosse uma extensão do corpo, e murmurava “carbonizar é purificar” como se fosse um mantra.

Einherjar e Skullface

O outro, loiro, gigantesco, quase dois metros de puro músculo, lembrava um viking. A jaqueta aberta deixava ver os piercings bizarros: três balas 7,62mm como piercings nos mamilos e uma no umbigo, encaixadas com precisão grotesca. Dois cinturões de munição cruzavam o peito, e ele carregava uma metralhadora pesada que parecia mais um canhão portátil. Ele estava em silêncio, olhos sempre voltados ao horizonte, como se aguardasse o Ragnarok.

Ringo não ousou se aproximar muito, mas circulou devagar, farejou, e marcou a lateral da estrutura que dava para o local — uma forma sutil de deixar informação olfativa que só Yunuen saberia interpretar. Depois, voltou.

Mari e Charlotte começaram a se inquietar com a demora, mas Yunuen as interrompeu de forma seca:
“Calma, idiotas. Se acontecesse algo, ele teria latido. Ele tá bem.”

Um vira-lata local se aproximou deles, fazendo Charlotte levantar animada, achando que era Ringo, mas era só um dos tantos cães da ilha.

Finalmente, o verdadeiro Ringo apareceu trotando com o rabo meio erguido. Yunuen o pegou nos braços, farejou seu pelo e olhou nos olhos dele. Ele a farejou de volta.

Yunuen então o soltou, deu-lhe um bifinho seco e virou para o grupo.
“Tem mais dois guardando o tubarocopteroplano, do lado cego. Bem armados e focados na vigilância.”

“Para que o bifinho?” Perguntou Charlotte.

“Por que ele foi um bom menino.” Yunuen fala enquanto revira sua mochila e da um macaron embalado para Charlotte.

“Ei! Eu também fui boa menina!” Protesta Mari, fazendo Yunuene dar a ela um saquinho de banan chips.

“Você descobriu isso pelo cheiro do cão?” Vostok perguntou, ainda com tom de incredulidade.

Yunuen olhou para ele com os olhos semicerrados.

“Vem cá, soviético. Eu te encho o saco perguntando todos os segredos do Kremlin? Então para de encher.”
Vostok levantou as mãos, rindo de leve. “Justo.”

Então após isso os investigadores esperaram. Bonnie e Clyde finalmente acordam montam em motos e começam um estranho jogo de sedução, em que ameaçam se colidir um contra o outro até passar muito perto do outro e roubar um beijo ou carícia em alta velocidade e movimentos acrobáticos com as motos. Busty Bass começa um “show ao vivo” com sua guitarra, fazendo Slice Mike e LSZen dançarem, enquanto Cheeky Bastard tenta arriscar cantar alguma coisa. Whaler, um homem moreno e grande de barba que chega até o peito e um arpão preso às costas saí com várias tigelas distribuindo-as entre eles gritando “rango!”, jogando uma tigela cheia de um molho com carne e um pouco de macarrão e uma garrafa de refrigerante “Dread Punch”.

Bonnie e Clyde


Uma explosão que esborrifa muita água assusta os investigadores, mas logo outro dreadnok grita a explicação  “Whaler! Acho que consegui pegar aquela cavalinha... mas, sei lá, acho que não sobrou muito dela não!” “Drill Pipe! Seu idioota!” Rosna o Dreadnok da longa barba fazendo os outros rirem.

Dock Scrap

Enquanto esperavam, Mari demonstrava sua típica ansiedade, fazendo discretos exercícios, cantarolando, contando histórias e pedindo tantas outras. Charlotte brincava com Ringo, ria e se amuava atentamente com as histórias enquanto de vez em quando retocava a maquiagem. Vostok tomou a oportunidade para falar de algumas engraçadas histórias de infância de Yanna, que traziam sorrisos para o rosto dos demais, mas também uma melancolia da vida isolada que foram obrigados a tomar. Mari anunciava que ia dar uma mijadinha e voltava dizendo que demorou porque acabou soltando um barro, enojando Charlotte, fazendo Vostok rir da ousadia e Yunuen se irritou tanto com a tagarelice dela que se afastou para escoltar o perímetro. Uma vez, uma dreadnok de cabelos espetados e tingidos de vermelho se aproximou perigosamente deles, fazendo eles recuarem, a nok que atende pelo codinome “Love Cruiser” apenas arriou sua calça de ginástica rosa e usou o arbusto para se aliviar, não notando a presença deles.
Os ventos começaram a mudar.

Primeiro vieram as rajadas esparsas, carregando areia e cheiro de maresia forte. Depois, as nuvens. A luz do sol, ainda brilhante, começou a se esfarelar no céu. Um ou outro Dreadnok praguejou contra o vento bagunçando o cabelo, ou o som sendo distorcido pela interferência elétrica.

— “O tempo tá virando.” — comentou Yunuen ao retornar.
— “O Japão nunca decepciona.” — disse Vostok, puxando o capuz e observando o céu como se adivinhasse algo além das nuvens.

Ao fim de quatro horas, o clima tinha se transformado. O dia parecia noite. A música parou. Os Dreadnoks começaram a dispersar. Ainda riam, mas já cuidavam dos detalhes.

Drill Pipe

Bonnie e Clyde pararam as motos com estilo, os pneus cortando lama. Busty desligou o amplificador. Whaler recolheu pratos. Slice Mike apagou a fogueira de churrasco com urina.

Antes de se trancarem, os Dreadnoks asseguraram os barcos e jet skis com cordas e ganchos. Um deles atualizou o log da guarita — tanto no computador quanto nos arquivos em papel — e trancou a porta com um cadeado pesado.

Alguns se dividiram entre os dois containers-quartos, enquanto outros se abrigaram dentro do grande boathouse, exceto Drill Pipe, que sobe a canhoneira e começa a desafiar o tempo, xingando e gritando e Bonnie e Clyde, que decidem ficar e brincar de rolar na lama, rindo da ventania. O vento começou a uivar como fera ferida.

Agora, com a área externa deserta, com a exceção dos dois vigias do tubarocopteroplano e os acessos fechados, chegava a oportunidade que os investigadores esperaram. A guarita estava isolada. Os dados de entrada e saída — tanto os arquivos físicos quanto os digitais — estavam ali, esperando por mãos pacientes e olhos atentos.

Os investigadores se moveram, seguindo a trilha deixada por Ringo e se desviando dos Dreadnoks que ainda desafiavam a ventania. Bonnie e Clyde rolavam e riam na lama. Ao passarem pelo centro das docas, os investigadores se aproveitaram das vigas de ancoragem e do casco dos barcos para não serem vistos por eles. Drill Pipe estava ocupado demais discutindo com o vento para perceber qualquer coisa, e eles só precisaram esperar LSZen acordar quase se afogando e se retirar para um dos contêineres-quarto. Charlotte e Yunuen iam fotografando tudo que podiam.

Finalmente, chegaram ao Hesperonis — o monstruoso veículo híbrido — e aos dois guardas que o protegiam: Einherjar e Skullface.

— Ok, quem é o melhor aqui em arrombamento? — pergunta Yunuen, repassando rapidamente a situação.
— Aí... eu fiquei de aprender mais, mas vacilei... — Mari se entristece.
— Eu vou. Me deem cobertura. — Vostok se voluntaria.


Vostok lança um olhar de soslaio aos guardas do Hesperonis. Eram colossos. Einherjar, um escandinavo gigantesco, ostentava uma cabeleira ruiva e uma barba trançada. Dois cinturões de balas cruzavam seu peito musculoso, tatuado com runas nórdicas. Sua jaqueta militar aberta revelava piercings feitos com balas de 7,62 mm nos mamilos e no umbigo. Em suas mãos, segurava uma metralhadora M2 Browning. Ao seu lado, igualmente imponente, estava um homem negro com o rosto inteiro tatuado como uma caveira branca, e o couro cabeludo tatuado com chamas. Vestia um colete balístico pesado, calças militares reforçadas e carregava um lança-chamas M2, com granadas e munições de espingarda pendendo de sua bandoleira.

Love Cruiser

Esperando o momento certo, Vostok avançou até a guarita quando os brutamontes olharam para o outro lado. Escondeu-se atrás do poste do telhado e das sombras da estrutura. Na próxima distração dos dois, ele se aproximou do cadeado, canivete em mãos. A primeira tentativa demorou demais e ele recuou. Na segunda, conseguiu destrancar e entrou silenciosamente.

Lá dentro, sem risco de ser visto, tomou seu tempo. Fotografou todos os arquivos que pôde. Ao acessar o computador, pediu ajuda a Hiyata Mamoru, que o guiou remotamente na quebra de senhas e navegação dos diretórios. Conseguiu um mapa do evento Nihon Hiro, além de logs de entrada e saída de pessoal da filmagem, materiais, mantimentos, veículos e presença de Dreadnoks. Imprimiu tudo na impressora matricial do local, limpou os rastros, colocou tudo no lugar, esperou o momento certo, trancou o cadeado novamente e retornou discretamente ao grupo.

— Temos muita coisa para examinar durante o almoço — comenta.
— Ihh... quando chegarmos já vai ser quase janta! — Mari brinca.

Whaler

Com a sensação de dever cumprido, os investigadores decidem recuar para seu esconderijo. O caminho ainda é longo — e eles ainda não estão seguros.

A volta foi tão ou mais tensa que a ida. Os investigadores cruzaram os túneis para se abrigar da chuva e evitar olhos curiosos.

— Essa chuva vai durar. Esperem o nível da água aumentar nas minas — comentou Yunuen.

— Yu, mas aqueles Dreadnoks que a gente viu na volta... vão acabar se abrigando nas minas também, né? — perguntou Mari.

— Bem pensado, tonta — respondeu Yunuen, seca.

— Ué... se é bem pensado, então não é coisa de tonta... — falou Mari, cautelosa, fazendo Charlotte rir.

— É coisa de tonta sim. Se veio de você, é coisa de tonta — rebateu Yunuen, agora fazendo Charlotte gargalhar.

— Ah, eu sei que é um apelido carinhoso! — Mari respondeu, resignada.

Mas, na volta, Mari se mostrou extremamente competente. Inspirada por uma música que cantarolava, acabou sendo quem mais ajudou o grupo a se ocultar. Foi a mais atenta aos arredores.

— Você tava certa, Mari. Estão todos aqui — disse Yunuen, ao ouvirem uma verdadeira festa nos túneis. Os Dreadnoks Pitgirl e Powercord discutiam sobre como sintonizar a rádio americana.

— Chega de música em japonês! Cadê as músicas americanas?! — gritou Bulky Boot.

— Espera, Booty! É só rodar pra esquerda que a gente acha — disse Pitgirl com uma voz surpreendentemente doce.

— Não, Pity, não é pra esquerda. Tenta rodar pra direita! Eu juro que a gente ouviu Elvis pela direita — falou Powercord.

— Não, Yu, não tá todo mundo aí, não. Saca só: a gente ouviu três falando — a Booty, a Pity e o Powercord. Eu consigo ouvir um quarto dançando... então tem quatro. Mas tá sentindo o cheiro de hambúrguer? Tem um fritando, então são cinco aí. Faltam dois — explicou Mari com o cuidado de uma aluna explicando para a professora.

Yunuen arregalou os olhos e fez uma careta impressionada.

— Pô... tô impressionada, tonta. Você tem razão!

Dito e feito. Logo ouvem outro chegando, com um vozeirão carregado de sotaque alemão:

Oz burguers estão prontos, leute! — anunciou Herr Flail.

Powercord foi o primeiro a avançar para pegar um hambúrguer.

— Você primeiro não, schwarze! Respeite a hierarquia genética! Primeiro Fräulein, Pitgirl, klaro?! — falou o racista Herr Flail.

— Aí eu concordo! A minha Pity primeiro! — disse Powercord, completamente indiferente ao racismo.

Rat Eater, no entanto, roubou um hambúrguer sem pedir permissão e voltou para a escuridão dançando.

— Eslavo imundo! — resmungou Herr Flail.

A gargalhada de Bulky Boot e Pitgirl ribombou pela mina.

— Ok, não vamos conseguir passar por aí. Vamos por fora — aconselhou Yunuen.

— Yu... mas se tem cinco aí, os outros dois devem estar se refugiando na torre de vigia. Não vai ser fácil passar — deduziu Mari.

Herr Flail e Rat Eater


— Quem é você e o que fez com a Mari? — perguntou Yunuen, olhando surpresa para ela.

Quench my fire with gasoline? — respondeu Mari, brincando e dando de ombros, citando o refrão da música que cantarolava.

— Vai ser difícil passar, mas não impossível como nesse túnel. Vamos ser cuidadosos e conseguimos — disse Yunuen.

— Na real... a gente pode ir pelo teto. Lá tem umas ruínas que a gente pode usar pra se esconder atrás — sugeriu Mari novamente.

— Você tá pegando fogo, menina. Não lembro dessas ruínas — comentou Yunuen.

— É verdade! O Vostok até usou uma delas pra se esconder dos bandidos que procuravam ele lá em cima — confirmou Charlotte, e Vostok assentiu com a cabeça.

— É isso, então. Vamos pelo teto. Valeu, inspetora tonta — disse Yunuen, dando uma palmada reconfortante no ombro de Mari.

Os investigadores avançaram com cautela pelas ruínas da antiga área de mineração, agora tomadas pela umidade, fungos e raízes entranhadas. Após uma lenta travessia, chegaram à torre de vigilância — uma estrutura montada pela produção para “dissuadir” os participantes do Nihon Hiro de sair da área delimitada do jogo. Com o início da competição, a torre estava ocupada.

Dois Dreadnoks vigiavam o topo. Um deles era magro, careca, o corpo inteiro tatuado com cenas do velho oeste americano: saloons em chamas, duelos sob o sol, esqueletos de búfalos. Usava apenas botas de vaqueiro, um cinturão de balas, uma cueca preta desbotada e uma capa de chuva transparente. Operava o holofote com a destreza de um menino entediado brincando com um inseto.

