Nihon Hiro
"Nihon Hiro"
Produção da Vulcan Entertainment. Dirigido por Mike Poser