O outro era o oposto: grande, forte, carregava no cinturão um martelo elétrico conectado a uma bateria presa às costas. Também portava um rifle de precisão. Tinha uma longa cabeleira e uma barba espessa, cuidadosamente aparada. Vestia um colete militar verde, calças camufladas surradas e botas de combate, além de uma capa de chuva improvisada. Enquanto o magrelo nu fazia piadas e brincava com a luz, o grandalhão permanecia impassível, olhos no horizonte.

Aproveitando o fato de ambos estarem focados em vigiar a frente da torre, os investigadores contornaram a base pelas sombras densas e por entre os escombros, passando despercebidos. Finalmente alcançaram a floresta tomada pela mata, onde haviam montado seu esconderijo — na antiga área residencial e administrativa das minas.

Yunuen acendeu uma pequena fogueira dentro do que um dia fora um ofurô, agora afundado e coberto de musgo. A depressão do terreno escondia a luz, mantendo o esconderijo seguro. Com o abrigo garantido, o grupo se debruçou sobre os achados da missão.


O que foi encontrado:

📍 Mapa da Ilha:
Era o mapa mais atualizado de Sarushima, com anotações de como eram as antigas instalações e os planos para a nova estrutura. Curiosamente, o mapa havia sido finalizado antes da chegada da equipe do Nihon Hiro, o que levantava dúvidas: talvez os obstáculos reais da competição tenham mudado de lugar.
Os relatos da COSMICA sobre a localização dos alojamentos dos participantes e a torre de rádio foram particularmente úteis, já que não estavam marcados no mapa.


📋 Registro de Entradas e Saídas:
Um caderno simples, mas funcional. Contava com anotações de:

  • Entrada da equipe de filmagem, direção, segurança e participantes.
  • Saída e chegada de patrulhas marítimas (indicando três turnos por dia).
  • Uma anotação sombria: a saída de seis “perdedores” na noite anterior, levados pelo Hesperonis para destino desconhecido.

🧰 Inventário da Ilha:
O inventário revelou o que estava disponível tanto para o evento quanto para a segurança.

Itens para o evento (disponíveis ou usados como armadilhas):

  • Pregos, explosivos, cordas, estacas, maçaricos
  • Ferramentas de construção pesada
  • Armas brancas
  • Armas de fogo (pequeno e médio calibre)
  • "Serra elétrica x3"
  • "Minas terrestres x30"
  • "Lança-chamas x2"
  • "Granadas x30"
  • “Mãe de todas as armas x1”
    (Ninguém soube dizer o que exatamente era isso — o nome estava entre aspas e escrito à mão.)

Armas da Equipe de Segurança:

  • Armas leves e médias em abundância
  • Armas pesadas (lança-foguetes, metralhadoras .50, lançadores de granadas)
  • Lança-chamas, minas, explosivos
  • Suprimentos para tropas blindadas

Veículos:

  • 19 jet-skis
  • 5 lanchas de ataque (uma chamada "Dreadnok Maw")
  • 1 navio torpedeiro
  • 6 veículos utilitários blindados
  • 1 veículo chamado "Sugar Rush" (sem descrição técnica)
  • 1 helicóptero Bell 206 batizado "Hell’s Belle"

Armas Navais:

  • Torpedos
  • Foguetes
  • Mísseis terra-terra e terra-ar

🦴 Registro Biológico:

  • Algumas entradas misteriosas incluíam nomes em português:
    • “Rex”
    • “Lixa Seca”
    • “Duquesa”

Não havia explicações adicionais, mas a seção era intitulada “Animais de Interesse”.

Enquanto examinavam os documentos e escutavam a ilha ao redor, ficava evidente o nível de violência do jogo. Ao longe, sons de luta ecoavam entre os trovões: tiros espaçados, uma explosão forte, súplicas por misericórdia abruptamente cortadas. Um grito lancinante de alguém caindo de grande altura, seguido de um baque seco.

Em meio à tensão crescente, começaram a discutir os próximos passos.

Vostok

Yunuen, com o cenho franzido e a voz grave, resumiu o quadro:
— Conseguir provas contra o Nihon Hiro não é o problema. Já temos o bastante pra mostrar que isso tudo aqui é uma monstruosidade criminosa. O verdadeiro desafio... é a saída.

Ela explicou que mesmo que a Guarda Costeira viesse com força total, os Dreadnoks eram malucos o bastante — e armados o suficiente — para afundar qualquer embarcação antes que ela atracasse. Eles poderiam transformar cada barco num posto de artilharia flutuante. Além disso, havia o helicóptero... e o Tubarocopteroplano. Yunuen duvidava que apenas cortar as linhas de combustível fosse suficiente para detê-lo.

A única solução real seria demolir tudo: uma destruição completa da “marinha Dreadnok”. Mas havia um problema crucial — nenhum deles era perito em explosivos.

Após discutirem métodos tradicionais de sabotagem e entenderem que só eles não seria o bastante, eles suspiraram em silêncio. O caso era mais profundo do que esperavam.

Charlotte foi a primeira a sugerir:
— Podemos começar observando os Dreadnoks. Tentar identificar os pontos fracos de algum deles. Intimidar, enganar, ou até convencer alguém a cooperar. É arriscado, mas...

— Vale a pena tentar. — completou Vostok.

Em seguida, a conversa desandou num tipo de “análise de novela grotesca”:

— Pitty provavelmente namora o Powercord — comentou Mari com naturalidade.

— É Pitgirl. — corrigiu Charlotte, sem perder o tom.

— Isso aí! Mas reparei também que tinha um magrinho calado. O careca grandão chamou ele de “Eslavo imundo”.

— O “eslavo imundo” é o Rat Eater. E o careca racista é o Herr Flail. — informou Yunuen, com precisão.

— Ué, eu percebi que o nome do magrelo era Rat Eater... mas não me toquei que o careca era esse tal Herr Flail.

— Ele tinha sotaque alemão, então é fácil. Nome alemão é dele. — disse Charlotte com lógica básica de detetive.

— A tonta é burra. — cravou Yunuen.

— Tá, tá... podem me chamar de tonta burra, mas eu notei mais coisa! — rebateu Mari, animada. — Tinha uma mulher grandona, Bulky... acho que era Bulky Boot. Tipo “bota grande”? Sapatão?

— Isso mesmo. Bulky Boot. — assentiu Charlotte. — Me chamou atenção as luvas dela...

— Vocês não lembram? O careca magrelo chamou ela de “puta lésbica” antes. Faz sentido o nome. — comentou Mari, casual como se falasse do elenco de reality show.

— Também lembro dos nomes dos do porto: Cheeky Bastard, Busty Bass, Slice Mike... — listou nos dedos.

Vostok observava tudo, surpreso com a quantidade de informação que elas haviam memorizado.

— Não achei que esse tipo de observação seria tão útil. — confessou, sincero.

— Né? Eles têm uns nominhos bem esquisitos. — disse Mari sorrindo pra ele.

— Esses nomes ridículos são codinomes, óbvio. — disse Yunuen, balançando a cabeça.

— Hm... mas e se forem nomes de verdade? — Mari provocou, com um sorrisinho.

Yunuen nem piscou:
— Tu acha mesmo que Pitgirl e Powercord são nomes reais? Se tua mãe tivesse te dado o nome de "Tonta", qual apelido eu ia te dar, tonta?

Mari baixou um pouco os olhos, meio triste:
— Meus pais adotivos que me deram meu nome...

Yunuen congelou por um instante. Depois, ergueu as mãos diante do rosto e fez voz de bebê:
"Boohoo!" — fingiu choro, zombando. — Pronto, drama encerrado. Vamos focar no que importa.

Charlotte ficou pasma. Mari revirou os olhos, mas deu de ombros.

Charlotte voltou ao tema da sabotagem, mas dessa vez sugerindo que se sabotasse a energia do local para dificultar a vida deles e prejudicar o jammer de comunicação.

- É, mas precisa ser feito de forma a parecer uma casualidade, soviético sabe fazer isso, não é? – Yunuen pergunta.

- Sim, isso também é útil para até pedirmos ajuda externa para lidar com os explosivos, existem peritos em explosivos em sua equipe? Porque se não eu sei que existem na GIAF. – Rebate Vostok.

- Existe sim, a loba adora mandar coisas pelos ares. – Fala Yunuen mencionando a agente Boucher.

- Bom, também é crucial que coletemos as informações de Cósmica, ela pode ter informações vitais sobre a localização do QG deles. – Menciona Vostok novamente sua filha.

O grupo voltava à sua forma.

Yunuen ergueu a mão, chamando a atenção de todos. Do lado de fora, os sons de batalha haviam diminuído. No lugar deles, ouviam-se motores, um solo de guitarra estridente e uma voz amplificada por um megafone:

E CHEGAMOS AO FIM DO PRIMEIRO DIA OFICIAL DO NIHON HIRO! PARABÉNS AOS 50 BRAVOS NIHON SENSHI VITORIOSOS!
POR FAVOR, FORMEM UMA LINHA ORDENADA INDICADA PELA EQUIPE DE SEGURANÇA E APROVEITEM O BANQUETE DA VITÓRIA!
OS PERDEDORES, FAÇAM UMA LINHA ORDENADA INDICADA PELOS SEGURANÇAS E DIGAM TCHAU-TCHAU!
PERDEDORES QUE NÃO CONSEGUEM ANDAR, USEM SEUS SINALIZADORES PARA SEREM ENCONTRADOS PELA EQUIPE DE SEGURANÇA!

O anúncio foi repetido várias vezes, enquanto os motores dos veículos varriam o perímetro da “área do jogo”.

De repente, um som de luta irrompeu ao longe. A voz no megafone retomou com sarcasmo:

HEY! EU AVISEI QUE ACABOU POR HOJE, MANÉ!

Um tiro seco ecoou logo em seguida.

OPS! AGORA TEMOS APENAS 49 VITORIOSOS!
MAS ISSO É BOM, PORQUE AGORA DOIS PERDEDORES SERÃO SELECIONADOS PRA LUTAR ENTRE SI... E O VENCEDOR SE JUNTA AOS VENCEDORES!

Os investigadores, atentos, viram não muito longe uma coluna de fumaça vermelha: um sinalizador. Provavelmente de algum "perdedor" ferido, aguardando a tal “equipe de segurança”.

A brutalidade era evidente. Mas também revelava outra coisa.

— Eles preferem que todos vivam. — comentou Vostok, pensativo.

— É. Por mais macabro que pareça, ainda é uma operação de recrutamento... só que agora com hierarquização. — concluiu Yunuen.

— Então... eles não querem matá-los? — perguntou Charlotte. — E os tiros, as explosões, as quedas?

— Esses filhos da puta são malucos. E o estilo mokumentary do Poser é exatamente isso: choque, violência estilizada. Uns ovos quebrados no caminho? Eles chamam de "colateral poético". — respondeu Yunuen com asco.

— Acho que... dois ou três morreram. — disse Mari, com pesar.

— Três. — corrigiu Vostok, seco.

— Então todos os participantes têm esses flares? — refletiu Mari.

— É. Pode ser útil. Se encontrarmos algum morto, podemos esconder o corpo e um de nós pode se passar por ele se for necessário. Mas já temos seis infiltrados. Isso serviria só pra confundir os inimigos ou como último recurso. O mais importante continua sendo: não podemos ser pegos. — disse Yunuen, encarando cada um deles.

Ela então se levantou e retomou o foco da missão.

— Hoje vamos voltar ao porto. Fotografem tudo que puderem do movimento de retirada dos “perdedores”. E tirem fotos dos Dreadnoks também. Mas, sem flash. Usem a luz natural. Se não der... desenhem. Uma de vocês duas é artista, certo?

Mari e Charlotte responderam quase ao mesmo tempo:

Eu!

Trocaram um high five animado.

— Ok, tonta. Tudo certo, boneca.
(Soviético, vambora.)

Yunuen puxou o zíper da jaqueta, inspirou fundo três vezes e apertou o cabo de sua lança.



— Eles vão estar caçando perdedores, o que significa que estarão atentos. Redobrem os cuidados.

E assim, os quatro voltaram à escuridão da selva úmida, com o som da guitarra ainda ecoando ao fundo, como um hino sombrio da distopia em que haviam se infiltrado.

A noite parecia respirar perigo.

Sob o véu espesso da chuva, os investigadores avançavam entre os escombros e trilhas tomadas pela lama. O céu se rasgava em relâmpagos silenciosos, enquanto o som de motos de motocross ecoava pela mata como predadores uivando à caça. Flashes de lanternas varriam os arbustos. Em meio à ventania e ao barro, o infame veículo de megafone cruzava a ilha mais uma vez, seu anúncio deformado por um solo infernal de guitarra distorcida, como se a própria realidade gritasse por socorro.

Yunuen, à frente, parou subitamente. Seu rosto, ensopado de água e lama, mantinha-se impenetrável.

— Acima de tudo, foco no objetivo. — sua voz era baixa, mas cortava o ar. — Devemos chegar às docas. Custe o que custar.

O grupo assentiu em silêncio. A tensão era palpável. Se os Dreadnoks ainda estavam vasculhando a ilha, era porque nem todos os “perdedores” haviam sido localizados. Isso poderia jogar a missão no caos — ou abrir oportunidades imprevisíveis.

Avançando por entre árvores retorcidas, Mari avistou algo que a fez parar de súbito.

— Ali. Aquilo é... um flare?

Era. Um bastão de sinalização, intacto, com a tampa ainda lacrada. Um tom verde intenso, deslocado na paisagem úmida e escura. Estava simplesmente... jogado. Abandonado no chão.

Vostok se agachou, examinando o objeto.

Blyat. — sussurrou. — Não há rastro de pegadas. Quem o deixou aqui queria que ninguém o seguisse. Ou... estava desesperado.

— Será que ele não sabia usar? — arriscou Mari, a voz baixa mas aflita.

Ele está por perto. Temos que encontrá-lo. — Charlotte se adiantou.

Yunuen, até então silenciosa, ergueu o rosto, como se farejasse o ar. Seu olhar cortou a mata.

Silêncio, idiotas! Me sigam. Eu sei por onde ele foi.

— Como?! — Vostok perguntou, surpreso.

Mari apenas fez um gesto: “Confia. E anda logo.

Eles o encontraram não muito depois. Um rastro de sangue, tênue, mas constante, levava até um jovem caído, com uniforme do Nihon Hiro — número 66 estampado nas costas. Estava sem capacete, sem força, sem esperança. Tentou se arrastar quando ouviu os passos dos investigadores. Gemia baixo, em agonia, enquanto seu corpo deixava uma trilha de morte anunciada.

Yunuen observou de longe, em silêncio. Depois murmurou, com um peso antigo na voz:

— Pobre diabo. Está morto e não sabe.

Mas Charlotte não aceitou o destino.



— Não. Eu vou salvar ele.

Sem esperar aprovação, correu até o garoto. Mari logo atrás. Vostok fechou a retaguarda, e Yunuen, contrariada, acabou se juntando ao esforço.

Charlotte canalizou toda sua energia espiritual, seu chi, sua alma — pressionando as mãos ensanguentadas sobre a ferida. Luz e calor fluíram de seus dedos, rompendo a carne infectada com força vital ancestral. O garoto gritou, mas viveu.

Yunuen e Vostok rapidamente improvisaram uma cirurgia brutal: costuraram a artéria com linha dental esterilizada e mãos firmes, sujas de terra. Um trabalho cirúrgico que teria feito um médico de campo veterano suar. Mari, tremendo, preparou soro e improvisou uma intubação com o que tinham à mão.

Enquanto lutava para sobreviver, o jovem murmurava:

— “Não era só um jogo... Eles... nos marcaram...”
— “Não olhem dentro da porta vermelha...”

Então, apagou.

Yunuen olhou para o céu, depois para o corpo quase sem vida entre eles.

— Abortar missão. Vamos levá-lo para o esconderijo. Agora.

A operação de retirada foi um inferno.

Yunuen dividiu as ordens com precisão cirúrgica: Mari lacrou a ferida com fita isolante e gaze para conter o sangramento. Vostok seguia à frente, cobrindo o rastro de sangue com terra e folhas. Charlotte, exausta, ajudava Yunuen a carregar o jovem como podiam.

Carregando o garoto entre a lama e as sombras, os investigadores seguiram por veredas estreitas, desviando de patrulhas, evitando fachos de luz e rastros sonoros. Yunuen, com os sentidos felinos em alerta, assumiu a dianteira estratégica: orientava o grupo e eliminava rastros com precisão quase sobrenatural. Cada passo era uma sentença suspensa.

Ao chegarem às ruínas do antigo balneário dos mineiros, o grupo adentrou a mata fechada que envolvia os escombros. Acima, a copa das árvores formava uma abóbada natural, escura e úmida, abafando sons e ocultando luzes. O bote camuflado jazia imóvel entre galhos cobertos de musgo. E no centro daquele labirinto natural, o velho onsen, agora seco, servia como o santuário secreto da missão.

Eles desceram cuidadosamente com o corpo ferido do garoto, acomodando-o no fundo da estrutura de pedra. Mari, como um ritual, conectou os fones de ouvido dele a um walkman surrado e pôs para tocar uma fita de pop rock suave. A música abafava os trovões distantes e as memórias ainda vivas do horror.

Charlotte e Vostok cuidavam dos curativos com delicadeza. Charlotte ainda tremia — drenada física e espiritualmente — mas recusava qualquer pausa. Vostok trocava os gazes, atento aos sinais vitais. O rapaz ainda estava vivo. Por milagre ou por força de vontade.

Enquanto isso, Yunuen ainda não havia retornado.

Ela patrulhava os arredores. Apagava pegadas com folhas úmidas e lama, examinava o solo por qualquer perturbação que indicasse aproximação. Seu instinto — de guerreira e predadora — a impelia a garantir, a todo custo, que ninguém mais soubesse daquele santuário. Só depois de uma ronda completa, e convencida de que não havia sinais de intrusos, ela retornou. Escorregou pela borda do onsen e se juntou aos outros.

Mari ergueu os olhos e sorriu aliviada. Mas Yunuen não sorriu de volta.

Está limpo. Por enquanto. — disse, a voz rouca. Sua silhueta ainda parecia à espreita, como se a floresta estivesse atrás dela.

Ela se ajoelhou, observando o garoto. Respirou fundo. Então quebrou o silêncio:

O que vamos fazer com esse moleque? — sua voz não era fria, mas também não era calorosa. Era pragmática. Medida.

Mari, sem hesitar, respondeu:

— A gente não podia deixar ele morrer, né, Yu?

Yunuen assentiu, os olhos fixos nos ferimentos recém-tratados.

— Não... é. É claro. — ela murmurou, baixando o olhar, mordendo a unha do polegar. Um gesto que denunciava o que ela nunca dizia: medo.

Charlotte, recostada contra a parede de pedra, abaixou a cabeça.

— Me desculpem... Eu não achei que isso poderia prejudicar tanto...

Mari não deixou o silêncio crescer:

Nada disso! Você fez certo, Charlotte. Se fosse comigo, eu teria feito igual. Vostok assentiu com firmeza.

Yunuen suspirou. Seus olhos percorriam cada um deles. Finalmente disse, sem muita força na voz:

— A tonta tem razão. Tem gente na Força que... teria ordenado que deixássemos ele. Eu devia ter feito isso. Mas não fiz. Então a culpa é minha.

Porra nenhuma! — Mari ergueu o tom. — E se fosse um de nós, hein? Ia ser só mais um corpo no mato?

— Entendo o ângulo moral. — interveio Vostok. — Mas isso pode nos expor. Precisamos de um plano.

Yunuen voltou a encarar o garoto. Frágil, desacordado, respirando com a ajuda do soro e da música.

Ele era só uma criança.
Mas agora, era também um peso. Uma variável perigosa. E uma fagulha de esperança.

Eles não sabiam quanto tempo ele viveria. Ou se os Dreadnoks notariam sua ausência. Mas sabiam que haviam cruzado uma linha.

Naquela noite, não venceram a guerra. Mas impediram uma morte.

E isso era o bastante... por enquanto.

Sarushima, 20 de Julho de 1989

A manhã irrompeu como um estalo distante de trovão abafado — calor, umidade e tensão pairando sobre o santuário improvisado nas entranhas de Sarushima. Vostok já estava desperto, o olhar fixo na vegetação densa que murmurava sob o vento. Sem uma palavra, sacudiu o ombro de Yunuen. Ela despertou num pulo controlado, mão já buscando instintivamente a faca na lateral da cintura. A selva havia ensinado a não confiar no sono.

Charlotte, por sua vez, despertou com mais lentidão — mas sem preguiça. A recuperação do esforço mental da noite anterior ainda pesava em sua mente. Ao virar o rosto viu que Yunuen havia se deitada ao lado dela, e agora estava sentada, apertando o meio dos olhos para limpar a nuvem de cansaço que ainda teimava pairar sobre ela. 

Mari finalmente estava em sono profundo, após ter tido dificuldade de dormir na noite anterior. Ela havia deslizado para o lado de Charlotte no meio da madrugada, colando-se como se o corpinho da grota em afetuoso aconchego. Yunuen respirou fundo achando a cena bonita, mas não demonstrou. Ao invés disso, acordou Mari com leveza.

A jovem acordou como um motor elétrico com sobrecarga: os olhos arregalados, a respiração rápida. Mas logo se recompôs. Em pouco tempo, já estava com as latas de ração dispostas e fervendo em uma panela improvisada sobre a fogueira de lenha seca.

Seis latas: duas de bife, duas de camarão, uma de peixe — para o garoto. E uma de carne para Ringo, o cão. Mari cantarolava "Asia no Junchin" da banda Puffy enquanto mexia com uma colher entortada, mas seu pé não parava de balançar. Ansiedade pulsava em cada gesto.

— Eles ainda estão procurando, — disse Vostok, quebrando o silêncio, enquanto ajustava a antena do receptor criptografado. — Dois Dreadnoks varreram a parte norte durante a madrugada. Ringo os farejou de longe. Tive que camuflar o cheiro da trilha com cinzas.

Yunuen assentiu, os olhos vermelhos de vigília.

— São imprevisíveis. E isso me irrita. Daria tudo por um inimigo previsível.

Enquanto falavam, Charlotte verificava a própria mochila. Já havia sentido, à distância, que algo aconteceria hoje. Ainda não sabia o quê.

Vostok tentou mandar um novo sinal para Yanna. A antena emitiu dois estalos curtos e se calou. Bloqueio de sinal ainda ativo. A única informação que possuíam era a área do ponto de encontro. Sem coordenadas. Yunuen se ofereceu para rastrear Cósmica naquela área — se ela estivesse viva, seu cheiro ou pegadas deixariam vestígios. Charlotte, embora hesitante, sabia que precisava ir — o contato mental com Cósmica poderia evitar armadilhas.

A decisão foi unânime: Mari ficaria. Seu treinamento médico era essencial para manter o garoto vivo. Mari não protestou, mas a apreensão estava estampada.

— Fiz uma lista do que perguntar pra Cósmica, — disse Mari, entregando um papel de caderno dobrado a Charlotte. — E diz a ela que eu vou continuar chamando ela de Konya. Quem mandou ela ser mentiros? Diz isso para ela! — Ela fala animada.

Yunuen se agachou diante da amiga, o olhar firme:

— Vai ficar bem mesmo, tonta?

— Vou, vou! — Mari respondeu, erguendo os dois polegares e forçando um sorriso largo. — Fiz até uma lista do que fazer hoje. E quando Rey chegar, vou perguntar um montão de coisas.

A despedida foi breve. Como exige a guerra.

Ao saírem do abrigo, o caos os envolveu como um trovão subterrâneo. No horizonte, o barulho de motos misturava-se a latidos e roncos de motores pesados. Uma rajada de vento carregou poeira e som:

— “Sessenta e seis! Se pode nos ouvir, apareça, moleque!”

Era o jipe blindado dos Dreadnoks. E em cima dele, como uma estrela de um apocalipse punk, Busty Bass dedilhava um solo de guitarra como se estivesse regendo a destruição. O som era ensurdecedor. A mensagem, clara: o “jogo” não havia parado. Só ficara mais cruel.


Yunuen rangeu os dentes.

— Eles perderam só um perdedor. O nosso garoto. Agora ele é um troféu. Se acharem ele, não vai sobrar nem pedaço.

Vostok analisou o terreno. O bloqueio era total. Só havia uma opção: os túneis de mineração. Eles mergulharam nas trilhas sombrias, ocultando-se entre cipós, raízes e fungos. Ringo havia ficado para trás com Mari, Yunuen acredita que ele seria mais útil fazendo companhia a energética brasileira.

Nas entradas antigas da mina, a luz do sol já não os acompanhava. Ali era o domínio da escuridão absoluta.

Charlotte ativou seus binóculos de visão noturna. Vostok ajustou o próprio visor. Yunuen, mais uma vez, confiava nos sentidos. Avançaram.

Mas então, um deslizamento sutil, um grito contido.

Charlotte escorregou. Caiu sem som até que a escuridão a engoliu completamente.

Seis metros abaixo.

— Charlotte?! — gritou Vostok com a mente, tentando manter a boca fechada.
— Estou bem! Não consigo ver nada. Estou... caída. Mas acho que só desloquei algo.

Charlotte não via nada. Nem mesmo o teto da mina. Para piorar, na queda, seu ball point do pescoço girou. Sua cabeça agora estava virada para trás, imóvel. Ela se mantinha quieta. Muito quieta.

Yunuen começou a descer.

Mas então, vozes.

Quatro. Vindas do túnel à esquerda.

— “Tem certeza que viu ele, Scrap?” — resmungava Love Cruiser, irritada.
— “Vi sim, e Duquesa e Rex pegaram cheiro!” — dizia Dock Scrap, com convicção.
— “Caralho! Não dá pra ver nada aqui! Como eu vou atirar no moleque?” — resmungava Crazy Revolver, tilintando metal.
— “Se preocupa não, Crazy. Se ele não quiser cooperar, eu transformo ele em polpa!” — rosnava Bulky Boot, batendo as manoplas energizadas.

Vostok prendeu a respiração.

Yunuen congelou no cabo.

Charlotte, no fundo, entendeu tudo.

Apenas a respiração da floresta permaneceu.

Tudo podia dar errado.

O ar no túnel era denso, sufocante, carregado com o cheiro de terra úmida, ferrugem e suor. Yunuen deslizava graciosamente pelas paredes estreitas, os pés descalços aderindo à pedra com a leveza felina de alguém que possui músculos específicos nas mãos e pés para dominar qualquer tipo de escalada. As botas dela guardadas por Vostok. Ela não precisaria delas.

Acima, a respiração contida de Vostok se misturava com o leve gemido do metal quando ele engatilhou sua velha Makarov. Escondeu-se numa das fendas do túnel, o corpo fundido à sombra como um predador soviético à espreita. Mais abaixo, Charlotte, imobilizada após a queda, mantinha a cabeça virada num ângulo torto e cruel. Apesar da dor, ela sabia: ficar perfeitamente imóvel era sua única chance.

Foi então que se ouviram os latidos. Duquesa e Rex, os cães dos Dreadnoks, aproximavam-se rápido — os ecos de suas patas afiadas se espalhando como garras pelo labirinto. E junto deles, as vozes inconfundíveis da gangue: os mercenários selvagens com seus nomes de guerra e humor de quinta.

De repente, um estalido seco de madeira.

"AAAAAÍ! Acho que quebrei meu pulso!" — gritou Crazy Revolver ao despencar numa fissura oculta.

"Seu idiota! Olha por onde anda!" — rosnou Bulky Boot.

"Aí, porra, quem vai tirar ele de lá?" — bufou Dock Scrap.

"A culpa é sua, Scrap, por ter nos levado a esse túnel fedido!" — chiou Love Cruiser.

O caos se instalou como uma orquestra dissonante. Insultos voavam como pedras. Vozes sobrepostas. Até que Bulky Boot, impaciente, resolveu descer — e tropeçou, caindo em cima do companheiro ferido.

"AÍ, BULKY! Que bunda macia que você tem! Tem certeza que só gosta de mulher?"

"Cala a boca, imbecil, ou quebro esse teu pau duro!"

"Acho que você já quebrou… Mas tudo bem. Ainda tenho um comprimido de oxicodona aqui no rego!"

Com um sorriso maníaco, Crazy Revolver tirou a pílula da cueca, mastigou-a e gritou:
"Ah! Já tô bem!"

Yunuen ouvia imóvel à cena toda, encolhida como uma sombra a meio caminho da descida. Com um toque da mente, ela alcançou os pensamentos dos aliados:

"Não se movam."

Vostok e Charlotte obedeceram. Silêncio absoluto. Até que, depois de tropeços, quedas e mais alguns insultos, os Dreadnoks conseguiram sair da fissura — Crazy Revolver mais carregado que ajudado.

Mas Love Cruiser ainda tinha um plano.

"Vou explodir esse túnel! Se o moleque estiver aí, ele morre soterrado! Ouviu, moleque!? Eu tenho um lança-granadas comigo... meu querido Nirvana!"

No mesmo instante, o peito de Vostok afundou. O aperto no ar rarefeito o atingiu como um soco.
Claustrofobia. Lembranças enterradas. Gelo nos pulmões.

Yunuen o alcançou mentalmente.

"Respira. Comigo. Assim. Um, dois..."

Ele a seguiu, suando frio. O tremor passou.
"Procure uma fenda com teto sólido. Agora."

Vostok rastejou. Achou uma abertura estreita, escorregou por ela, encaixando o corpo como uma engrenagem de sobrevivência. Charlotte continuava em silêncio absoluto, cabeça virada, aguardando.
Yunuen rezava por pedra firme.

Então, a contagem começou.

"Dez... nove... oooito..."
Love Cruiser cantava como se estivesse seduzindo a própria morte.

"Cinco... quatro..."

Yunuen mergulhou. Protegeu Charlotte com o próprio corpo. A rocha tremeu.

"Dois... UM!"


Cinco explosões.

O chão urrou. Estalidos de rocha.
Luz.
Poeira.
Silêncio.

Quando tudo parou, havia apenas a respiração entrecortada de sobreviventes e a fumaça densa que preenchia o túnel como neblina de batalha. Charlotte abriu os olhos, surpresa por estar viva. Vostok se remexeu.

"Tenho... ainda... os pés."

Yunuen riu, aliviada e eufórica. Como um fio de luz que escapa da escuridão.

Ela então tocou o pescoço de Charlotte. Com cuidado, mas firmeza, ajustou a articulação. Um estalo.
Charlotte respirou fundo.
"Obrigada."

A subida foi difícil. Mas Yunuen liderou, ágil como uma onça, com Vostok apoiando-se e puxando as duas para cima.

A luz do dia explodiu diante deles como um milagre. O túnel, sufocante e úmido, finalmente se abriu numa clareira esquecida. Ali, sobre uma pedra grande e gasta, três figuras se sentaram — cobertas de poeira, suadas, ofegantes... vivas.

Eles riram.
Riram como quem escapou do fim do mundo por um triz.
Como quem volta do abismo com as entranhas ainda tremendo.

Vostok foi o primeiro a romper o silêncio. Seu olhar, moldado por décadas em zonas de guerra e corredores sombrios da inteligência soviética, deteve-se no pescoço de Charlotte. Aquele ferimento... não era um corte. Era uma fenda, como se sua pele fosse cerâmica trincada por dentro.

"Pronto, Charlotte. Pode fazer a tua coisa", disse Yunuen, ainda ofegante, a voz embargada pela adrenalina que aos poucos cedia.

Charlotte levou a mão ao pescoço. Seus olhos se fecharam com calma, e uma energia tênue — quase invisível — permeou o ar úmido. Em menos de um minuto, a rachadura desapareceu, como se o próprio tempo tivesse voltado para consertá-la.

Vostok observava em silêncio. Ele lera os dossiês da GIAF. Charlotte: uma entidade espiritual encarnada num corpo artificial. Uma derivação instável dos projetos Umbigo e Dolls. Possivelmente uma precursora da tecnologia que criara sua própria filha, Yanna. Mas ler é uma coisa. Ver... é outra.

"O que é você?", ele perguntou, direto como sempre.

Charlotte sorriu, com aquele brilho curioso de quem entende mais do que deixa transparecer.
"Não leu no seu relatório, G.I.?" — ela piscou — "Projeto Dolls. Como Annya, a precursora da Yanna."

Ele esboçou um sorriso de canto, vencido pela surpresa.
"É mais fácil acreditar em clones do que nisso."

Seu olhar então se voltou para Yunuen. Ainda arfava, mas seus olhos tinham o brilho leve de quem venceu a própria sombra. Ela o olhava com diversão — e uma ponta de desafio.

"E você... o que é, exatamente?" — perguntou. — "São algum tipo de Monster Squad?"

"Monster o quê, seu nerd?" — ela gargalhou, empurrando o ombro dele com o cotovelo.

"Monster Squad. Filme de terror comédia americano." — Vostok deu de ombros. — "Pensei que você, filha do capitalismo, soubesse melhor que eu."

"Eu não sou nerd, nerd." — retrucou ela, ainda rindo.

"Nem eu sou monstro!" — exclamou Charlotte, rindo também.

"Como sabe desse filme, afinal?" — perguntou Yunuen, arqueando a sobrancelha.

"Yanna queria ver filmes ocidentais... Vimos alguns juntos," respondeu ele, e seu sorriso perdeu algo, mergulhando em lembrança.

"Ah sim... E decidiram ver Nerd Squad?" — provocou ela. — "Por que não O Vento Levou, Nada de Novo no Front..." — olhou de soslaio, com um sorriso malicioso — "...ou Doutor Jivago, pra aprender como o comunismo é ruim, hein?"

Ele riu, rendido. Havia ironia. Havia também verdade.

Mas o riso cedeu. O clima pesou.

"Sério. Como você faz essas coisas? Também nasceu em laboratório?"

Yunuen respondeu com um sorriso amargo, mas sem perder o humor.

"De certa forma, sim. A Guatemala era um laboratório. Um experimento imperialista." — A voz agora vinha da parte mais funda dela. — "O teste era ver se a ditadura financiada pelos EUA conseguiria exterminar meu povo... Me matar antes mesmo de nascer."

Vostok não disse nada. Apenas assentiu, olhos baixos, como quem reconhece uma falha irreparável.

"Sinto muito."

"É? E onde estavam os soviéticos nessa hora, hein?" — cutucou ela, sorrindo outra vez, suavizando o peso.

"Acredito que... tentando vias diplomáticas." — disse ele, sincero.

Ela soltou o ar em uma risada breve. O pior já passara. Mudou o tom.

Yunuenm Charlotte, Vostok e um caramelo que se juntou a eles.

"Sou uma xamã, ou algo assim. Já viu minhas tatuagens? Representam B’alam, o jaguar. Um deus antigo dos K’iche’. São os deuses jaguares."

Charlotte arregalou os olhos.
"Então... Yunuen é uma deusa também?"

"Não, menininha!" — retrucou com um sorriso largo. — "Sou só xamã de uns deuses enxeridos. Eles me escolheram. Eu não pedi porcaria nenhuma."

"K’iche’... são astecas, certo?" — arriscou Vostok.

Yunuen revirou os olhos, teatralmente ofendida.

"Não, russo. Maia. Império Maia. Já ouviu falar?"

"Sim. Perdão." — ele riu.

Ela se ergueu com uma energia nova, batendo a poeira dos joelhos e soltando os ombros.

"Chega de papo nerd. Tua filha tá esperando. Se os produtores perceberem que ela sumiu do alojamento, ela vai se dar mal."

Charlotte e Vostok trocaram olhares e assentiram.
O trio se ergueu. Feridos, exaustos, cobertos de terra e suor — mas vivos.

Caminharam lado a lado, em silêncio respeitoso, em direção ao ponto de encontro. A chuva fina ainda caía, como um véu cinzento sobre a ilha. Mas por entre as nuvens, feixes de luz surgiam aqui e ali.

Como seus espíritos — alertas, exaustos, mas cheios de esperança.

Eles finalmente se afastaram o suficiente dos túneis em colapso. Do alto de uma das ruínas, avistaram o rastro que deixaram: mais Dreadnoks chegavam ao local onde o Love Cruiser detonara seis granadas. A destruição havia sido útil — uma distração perfeita que facilitou sua movimentação.

Chegando ao ponto de rendezvous, Vostok abriu uma escotilha oculta. Um a um, mergulharam de volta nos túneis subterrâneos — era ali que Yanna, a Cósmica, deveria estar esperando.

Mas encontrá-la se provou mais difícil do que esperavam.

Cósmica também havia percebido o aumento incomum na presença dos Dreadnoks. Sem conseguir contato com Vostok, ela interpretou os passos que ouvia como ameaça — e iniciou sua evasão. Confundira aliados com caçadores.

E ela era boa nisso. Tática evasiva, camuflagem, uso dos pontos cegos. Até mesmo o faro espiritual de Yunuen parecia frustrado.

“Droga, ela esteve aqui!”, rosnou Yunuen, socando uma parede coberta de limo. “Cacete, soviético! Por que tua filha não coopera?!”

Vostok manteve a calma, como um agente acostumado ao caos.
“Ela deve ter notado os Dreadnoks. Deve estar evitando contato até confirmar se somos aliados ou inimigos.”

Mas Yunuen não se deu por vencida. Fungou o ar com intensidade, puxando com raiva a umidade e o cheiro dos túneis.

“Mas eu vou encontrá-la!”
Ela tomou uma curva decidida, e os outros a seguiram — confiando no instinto de caça da guatemalteca.

Mesmo assim... nada.

“Eu juro que eu…” — ela interrompeu a si mesma, frustrada.

“Calma, Yunuen, você vai achar ela,” disse Charlotte, com voz suave.

Yunuen inspirou fundo outra vez.
“Acho que... por aqui.”
Mas dessa vez, a certeza tinha cedido a uma dúvida incômoda. Charlotte e Vostok se entreolharam, preocupados.

Já passava de uma hora desde que começaram a busca naqueles corredores claustrofóbicos. O concreto, embora ainda intacto, estava inchado pela umidade. Tinta descascada e musgo dominavam as paredes. A iluminação irregular projetava sombras densas, úmidas e inquietas.

E dessas sombras... olhos observavam.

Um “psiu!” rompeu o ar como uma lâmina.

Instintivamente, os três se viraram.
Vostok sacou a Makarov, postura baixa, dedo no gatilho.

Então, ela apareceu.

Emergindo da escuridão, surgiu Yanna — a Cósmica. Uniformizada com o traje do Nihon Hiro, o número 99 estampado no peito. Segurava o capacete sob o braço. Estava suada, suja de barro e água, os cabelos presos de maneira improvisada. Mas seu olhar era firme. Injuriado.

Vostok avançou para abraçá-la. Ela permitiu, imóvel. Não correspondeu.

Quando ele recuou, ela já vinha com as perguntas.

“O que aconteceu? Por que não se comunicaram?”

Vostok evitou a pergunta. Em vez disso, limpou o rosto e os ombros dela com as mãos calejadas.

“Você está bem? Está ferida?”

“Não. Isso é só chuva... e lama.”
Mas então ela se voltou para os demais. Seu olhar se aguçou, farejando perigo.
“Há cheiro de pólvora em vocês. Estão bem?” — Seus olhos pararam em Charlotte. — “Você parece ferida.”

“Estou sim, obrigada,” respondeu Charlotte, polida.

“Escapamos de uma explosão nos túneis,” acrescentou Yunuen.


“Há quinhentos metros daqui,” Yanna completou, os olhos afiados. Voltou à questão com firmeza.
“Por que a comunicação falhou?”
Ela ergueu o chip localizador, girando-o entre os dedos com leve indignação.

“O jammer da ilha bloqueou os sinais,” explicou Vostok, mostrando o radar defeituoso. O visor tremia, morto.

“Poderiam ter seguido minhas marcas,” ela rebateu, apontando para os símbolos discretos nas paredes — os mesmos que Vostok deixava no início da missão.

“Me desculpe, Cósmica. Não me ocorreu,” disse ele, o olhar pesado de culpa.

Ela estreitou os olhos, suspeita.
Yunuen bufou.

“Chega disso, tonta!” — disparou.

“Não sou tonta,” Yanna retrucou, seca.

“Tudo bem, tonta é a outra…” provocou Yunuen, mas mal terminou.

“Assumo que esteja falando de Mari. Ela não é tonta. É perspicaz.”

“Ok, Capitã Óbvia...” — Yunuen revirou os olhos. — “Vamos à tarefa.”

Ela tirou da mochila um mapa da ilha, cuidadosamente dobrado, e o estendeu no chão sujo.
Os olhos de Yanna brilharam ao vê-lo.

Os quatro se reuniram ao redor do mapa. A umidade gotejava do teto, ecoando pelas paredes úmidas. Era hora de decifrar o próximo passo.

A umidade do túnel era sufocante, mas a energia entre os quatro ali reunidos parecia ainda mais densa. Luzes de lanternas riscavam o mapa estendido no chão coberto de musgo, os olhos atentos de Yanna — a Cósmica — varriam cada linha, cada contorno como se fossem trilhas em sua própria mente.

Ela se ajoelhou com precisão quase militar.
Aqui, — disse firme, apontando uma estrutura no mapa com a unha suja de terra. — Aqui é o alojamento dos competidores.

Foi como destrancar uma memória. Um por um, os pontos no mapa começaram a ganhar significado sob sua voz firme.

Essa é a torre que vi, então o quartel deles deve estar aqui — apontou para a torre de transmissão. — E essa estrada... é a rota por onde levaram os perdedores. Isso aqui... só pode ser o porto. Vocês precisam ir até lá.

— Já fomos. — interrompeu Yunuen, casual, como quem revela um truque antes do aplauso.

Yanna olhou para ela com um sorriso breve, quase orgulhoso. Depois voltou ao mapa com concentração renovada.

— Essa via... é de onde entram e saem os veículos. O motorpool deve estar aqui. E esta torre... é a de comunicação interna. — Seus dedos se moviam rápidos, seguros.

Então franziu a testa, encarando pequenos "X" marcados com tinta vermelha.

— Poser falou de armas escondidas. Aposto que essas marcas são os esconderijos.

Ótimo saber disso, — comentou Yunuen, semicerrando os olhos. — Dá uma vantagem pra vocês nesse joguinho maldito.

— Sim, mas devem ser destruídas — emendou Charlotte, grave.

— Concordo. Essas armas são letais. Para evitar mortes, meu time e eu vamos localizá-las e queimá-las, se necessário. — Yanna falou com a frieza de quem já pensou naquilo muitas vezes.

— Preste atenção nisso aqui — Yunuen se agachou ao lado dela. — Existe uma arma que chamam de A Mãe de Todas as Armas. Algum tipo de explosivo, provavelmente. Se encontrá-lo... ou qualquer explosivo, guarde. Vamos precisar para destruir os navios dos Dreadnoks. Sabe lidar com explosivos?

— Sei. — respondeu Yanna, seca como metal batendo em pedra.

— Ótimo. Vai nos ajudar com isso quando chegar a hora.

— Com prazer.

— Quer uma cópia do mapa? — perguntou Yunuen.

Yanna tocou a própria têmpora.
— Não, já a tenho aqui.

— Acredite, ela tem. — disse Vostok, com uma ponta de orgulho.

— Outra gênio como a retardada. — comentou Yunuen, referindo-se a Rey.

Yanna arqueou uma sobrancelha.
— Você é rude.

— Rude eu? E você que nem abraça o próprio pai? Abraça ele, moleca!

Ela lançou um olhar resignado a Vostok e ofereceu um braço. Ele não hesitou — a abraçou firme. Ela não retribuiu com força, mas tampouco recuou. Era o máximo de afeto que deixava escapar.

— E como estão os membros do Dojo Oichi? — perguntou Charlotte.

Yanna hesitou.
— Estão bem... pelo menos meus quatro aliados mais próximos. — Fez uma pausa. — Havia outros doze. Quatro foram levados com os perdedores.

O silêncio que se seguiu foi mais pesado que qualquer explosivo da ilha.

— Fale sobre essa competição — pediu Yunuen. — Como funciona?

— Somos cinquenta agora. Não sabemos o que nos espera hoje, mas pelo mapa... aposto que seremos divididos em grupos.

— E o que motiva esses competidores a cooperarem?

— Além da sobrevivência? Dez milhões de ienes. Um contrato de celebridade para os seis melhores. O campeão será o Nihon Hiro. Os outros cinco, os Nihon Senshi.

— Que merda. — resumiu Yunuen. Vostok balançou a cabeça, concordando em silêncio.

Yanna piscou. — Os Dreadnoks buscam o 66. Ele vivie? Sabem de alguma coisa?

Charlotte sorri cansada e faz que sim. — Nós o salvamos, ele está conosco. Se recuperando, mas vivo.

Yanna lança um sorriso leve — Então apenas dois morreram. Bom.

— E sobre o Poser? Você o viu? — Yunuen perguntou, tensa.

— Sim. Mike Poser. Diretor do evento. Estava conosco ontem no banquete dos vencedores. Comida boa. Muito carismático... demais, talvez. Ele excitou os participantes à matança. Táticas de culto.

Charlotte estreitou os olhos.
— Culto?

— Sim. Líder carismático, seguidores obcecados. Poser incutiu neles a ilusão da invulnerabilidade. De que estão acima da lei. Algumas garotas foram assaltadas... não há privacidade nos alojamentos.

— Você está bem? — perguntou Vostok, direto.

— Sim. Mas o garoto que tentou se aproximar de mim... Rock o lançou longe. — disse com um sorriso discreto.

— Bom garoto. — Vostok respondeu, falando de Douglas Rock com respeito.

— Conheço esse Poser. Tentei pegá-lo por anos. — disse Yunuen. — Algum sinal de poder sobrenatural? Ele hipnotiza, exala alguma coisa?

— Se você quer saber se ele emite feromônio ou algum sinal sonoro que altera o comportamento humano... não. Mas a forma como manipula... é quase sobre-humana. Me lembra o Loki.

— O deus da mentira. — murmurou Charlotte, pensativa.

— Imaginei isso. — Yunuen falou.

— Mari pediu para lhe dizer que vai continuar chamando você de Konya. — disse Charlotte, provocando um sorriso raro em Yanna.

— Tudo bem.

— Ela também pediu para dizer que não devia ter mentido. E mandou um abraço.

— Foi necessário. Os abraços dela são bons.

Charlotte sorriu.
— Vou tentar ser sua amiga.

— Gosto de novas amigas.

Yunuen bateu as mãos, encerrando o momento.

— Ótimo! Temos o mapa, as coordenadas e um plano. A primeira missão: sabotar o bloqueador de sinal.

Macaco pode nos ajudar com isso. — disse Vostok, referindo-se a Hiyata Mamoru.

— E você — disse Yunuen, apontando para Yanna. — Não morra. E evite a morte dos outros. Vão para esses pontos, mas não façam parecer que sabem de tudo.

Yanna assentiu, determinada.

— Despeça-se do seu pai. E boa sorte.

Yanna o abraçou novamente, dessa vez com mais força. Vostok retribuiu com um gesto que misturava ternura e pesar.

Ela então se afastou. E sem dizer mais nada, desapareceu na escuridão do túnel.

O retorno foi mais árduo que o esperado. Não pela distância, mas pela tensão que se colava às costas deles como a umidade dos túneis — agora mais claustrofóbicos, mais pesados. Os Dreadnoks estavam tentando reabrir o túnel deslizado; a distração que eles próprios criaram ainda servia como véu. Mas sabiam que, em breve, o tempo emprestado acabaria.

Já perto das ruínas das piscinas — o refúgio improvisado — Yunuen deteve-se subitamente. Uma matilha de cães selvagens fugia em disparada, escapando do acampamento deles. Um pressentimento gelado lhe percorreu a espinha. Mari, Ringo... o garoto filipino. Se foram atacados...

“Rápido!”, ela urgiu. Vostok e Charlotte obedeceram em silêncio.

Mas o que encontraram quando emergiram das ruínas foi algo totalmente diferente de tragédia.

Mari estava transformada. No centro da área molhada de chuva, no chão rachado da antiga piscina, ela treinava. Shadowboxing frenético, suada, molhada, suja — e vibrante. Usava seu uniforme de treino: top azul celeste, calção combinando, pés enfaixados. Seu cabelo em um coque punk insano, lembrando a cauda de um pavão. As tatuagens — algumas punk, outras fofas como abelhas, bonecos e arco-íris — brilhavam contra sua pele morena, iluminadas pela luz amarelada da tocha de emergência cravada numa fenda da parede. Um toca-fitas antigo tocava “Stop Girl” da banda The Stalin a todo volume.


Ringo corria em círculos ao redor dela, igualmente elétrico. E o garoto filipino? Seguro, limpo, dormia aquecido num saco de dormir ao lado, usando roupas da própria Mari: uma camiseta preta com o logo de The Stalin e uma calça cargo punk-camuflada.

Quando viu o grupo se aproximar, Mari correu ao lado de Ringo, disputando com ele quem os alcançaria primeiro. Ela pulou, abraçando Yunuen e Charlotte ao mesmo tempo, gritando um animado:

“YEEEEAAAH!!” — com a língua pra fora.

Ringo, não querendo ser deixado de fora, pulou em Vostok pedindo cafuné com urgência. Logo ele e Mari revezavam o carinho do soviético como dois filhotes carentes.

“Que foi isso, menina? Parece possuída, acabou de sair de um mosh pit que virou guerra civil!” — Yunuen brincou, aliviada.

“Vi uma matilha correndo daqui. Foi você quem botou os bichos pra correr?”

Mari acenou com a cabeça frenética. “Fui sim! Eu levantei meu corpo assim, ó—” ela estufou o peito, braços abertos como uma harpia no alto de um palco. “Daí eles se assustaram e vazaram!”

Charlotte deu um sorriso largo e juntou as mãos em aprovação.

“E a Konya? Como ela tá? E o pessoal? O que descobriram?! Conta tudo!!” — Mari disparou perguntas como uma metralhadora embriagada em cafeína.

“Calma, tonta!” — Yunuen tentou segurá-la com um tom quase maternal. “Ela tá bem, seus amigos também. Mas... alguns do Dojo Oichi...”

Ela não terminou. O rosto de Mari despencou.

“Ah não... não fala isso não...” — a voz dela vacilou, olhos marejando. Charlotte correu em socorro:

“Doze fora Rock, Fred, Mary, Will e a Konya... quatro foram levados. Mas estão vivos!”

“Nós vamos resgatar eles, Mari.” — disse Yunuen, colocando a mão em seu ombro.

“Como, Yu?! A gente nem sabe onde eles tão! Como vamos resgatar eles?!” — Mari respondeu, agora com a voz embargada. “Doze fora meus amigos... é quase tudinho do dojo...” A dor dela era genuína, quase insuportável.

“Porra, tonta! Não faz isso!” — Yunuen explodiu. “Vai tomar no cu, caralho! Você me faz gostar de você e depois me quebra assim?!”

“Garotas...” — Vostok interveio, voz grave e cansada. “Estamos todos à flor da pele. Vamos nos acalmar, por favor. Sentem, respirem.”

“Isso mesmo, vamos nos acalmar...” — Charlotte apoiou, com suavidade.

Yunuen então se ajoelhou ao lado de Mari. “Você tá certa, a gente não sabe onde estão... ainda. Mas agora temos um mapa com marcações precisas. A Cósmica decifrou tudo! Sabemos onde é o QG deles. Podemos invadir, pegar papelada, rastrear onde os prisioneiros estão e organizar um resgate. Foco, menina!

“Então pra que perder tempo? Vamos agora!” — Mari saltou já pronta para correr. Mas Yunuen a segurou pelos braços.

“Você tá vidrada em cafeína, Charlotte tá ferida e mal consegue ficar de pé, temos um garoto pra cuidar e estamos todos exaustos! Segura tua onda!”

Mari olhou para Charlotte e, imediatamente, caiu em si. “Ai, meu Deus!” — levou a mão ao crucifixo no pescoço. “Charlotte, me perdoa! Você se feriu! Eu senti um aperto no peito e ouvi as explosões, fiquei apavorada!”

Charlotte sorriu e se agachou para abraçá-la. “Estou bem, minha querida... mas sim, precisamos descansar.”

Mari se levantou num pulo. “Vocês têm razão! Café! Precisamos de café pra descansar!”

Ela correu até a fogueira, balançando o bule de metal. “Ainda tem um pouquinho! Mas eu faço mais!”

“Nada de café!” — Vostok anunciou. “Você já teve demais. Agora é chá. E descanso. As duas coisas.” Ele pegou os saquinhos de chá e começou a preparar.

“Aliás... bom trabalho com o garoto, Mari.”

“Valeu, chefe! Ele tava com febre e começando uma infecção. Limpei ele todo e troquei a roupa por umas minhas.”

“Quantas roupas você trouxe, tonta?” — Yunuen perguntou, rindo.

“Ah, algumas! Minha mochilinha é minha casa, cabe tudo!” — ela respondeu faceira.

Aos poucos, o grupo se assentou ao redor da fogueira. O chá esquentava as mãos e os corações. Contaram a Mari tudo o que descobriram. Riram, choraram, fizeram planos. O mundo ainda era cruel e brutal — mas, por um momento, havia conforto ali.

Eles descansaram.

Porque muito em breve, o segundo episódio de Nihon Hiro teria início.

A chuva não cessava. Ela caía incessante sobre as ruínas da ilha como um lembrete sombrio de que o tempo corria – e com ele, vidas estavam em risco.

A noite chegava e apenas nuvens cinzentas, trovões ao longe, e a expectativa insuportável de que algo ainda pior estava por vir. Debaixo de uma cobertura improvisada feita com lonas e galhos grossos, Yunuen, Vostok, Charlotte e Mari observavam o mundo lá fora. A brisa fria cortava a pele como navalha.

Na mesa improvisada entre pedras e raízes, estavam os mapas atualizados por Yanna, junto a anotações detalhadas. Diante deles, duas opções se impunham:



— Invadir e sabotar o jammer de sinal no quartel do Nihon Hiro, rompendo o bloqueio de comunicações…

— Ou seguir até as docas, rastrear o caminho dos derrotados, identificar líderes, forças de segurança, filmagens e meios de transporte. Era vital entender como os perdedores estavam sendo extraídos da ilha — se ainda estavam vivos, onde estavam sendo levados… e se havia chance de resgatá-los.

Mari mordeu o lábio, impaciente. Charlotte analisava os dados, cabeça baixa, anotando. Vostok permanecia imóvel, olhos fixos no horizonte. Yunuen, por fim, falou:

— Se deixarmos para rastrear os perdedores de amanhã, pode ser tarde demais. Se o jammer continuar por mais um dia, sobrevivemos. Mas os levados não têm esse luxo. Vamos às docas.

Todos assentiram. Missão definida.

Yunuen se comunicou com Rei por meio de pager e rádio. Com sua voz calma e controlada, enviou um sinal para sua agente.

— Zorra Borracha, aqui é Jaguar. Tenho um ativo ferido — menino filipino. Desacordado, estado febril estabilizado. Preciso que monte guarda e o mantenha seguro. Envie confirmação quando estiver a caminho. Câmbio. No qual Rei só respondeu com um singelo - Hai!

Agora só restava esperar a loucura da noite terminar, ocultos sob capas escuras, esgueirando-se entre árvores e montes de pedra no ponto alto do abrigo que dava visão parcial a ilha, montaram vigilância com binóculos, sensores passivos e microfones direcionais. O campo de observação se expandia sob a névoa. A ilha pulsava com uma energia artificial, como se algo estivesse prestes a despertar.

Foi então que ouviram.

Um som cortante rasgou a paisagem — solo de guitarra elétrica, rasgado, violento. Amplificado por caixas de som espalhadas por todo o complexo, o solo reverberava como o canto de uma sirene distorcida. Logo em seguida, a voz. Sempre ele:

— Boa noite, guerreiros! — bradou Mike Poser, em um tom empolgado demais para o que acontecia ali. — Vocês sobreviveram ao primeiro dia, o que faz de vocês vencedores! Mas agora terão que provar que têm o espírito de heróis!

Yunuen segurou o binóculo com força. Charlotte parou de escrever. Mari simplesmente paralisou.


— Porque as provas de hoje serão em time! Um gosto de como o Nihon Hiro se coordena com os Nihon Senshi! — continuou Poser, teatral. — Serão dez times, cinco competidores por time. Alpha, Beta, Gama, Delta, Épsilon, Zeta, Eta, Teta, Iota e Kappa!

Os nomes foram listados. Números. Apenas números. Mas para Mari, eram mais que números.

— Time Alpha: liderado pelo número 96!

— Time Beta: 07!

— Gama: 47!

— Delta: 31!

— Épsilon: 64!

— Zeta: 97!

— Eta: 13!

— Teta: 25!

— Iota: 60!

— E o líder do time Kappa é…

Poser fez uma pausa dramática. A tensão no ar era quase insuportável.

— Sessenta e um!

O coração de Mari praticamente parou. Os olhos se arregalaram. Ela colocou a mão no peito.

— Aí não… 96 é meu namoradinho… e 97 é o Fred! — disse, aflita.

Yunuen, com os olhos fixos na lente, respondeu com frieza estratégica:

— Isso complica, mas eles estão coordenados. Só precisam ter sorte de não serem jogados um contra o outro.

— Eu vou rezar. — Mari respondeu num fio de voz.

Poser voltou a falar, entusiasmado como um apresentador de circo macabro.

— Os líderes agora irão escolher seus companheiros, um a um. Quando os times estiverem completos, os campos de batalha serão sorteados! Cada campo esconde um “tesouro” — armamentos, dinheiro, equipamentos. Itens que podem mudar o rumo da partida.

Silêncio. A chuva continuava a cair. As folhas pingavam. O solo se tornava barro.

— Sem mais delongas… líderes, escolham seus times!

Yunuen fechou o binóculo e respirou fundo.

— Vamos ver quem Poser quer manter vivo… e quem ele escolheu para morrer espetacularmente.

Charlotte engoliu em seco.

— Você acha que ele está organizando isso como um reality show, mas com execução real?

— É pior — respondeu Vostok, sério. — Ele está montando um culto com transmissão ao vivo.

Mari, ainda de olhos fechados, continuava a rezar. Mas seus punhos estavam cerrados.

Ali, sob a chuva, os quatro sabiam: o segundo dia do Nihon Hiro havia começado. E agora, mais do que nunca, cada decisão podia custar uma vida.

O processo de seleção foi brutal — não em violência, mas em significado.
Naquela arena disfarçada de espetáculo, escolhas diziam tudo. Quem vivia. Quem morria. Quem era invisível.

Douglas Rock

Rock — o número 96 — foi o primeiro. Ele nem hesitou: apontou para Willsen, o número 100, o amigo holandês do dojo Oichi. Um guerreiro de confiança.
Frederico Nakajima, número 97, seguiu logo em seguida. Escolheu Cósmica — a número 99 —, a mesma garota que todos haviam ignorado até então, considerada frágil, errática, uma perda de tempo. Mas Fred a escolheu como se já soubesse o que ela podia fazer.
Em resposta, Rock chamou Mary — número 98, e o coração de Mari apertou mais uma vez.

As escolhas continuaram com tensão palpável. Frederico completou seu time com três outros membros do Dojo Oichi: 51, 50 e 46. Rock respondeu com mais dois: 49 e 48.
Tina, a Nikkei uruguaia — número 47 — e líder do time Gama, demonstrou a mesma tendência. Queria montar sua equipe com base na lealdade ao dojo. E conseguiu.

Mari, de caderno e caneta em mãos, anotava tudo. Números. Perfis. Associações. Padrões.
Enquanto isso, Yunuen observava o processo com olhos clínicos. Vostok estava em silêncio. Charlotte, mais uma vez, analisava a lógica de uma engrenagem criada para destruir jovens com espetáculo.

As últimas escolhas foram cruéis. Competidores menos atléticos, meninas pequenas, gente que nunca foi a primeira escolha em nada. A cena doía. Era uma seleção natural transmitida ao vivo, com figurino e marketing.

E então, Poser apareceu novamente — em sua passarela de metal e concreto, megafone em mãos, voz rouca de euforia performática:

Líderes! Agora, sorteiem seus campos de batalha!

Um dreadnok apresentou uma caixa metálica. Nomes de arenas gravados em pequenos cubos translúcidos.

Um a um, os líderes sortearam seu destino:

  • Time Alpha (Rock): Ruína Industrial
  • Time Beta: Santuário do Macaco
  • Time Gama (Tina): Mina Abandonada
  • Time Delta: Farol Abandonado
  • Time Épsilon: Caverna Submersa
  • Time Zeta (Frederico): Santuário do Macaco
  • Time Eta: Farol Abandonado
  • Time Teta: Caverna Submersa
  • Time Iota: Ruína Industrial
  • Time Kappa: Mina Abandonada

Willsen De Jong

E como uma procissão bizarra de guerra, dreadnoks de capacetes espelhados surgiram de dentro da floresta com suas motocross — buzinas em estalos, luzes em ziguezague, motores ensurdecedores.

Cada time foi guiado por uma motocicleta. Grupos de cinco se enfileiravam atrás dos condutores, como gado sendo levado ao matadouro. As motos partiram em formação agressiva, os faróis varrendo a escuridão em cortes rítmicos.
No céu, o helicóptero surgia novamente — câmera acoplada na lateral, girando em torno da cena como uma mosca predadora.

Yunuen sussurrou:
— É um balé de guerra.

Charlotte assentiu.
— E está sendo televisionado.

Assim que o último time foi conduzido para dentro das zonas de combate, os motores voltaram — agora em sincronia, como uma coreografia sinistra. As motos cruzaram o terreno, formando padrões para as lentes do helicóptero. Uma dança coreografada para o horror.

Poser gritou novamente pelo megafone:

Que comecem… OS JOGOS!

Então, o caos.

Do alto de sua posição, os observadores viram pouco — mas ouviram muito. O estalo dos tiros, gritos súbitos, súplicas abafadas, gemidos cortados no meio.
Ecos de pancadas secas. Estalos de ossos. Sons de corpos colidindo contra ferro, pedra ou carne.
O som mais terrível foi o de uma execução — o momento em que o pedido de socorro de uma garota se calou abruptamente, seguido pelo som inconfundível de algo fatal.

Charlotte fechou os olhos por um segundo.
— Estão filmando assassinatos como entretenimento.

Yunuen focava nos detalhes.
— Vejam a fumaça. Lado nordeste, ruína industrial. Cósmica prometeu que destruiria armas sempre que encontrasse. Pode ser ela.

— Ela está viva. — disse Mari, baixo, como se dissesse para si mesma.

Mas então… algo mudou.

Um ruído. Um estalo fora de lugar.

Foi Vostok quem sentiu primeiro. O ex-espião soviético se virou com um movimento repentino e sacou sua Makarov, mirando para a escuridão. Seu grito foi curto, direto:

Parado aí!

As mulheres se viraram imediatamente. Mari pegou seu bastão. Charlotte ergueu a lanterna. Yunuen puxou uma lâmina curta escondida na perna.

Ringo — o cão — correu até Vostok, rosnando. Algo estava errado.

E então, das sombras — entre o som da chuva fina e o barro pastoso — uma figura surgiu.
Ensopada até a alma. Água salgada escorria pelas roupas rasgadas, o cabelo liso colado ao rosto como um véu irregular. O braço esquerdo sangrava feio, o sangue misturado à terra num tom enferrujado.
Mas o que mais chamava atenção era o sorriso — torto, sonolento, fora de hora.


Konban-wa! Sumimasen! — disse, como quem chega atrasada para uma festa do pijama.

Yunuen se levantou em um pulo.

— Ichiyama?

Rei Ichiyama piscou lentamente, o corpo cambaleante, os olhos semicerrados como os de quem voltou do inferno debaixo d’água.

— Caí do jet-ski. Submergi ele um tantinho... foi irado. — sussurrou, ainda sorrindo.

Charlotte correu até ela.
— Essa ferida...! — disse, se pondo na ponta dos pés ao lado da garota, preocupada.

Rei olhou para o próprio braço como se estivesse vendo pela primeira vez.
— Uah! Quando isso aconteceu...? — murmurou, mais curiosa do que alarmada. Estalou os dedos. — Já sei! Deve ter sido enquanto escondia o jet-ski! Ele tá lá embaixo!

Vostok aproximou-se e a conduziu com firmeza.
— Venha. Vamos cuidar disso agora.

— Você tem um jet-ski? — perguntou Mari, surpresa.

Rei fez uma cara pensativa.
— Hmm… ah! Não, peguei emprestado. — respondeu, parecendo mais interessada no toque da mão de Vostok do que na própria história.

— E… o dono sabe disso? — arriscou Mari.

— Nah! Fiquei com preguiça de procurar o dono! — respondeu rindo, completamente à vontade, enquanto se deixava conduzir até a fogueira. Sentou-se, e antes mesmo de Vostok terminar o curativo, já estava deitada como uma criança em descanso de colônia de férias.

— Borracha, esse garoto aí do lado é o que você vai cuidar. — disse Yunuen, apontando para o ferido próximo.

Rei, sem abrir os olhos, respondeu com a voz quase apagada:
— Dezesseis a vinte anos, filipino, corte de cuia, ferimento lombar. Estável. Vinte por cento de chance de morrer. Uhum.

— Ele não vai morrer! — protestou Charlotte, firme.

Rei abriu os olhos de leve — um brilho inquietante por trás das pálpebras semicerradas, como um buda elétrico.

— Uma otimista! Tão bonitinha...

— Ok, ela é esquisita. Não sei se quero conhecer tanto assim. — disse Mari, virando o rosto, desconcertada.

Yunuen sorriu com um canto da boca.

— Não se preocupe, ela vai garantir que ele fique nos 80% de sobrevivência... né, Zorra Borracha? Ele tem informações importantes.

Hai! Pode deixar... — Rei bocejou. — Vou cuidar direitinho.

Vostok, que tratava a ferida com precisão cirúrgica, terminou o curativo com um movimento seco.
Rei protestou.

— Ué, tão rápido? Nem deu pra cochilar...

— Quando o jogo acabar, continue de olho no garoto. Temos café se precisar. — disse Vostok, sério.

Rei sorriu com os olhos fechados, como quem acabara de receber uma benção.

Foi nesse momento que o som das motocrosses voltou a se aproximar — o ronco baixo ecoando pela encosta. Vozes se sobrepunham ao barulho metálico.

Dois dreadnoks.

Love Cruiser e Sapper.

Todos se calaram. Até Rei se sentou ereta, os sentidos atentos como os de um animal selvagem disfarçado de colegial.

Sapper, tô te dizendo, o garoto tá soterrado naquela mina! Eu fui lá com o Bulky Boot, Crazy Revolver e Dock Scrap! Ele não pode estar aqui.

— Eu sei, eu sei... — murmurou Sapper, como quem não queria bater de frente. — Mas eu atirei nele lá da torre. Ferido como tava... ele não podia ter ido longe. E se os cachorros sobem aqui, ele também pode.

— Ferido como tava? — repetiu Love Cruiser, desconfiada.

— É… mas se não acharmos ele lá, procuramos por aqui.

As vozes desapareceram entre as árvores.

Yunuen olhou de canto para Rei.

— Retardada, ouviu, né? Protege o perímetro. E prepara umas armadilhas naturais... nada que chame muita atenção.

Rei assentiu, um brilho súbito nos olhos.
— Árvores que caem... pedras que rolam... quem tentar subir vai virar panqueca da natureza!

Yunuen cruzou os braços, exausta.
— Agora é esperar isso acabar e torcer que nossos aliados estejam bem. No intervalo, Mari... pode realizar teu sonho de conhecer o gênio retardado.

Mari olhou de soslaio para Rei, meio intimidada, meio curiosa.

Rei respondeu com um sorriso largo, os olhos fechados em falsa inocência — como se estivesse flutuando num universo onde nada fosse realmente grave.

O trovão da batalha finalmente cessou. Os gritos, os estampidos e os sons das motos que cortavam o ar deram lugar a um silêncio carregado de tensão. Era o fim de mais um dia no Nihon Hiro, e Poser, com seu megafone estridente, convocou os vencedores para o pátio de filmagens.

Frederico Nakajima

Parabéns, heróis! — sua voz ecoou pelo campo, abafada pela chuva que ainda insistia em cair. — Agora, os vencedores se reúnem. Os perdedores, aguardem na fila. Seus sinalizadores serão coletados pelos Dreadnoks.

De onde estavam, os investigadores ouviam, tenso e atentos, enquanto Poser anunciava os vencedores e dava instruções sobre o futuro dos derrotados. A cada palavra dele, o peso da brutalidade do jogo se tornava mais claro.

— Da Ruína Industrial, o time Alpha, liderado por 96 (Rock)! — Poser falou, sua voz cheia de uma pompa fria. — Parabéns aos corajosos 98 (Mary), 100 (Wilssen), 45 e 49!

A equipe Alpha havia saído vitoriosa, mas não sem seu preço. Rock, que havia se mostrado um líder gentil, mas também frágil, saiu com ferimentos graves. Curiosamente, o time havia encontrado um tesouro — e, ao invés de usá-lo, decidiram destruí-lo. Uma escolha nobre? Ou uma decisão imprudente?

— Do Santuário do Macaco, o time Zeta, comandado pelo feroz 97 (Frederico)! — Poser continuou. — Parabéns aos destemidos 99 (Cósmica), 46, 50 e 51!

O time Zeta, ao contrário dos outros, não só derrotou seus oponentes, mas também se uniu ao time Gama para derrubar ainda mais adversários e garantir um tesouro escondido. Mas o que parecia ser um trabalho em equipe estratégico veio com um alto custo. Cósmica e 51 estavam gravemente feridos.

— O time Gama, liderado pela audaz 47 (Tina)! — Poser anunciava com entusiasmo. — Após uma batalha feroz na Mina Abandonada, Gama saiu vitorioso! Parabéns aos 44, 48 e 19. Infelizmente, 23 não sobreviveu aos ferimentos. A ajuda do time Zeta foi vital, mas também custou caro!

As palavras de Poser não caíram facilmente sobre os ouvidos de Mari, que escutava cada anúncio com o coração apertado.

Mary Kingston

— Do Farol Abandonado, o time Delta, comandado por 31! — Poser gritava, como se falasse de uma vitória que parecia certa desde o início. — Parabéns aos destemidos 05, 10, 12 e 94! Eles encontraram e destruíram rapidamente seu oponente. Nada escapou do olhar estratégico de Delta, que fez uso de seu tesouro com eficiência implacável.

— E por último, da Caverna Submersa, o time Teta, liderado pela veterana 25. — Poser completava a lista com uma melancolia sutil. — Apesar de perder dois membros e não encontrar o tesouro, parabenizamos os sobreviventes: 28 e 74!

Mari, com a respiração ofegante e os olhos marejados, ouviu os últimos comentários. Ela se concentrou, mas não podia conter a emoção. As perdas eram grandes. Seis haviam caído e vários outros estavam feridos — muitos dos quais pertencentes ao Dojo Oichi.

Os vencedores se dirigiram ao pátio de filmagens, enquanto Poser continuava, com seu tom teatral e manipulado.

— O banquete dos heróis aguarda, mas não se esqueçam, amanhã... as coisas vão piorar!

A mensagem de Poser era clara, e a tensão entre os sobreviventes aumentava. Os investigadores estavam em silêncio, cientes de que ainda tinham um longo caminho a percorrer.

Enquanto Poser finalizava seu discurso, o som do megafone se diluindo no vento e na chuva, Yunuen, sempre pragmática, olhou para os outros, a raiva em seus olhos misturada com a determinação de uma missão.

Mari estava calada, as lágrimas escorrendo silenciosamente por seu rosto. Charlotte, ao seu lado, colocou a mão no ombro da amiga, mas isso não diminuiu o peso da realidade que se abatia sobre ela.

— Sete morreram, sei lá quantos feridos… — Mari sussurrou, a voz embargada, quase incontrolável. — Rock e Cósmica estão feridos! O 48 e o 51 também, e são do Dojo Oichi!

Yunuen não vacilou. Ela não tinha tempo para lamentações.

— Precisamos saber como eles estão. Se não fosse o bloqueio do jammer, eu já teria me comunicado com a Cósmica... — Vostok disse, frustrado, seus olhos fixos na distância.

Yunuen interrompeu-o com frieza.
Temos um papel a cumprir, soldado. Cabeça fria. O mais rápido que cumprirmos nossa missão — melhor será para nossos aliados e para todos que estão aqui. Ponham essas malditas cabeças no lugar! — ela comandou, a voz sem espaço para debate.

Vostok mordeu as bochechas e assentiu, forçando-se a seguir em frente. Mari enxugou as lágrimas rapidamente, ergueu-se e abraçou Charlotte e Ringo, buscando forças naqueles que estavam ao seu lado. Rei observava, silenciosa, trocando as ataduras do garoto.

O momento era de tensão, mas também de necessidade. Eles precisavam agir.

— Vamos sair. — disse Yunuen, com firmeza. — O garoto fica com Rei, e nós vamos até as docas.


Com isso, eles partiram das ruínas do polo aquático, seu esconderijo provisório, em direção às docas de Sarushima — onde, nesse exato momento, os perdedores eram coletados e levados para fora. O cheiro de morte e dor ainda pairava no ar, mas a missão deles estava longe de terminar. Eles sabiam que a verdade e os segredos que estavam em jogo eram mais perigosos do que qualquer adversário no campo de batalha.

A chuva caía em cortinas finas, mas nada parava os investigadores em sua missão. E a ilha — com seus segredos obscuros — os aguardava.

 A conexão mental entre os membros da força-tarefa foi instantânea. Charlotte, com seus olhos atentos e a mente ainda ligeiramente abalada, estabeleceu a ligação telepática com Mari, Vostok, Yunuen e Rei. O silenciamento de Mari, no entanto, foi perceptível. Mesmo dentro da comunicação mental, ela estava estranhamente quieta, mais do que o normal.

Yunuen percebeu imediatamente. Era um comportamento fora do lugar para a brasileira tagarela. Seu instinto a alertou.

Mari, foca! Estamos indo para a parte mais perigosa agora. Precisa estar atenta! — Yunuen pensou, a voz mental dura, mas carregada de preocupação.

Mari, em resposta, murmurou mentalmente, com uma energia nervosa e quase desesperada:

Eu tô focada! Eu juro!

Mas, mesmo assim, todos sabiam. Sabiam que ela não estava. A tagarelice, que sempre dominara suas falas, havia se apagado, deixando uma estranha quietude no ar. Mesmo na comunicação telepática, algo não parecia certo.

Charlotte, com seu tamanho diminuto e sua natureza infantil, tomou a mão de Mari. A brasileira, em resposta, apertou com força, um gesto silencioso de apoio, como se quisesse se convencer de que tudo estava sob controle. As duas, embora fisicamente opostas, se sentiam fortes juntas. A ligação delas era única, silenciosa, mas profunda.

Com um plano estabelecido e um ritmo intenso, a equipe avançou.

Sapper e Crazy Revolver estão na torre de observação, na parte mais alta, eles não nos viram ainda, mas vamos precisar de cuidado. — pensou Yunuen, mantendo o tom calculado, já com um mapa mental dos movimentos da ilha.

Conseguiram despistar os dois Dreadnoks, mas a tensão ainda pairava no ar. A chuva, fria e implacável, os molhava enquanto avançavam pelas ruínas industriais. O som das gotas batendo contra o concreto quebrado, as luzes intermitentes das câmeras e os sons distantes da guerra ao redor só aumentavam a pressão sobre eles. Yunuen, com seu olhar atento e seus sentidos aguçados, liderava o caminho.

Vamos procurar rotas mais profundas, mais afastadas. Não podemos ser pegos agora. — ela ordenou mentalmente, os passos rápidos e precisos.

A chuva parecia se tornar parte de um cenário cada vez mais claustrofóbico. Yunuen deu uma última olhada ao redor, antes de continuar:

Lembrem-se de ativar seus óculos de visão noturna! Charlotte, você vai ser carregada por Mari, já que você perdeu o seu binóculo. — a voz mental de Yunuen era fria e firme.

Charlotte, ainda um pouco perdida nos seus próprios pensamentos, não contestou. Ela sabia que precisava confiar em Mari, então a deixava guiá-la. Mesmo sem ver, o apoio de Mari parecia tudo o que ela precisava.


Os passos deles ecoaram enquanto se enfurnavam nos túneis mais profundos e precários, onde as paredes pareciam se fechar e a umidade aumentava a cada passo. Charlotte se sentia como se estivesse sendo comprimida, suas lembranças da Mansão Chersey — e os anos de tortura sob as mãos de Annya — retornavam com força. O som da água pingando no concreto parecia se transformar na risada cruel da boneca medonha, ecoando em seus ouvidos.

Ela congelou por um momento, a respiração acelerada, o pânico batendo à porta.

Mari... — pensou, com a mente em desespero.

Mari, sem hesitar, percebeu a mudança na energia de Charlotte e apertou as pernas de Charlotte, dizendo mentalmente.

Eu tô aqui, Charlotte, me abraça bem forte, vai... — pensou Mari, suas palavras mentais repletas de amor.

Charlotte, sentada em seus ombros, a abraçou forte envolvendo seu pescoço, descansando o corpo no capacete da punk, fazendo ela rir emocionada e Charlotte soltou um risinho. Era como se um peso tivesse sido retirado de seus ombros, e a sensação de solidão diminuiu um pouco. A companhia calorosa de Mari, a compreensão entre elas, foi tudo o que Charlotte precisava para se reconectar.

Yunuen, enquanto isso, seguia com uma agilidade quase animal, usando o faro para seguir o rastro de Ringo, que, como sempre, deixava um caminho de urina. Seus sentidos apurados guiavam o grupo, enquanto Vostok, com a precisão meticulosa, fazia marcações a giz nas paredes, uma rede silenciosa de pistas para o que viria a seguir.

A jornada pelos túneis era longa, a sensação de opressão imensa, mas, finalmente, eles chegaram à superfície. O ar pesado da chuva e a visão abafada pelas luzes distantes revelaram as docas de Sarushima. Os Dreadnoks estavam a pleno vapor, seus veículos alinhados como sombras ameaçadoras, aguardando pela ação. O grupo se posicionou de maneira estratégica, escondidos, prontos para observar e agir.

A chuva persistia, mas agora, mais do que nunca, as sombras ao redor da doca pareciam prometer algo ainda mais mortal do que o jogo já fora. As tensões estavam no pico, e a batalha silenciosa pela sobrevivência estava apenas começando.

A chuva não dava trégua, mas a escuridão da noite oferecia a proteção necessária enquanto os investigadores observavam. Do alto, na posição estratégica, o cenário se desdobrava como um tabuleiro de xadrez, onde os Dreadnoks estavam prestes a fazer seus próximos movimentos.



Logo à frente, os carros que traziam os perdedores chegaram, cercados por uma camada de tensão no ar. Os Dreadnoks estavam em plena atividade. O líder deles, Zanzibar, comandava com autoridade, sua presença indomável destacando-se. Seu cabelo amarrado em um rabo de cavalo, o rosto cruel e magro marcado por um tapa-olho com o símbolo dos Dreadnoks. Ele estava trajado com uma jaqueta de corte oriental, adornada por ombreiras incrustadas com pedras preciosas. A espingarda de repetição Remington que carregava na cintura, juntamente com um sabre de abordagem e lançador de granadas, eram um lembrete claro de sua violência latente. Ao lado dele, quatro membros de sua guarda pretoriana, tão ferozes quanto o próprio líder, formavam um círculo de proteção.

Zanzibar lançava ordens aos Dreadnoks, seu tom ressoando como o de um pirata do século XIX, a voz autoritária se erguendo acima do caos. Ele gritava comandos enquanto observava a cena à sua frente, onde os perdedores eram descarregados de seus carros, jogados na terra, os mortos sendo empilhados em uma carreta para serem carregados no Hesperonis, junto com os feridos e os vivos. Entre os mortos, um deles, que foi ferido a caminho, sucumbiu.

Enquanto isso, duas figuras misteriosas — cientistas com trajes HAZMAT — administravam uma injeção estranha nos perdedores antes deles embarcarem, seus uniformes possuiam o logo da Colorchem. A cena era grotesca, mas estratégica. O medo pairava no ar. Algo estava por trás de tudo isso, algo mais sombrio do que eles imaginavam.

Foi quando Mari e Charlotte captaram algumas conversas perdidas entre os Dreadnoks. As palavras dos vilões se entrelaçavam como um código de falhas humanas, mas, ainda assim, eram informações valiosas.


Crusher:

  • Sabe o que o Whaler odeia mais do que perder um peixe? Ativistas. O cara fica maluco com ativistas! Se vê um Greenpeace, ele esquece tudo e parte pra porrada! Não chega perto dele quando isso acontece!

Slice Mike:

  • Vem cá, a Bulky é mesmo lésbica?
    Cheeky Bastard:
  • Cara, ela é a maior lambedora de ostra daqui!
    Slice Maike:
  • Hahaha! A bicha é braba!
    Cheeky Bastard:
  • Sim! Matou a família todinha, achavam que ela era doida!
    Slice Mike:
  • Sério!?
    Cheeky Bastard:
  • Sério! Tentaram até exorcizar ela. Hoje ela morre de medo de qualquer católica!
    Slice Mike:
  • Feito vampira? Igreja, cruz, essas coisas?
    Cheeky Bastard:
  • Hehehehe...

Essas conversas, embora parecessem bobagem, estavam revelando mais do que o esperado. As informações sobre Whaler e sua aversão a ativistas, a história sobre Bulky Boot, até a curiosidade sobre o nome verdadeiro de Zanzibar... Theach — o nome de um pirata, era uma pista interessante, algo que poderia ser útil mais adiante.

As conversas também traziam informações cruciais sobre o Hesperonis, o grande barco que transportava os perdedores. O local para onde estavam sendo levados e a segurança do trajeto estavam começando a se tornar claros.


LSZen:

  • Qual é o nome do chefe? O nome real?
    Tunnel Rat:
  • É Theach.
    LSZen:
  • Theach?
    Tunnel Rat:
  • Sim, como o pirata famoso.
    LSZen:
  • Caralho...

No entanto, foi uma troca de informações mais simples que realmente chamou a atenção deles:


Drill Pipe:

  • Essa hora da noite, o chefe vai se mandar mesmo até a Coreia?
    Pit Girl:
  • Vai, ué! Fez isso ontem.
    Drill Pipe:
  • Esse Hesperonis é foda, viu!

PowerCord:

  • Esses garotos tão ficando malucos! O Poser tá dando alguma coisa pra eles?
    Bonnie:
  • Só amor, hahaha!
    PowerCord:
  • Não, sério! E essa injeção que eles ganham quando perdem, serve pra quê?
    Clyde (sussurrando):
  • Sei não, mas é coisa dos cientistas. Vem da baleia...
    PowerCord:
  • A baleia? Aquela...
    Bonnie e Clyde:
  • Shhh...
  •  

Herr Flail:

  • Ekranoplano, estupida!
    Dock Scrap:
  • Eu sou homem!
    Herr Flail:
  • Eu sei, burra! Não basta ser latino, também é dumbkopf?
    Dock Scarp:
  • Sei lá chucrute! respeita as caras homem! Mas explica melhor isso daí!
    Herr Flail:
  • Não é um navio, então a alta maré não o afeta, isso que significa, sheissebaum!
    Dock Scrap:
  • Ahh..... Daí pra Nagoya depois lá pros coréia!

Herr Flail:

  • Ja...

Enquanto esses detalhes não eram imediatamente úteis, forneciam uma visão sombria sobre o que estava acontecendo por trás dos bastidores. O Hesperonis, o navio, parecia ser o ponto central. E o que mais havia por trás dessas injeções misteriosas? O que os cientistas estavam realmente fazendo?

Yunuen e Vostok, atentos, processaram as informações com rapidez. As embarcações estavam sendo usadas para patrulhar a ilha e garantir que as operações corram conforme o planejado. Havia grupos de jet-skis e um barco à parte, mais próximos do local da boathouse.

A boathouse em si, sendo vigiada por apenas um Dreadnok de codinome Boatman, parecia ser a chave. Um ponto de acesso crítico para sabotagem, mas que também significava cruzar toda a área das docas — o que implicava em infiltração e o risco de serem detectados.

O plano estava em movimento.


Yunuen:

  • Fotografaram e filmaram tudo? Ótimo! Essa da escala em Nagoya pode ser muito úitl para a Barbia... Precisamos de acesso ao píer. Vamos cruzar as docas e nos aproximar sem sermos vistos. Sabotar os barcos de trás pra frente. Não pode haver falhas.

Vostok:

  • Entendido. Vamos conseguir.

As peças estavam se encaixando, mas a tensão só aumentava. A operação estava em pleno curso, as docas fervilhavam com atividade, e os Dreadnoks estavam tão concentrados em seus próprios esquemas que, por ora, os investigadores estavam conseguindo o que precisavam. O único dilema restante era: até quando a sorte continuaria a acompanhá-los?

O grupo se reuniu para discutir as informações obtidas durante a vigília. Mari e Charlotte compartilharam o que haviam ouvido, enquanto Vostok e Yunuen relataram suas próprias descobertas.

"Eu ouvi que vão levar eles para a Coreia." Charlotte falou, a voz baixa, mas com uma certeza que congelou o ar.

"Também ouvi isso," Mari completou, sua mente trabalhando em sincronia com a de Charlotte. "Isso só pode significar uma coisa..." E as duas disseram, praticamente em uníssono:

"Colorchem."

"Eu ouvi que os uniformes dos cientistas tinham o logo deles. Puta merda, devíamos ter acabado com esses caras logo de primeira…" Yunuen disse, o tom de frustração evidente em sua voz.

"Ei! Também ouvi que eles estão ainda fazendo uma parada em Nagoya! Como diabos estão fazendo isso, se nós expulsamos os Black Warriors?" Mari perguntou, perplexa.

"Hmm, devem estar usando os Ichiwakage-Gumi…" Yunuen disse com um sorriso satisfeito. "A Barbie vai adorar saber disso!"

"Também ouvi falar do Whaler, ele odeia ativistas, e um tal de Greenpeace…" Charlotte falou, confusa sobre o nome. "Isso é inglês ou americano?"

"Hihihihi! É tipo uma ONG de ativistas!" Mari respondeu, rindo, tentando entender.

"Se fudeu, porque a Rei é ativista…" Yunuen parou, pensativa, e em seguida se deu conta. "Porra, eu sou ativista."

"Ei, eu também!" Mari exclamou, com uma expressão divertida.

"Todos podemos ser ativistas!" Charlotte disse com um sorriso travesso.

"É, posso passar por um." Vostok brincou, levantando a sobrancelha. "Ele vai ficar com raiva de todos nós."

"Ah, e a Bulky," Mari continuou, "ela tinha uma família bem doida. Tentaram exorcizá-la, e ela matou todo mundo…"

"Meu Deus…" Charlotte murmurou, surpresa.

"É, mas agora ela tem medo de tudo que é católico." Mari continuou, com uma expressão travessa. "Quer dizer, eu posso afugentar ela?" Ela puxou seu crucifixo, sorrindo com uma brincadeira sombria. "Tipo o Exorcista? Hihihihi!"

Yunuen e Vostok compartilharam suas próprias descobertas enquanto discutiam a estratégia a seguir. Tudo se encaixava com uma precisão implacável, mas o risco estava aumentando a cada segundo.

O retorno ao esconderijo foi mais fácil, mas a tensão no ar se intensificava. O ambiente estava carregado de uma sensação de presságio. Quando chegaram à base do monte, um mantra começou a se infiltrar na mente deles, repetindo incessantemente:

  • Soko ni iru? Soko ni iru? Soko ni iru? Soko ni iru?...

Era Rei, claramente tentando se comunicar com eles. A distância telepática parecia ter sido rompida e, agora, ela estava em alcance.

  • ESTAMOS, ESTAMOS! AGORA PARA COM ISSO, RETARDADA! Yunuen gritou mentalmente, quase perdida na frustração.
  • Ā! Haha! Sutekidesune! Vou guiar vocês para não morrerem!

Rei havia instalado várias armadilhas naturais ao longo da rota e agora guiava o grupo pelas trilhas mais seguras. Quando se aproximaram da última armadilha, Yunuen foi a única a perceber que estava mal escondida, mas logo alertou o grupo. Eles estavam quase lá.


Quando chegaram ao local seguro, encontraram o garoto filipino – Miguel – acordado e interagindo com Rei de forma curiosa e até fofa. A interação era um pouco embaraçosa, mas, ao ver a cena, a tensão diminuiu por um instante. Rei olhava para ele de forma sinistra, que o assustava, mas, sem aviso o abraçava com afeto, com seu corpo suado e falava. “Ele me chamou de anjo!” Fazendo o garoto corar. “Tá gostando do abraço Miguel?” Yunuen provoca. “É... não é ruim, digo... é bom...” Ele ri bobo. “Feito, vou marcar o casamento!” Ela brinca. Miguel estava mais calmo agora, e, depois de se acomodar, começou a contar o que havia visto.

"Eu consegui me infiltrar no Quartel General da produção," ele começou, com os olhos carregados de uma mistura de horror e determinação. "Não era só um jogo, era uma operação de recrutamento. Eles chamam a gente de cobaias, experimentos. E, sabe, eu vi uma coisa... uma porta vermelha. Quando entrei, vi uma mulher... sem braços, sem pernas, mas com esses pedaços de pele que pareciam… tetas de vaca, mas alongadas, estranhas. Estavam bombeando algum líquido vermelho por ela. Ela não parecia humana, mas gemia como uma."

O relato de Miguel era claro, mas desconcertante. Ele lembrou ainda da tal injeção que os seis "perdedores" haviam recebido. O líquido era levemente vermelho, e ele se lembrou de ter ouvido que só aqueles que saem da ilha recebem essa vacina. “Se dizia que era para imunizar contra malária antes de aplicarem, mas porque só quando saem? Não era para ser quando entram?” Questiona Miguel incrédulo.

"Isso é… isso é demais." Yunuen murmurou, a incredulidade tomando conta de sua voz.

Miguel, ainda com o olhar distante, continuou: "Eles chamam aquilo de 'vacina', mas eu juro que não parece com isso. Não sei, mas aquilo não é normal. Eu vi mais coisas, mas nada é como parece."

O grupo ficou em silêncio, digerindo as informações. O mistério estava mais profundo, mais sombrio.

Foi difícil digerir, mas fazia sentido, pelo menos no mundo deles, a monstruosidade que Miguel diz ter visto cabe na descrição de um drone, humanos deformados a serviço da Star, mas este é diferente, parece patético e algum fluído dele pode estar sendo usado na vacina? Inquietante. Mas com as informações captadas nas conversas das docas as peças estavam se encaixando, mas ainda restava muito a entender.

Eles já sabiam quem estava por trás de tudo: Colorchem. Agora, era hora de agir. O plano continuava o mesmo, eles só precisavam ir descansar.

Lá embaixo os dreadnoks trabalhavam com explosões controladas e britadeiras, numa tentativa de abrirem o túnel que eles próprios colapsaram, ainda em busca de “66”, o Miguel. Yunuen revisou o plano sob a luz das descobertas:

“Vamos todos descansar agora, pois amanhã nos encontraremos com cósmica para pegarmos os explosivos, depois escoltaremos a concentração dos participantes e o QG, vamos sabotar o jammer e nos comunicar com a guarda costeira. A partir daí teremos uma a duas horas para explorar o QG e sabotar os barcos – lembrem-se, eles devem ficar inúteis para navegar e combater!”

Eles estavam se comunicando mentalmente, Charlotte estava visivelmente exausta, então Mari adicionou:

“E amanhã o Vitor vai precisar vir para substituir a Charlotte... mas como vamos fazer isso com o Miguel aqui?”

Curioso, Vostok pergunta:

“Como é que ele vai vir exatamente?”

Cansada, Charlotte tenta explicar, mas apenas confunde ainda mais Vostok.

“É como mágico, eu desapareço, ele aparece.” – Concluiu cansada.

“Ah, como um Leshy”. Vostok falou fascinado, mal acreditando que acabou de dizer isso.

“Leshy? O que é isso?” Mari pergunta.

“Espírito da natureza eslavo, tipo um duende.” – Yunuen fala.

“É mais que isso.” – Vostok completa, Mari fica embasbacada de fascínio.

 Rei, ainda abraçada com Miguel, interrompeu querendo saber como ela poderia se livrar do abraço. Charlotte recomendou que deitasse Miguel. Ela fez isso de forma brusca e desajeitada, que deixou Miguel desconcertado, mas enfim opinou: “Vamos precisar explicar o sumiço de Charlotte e a aparição do Vitor. Ela morreu e Vitor veio a substituir.” Ela fala.

“Não! Morreu não!” Mari proclama.

“Retardada...” Yunuen alerta.

“Ok, ok! Que tal foi substituída então?” – Ela se redime.

Vostok concorda.

“Diremos que Vitor veio com outro operativo em um veículo marítimo, como Rei, mas só tínhamos permissão de evacuar Charlotte.”

“Boa Sovietico, cruel mas vai ter que colar.” Yunuen fala.

“Também tem o negócio de que a Charlotte tem que sair em um lugar que o Miguel não veja, eu estava pensando alí...”

Mari fala apontando para uma das entradas do local, justamente quando uma figura surge da lá, um homem de óculos, de aparência cansada e mais assustado que eles.

Era Wilssen, amigo de Mari e número 100 do Nihon Hiro, ele carregava uma caixa de madeira, e atrás dele vinha Cósmica, de número 99, o ajudando a carregar.

Entendendo o que estava acontecendo, Mari e Vostok saltam para ajudar.

Cósmica pede cuidado, pois a caixa contém os explosivos. Mari dá um abraço caloroso em Wilssen que chora um pouco nos braços da amiga. Depois Mari estende os braços para cósmica, que, surpreendentemente, se deixa ser abraçada de forma emotiva. Vostok também abraça cósmica.

“Ok, porque estão aqui e vocês foram vistos?” – Yunuen corta o melodrama.

“Eu vim ajudar Konya com os explosivos... Ninguém nos viu!” – Fala Wilssen defensivo. Cósmica concorda.

“Aproveitamos que a guarda está relaxada com a procura do 66 e decidimos entregar logo os explosivos antes que eles pegassem.” – Cósmica fala.

Vostok interrompe.

“Aquele homem disse que foi ferida, onde?”  pergunta preocupado se referindo ao anuncio de Poser de que ela havia sido ferida.

“Não foi nada, eu cuidei.” – Ela fala, mas Wilssen interrompe.

“Nas costelas, uma pode estar quebrada.” Ele fala, fazendo cósmica olhar zangada para ele.

“Não parece quebrada... está?” – Yunuen pergunta a ela.

“Luxada, mas como disse, cuidei bem.” – Ela conclui. “Como dizia, aproveitamos a distração para trazer, Poser sabia onde havíamos enterrado, então decidimos agir antes dele.”

Wilssen baixa os olhos. “Sim, e foi minha culpa. Ele nos questionou e... eu e outros dois companheiros acabamos falando.

“Não foi culpa dele” – Cósmica protege Wilssen. “Poser é um ótimo interrogador, ele monta armadilhas semânticas e pressiona e você acaba confessando sem notar.”

“O filho da puta que eu conheço.” – Yunuen fala. “Vamos aproveitar que estão aqui e combinar umas coisas.” – Ela sugere.

“Certo, mas temos pouco tempo.” – Wilssen declara.

Yunuen assente. “Amanhã vamos sair daqui, vamos sabotar o QG, causar uma distração para atrair os milicianos para lá, depois iremos às docas e sabotar os barcos, se tudo der certo quando estivermos acabado, a guarda costeira vai ter chegado. O papel de vocês é coordenar os sobreviventes e esperar por nós lá.”

“Alguns não vão cooperar.” – Wilssen avisa.

“Aí não...” Mari lamenta

“Caíram no culto do Poser, são muitos?” -Yunuen pergunta.

“Me deem um papel e caneta, eu anoto.” – Cósmica disse. Mari se apressou para pegar, mas Rei já tinha prontos, Cósmica se pôs a escrever assim que Mari entregou o lápis e bloco de notas.

“Então vocês vão ter que segurá-los, é possível?”

Cosmica fez que sim com a cabeça. Wilssen meneou, um pouco mais inseguro. Cósmica notou e complementou: “Temos armas, façam o trabalho de vocês que fazemos o nosso.”

“Então acaba amanhã...” – Wilssen falou esperançoso e ansioso.

“Isso Will, guenta que acaba amanhã! Dá um abraço fortão em toda galera por mim! A gente vai detonar tudo pela manhã.” – Mari falou.

“Então antes da loucura começar, isso é bom.” – Wilssen fala, o que faz Mari pensar.

“Esquisito tudo ser feito no finalzinho da tarde e noite, né? Não é mais difícil de grava e vigiar à noite?” – Mari pergunta, e Yunuen responde.

“É característica desse bosta do Poser, ele sempre filma à noite, acha mais ‘visceral’”.

Cósmica conversa enquanto termina as anotações, a precisão e inteligência dela, sem a rabugice do primeiro encontro lembra a Charlotte Annya, mas como era ela, e ela observa a jovem com fascínio. O olhar de Charlotte não passou despercebido, e Cósmica desvia o olhar encabulada, pousando os olhos em Miguel, que observava tudo assustado.

“Devemos ir, conseguimos essa oportunidade graças à busca do 66, que eu acho que é ele ali.” – Meneia para ele com a cabeça, Willssen acena e Miguel acena de volta.

“Vão então, tomem cuidado.” Vostok fala e todos se despedem.

Quando eles se vão, Yunuen manda todos irem dormir, exceto Rei e Vostok que irão examinar e trabalhar nos explosivos, e ela que vai se certificar que os dois visitantes não deixem rastros e vigiar por um tempo.

Após algumas outras amenidades, eles foram dormir, a manhã seria longa.


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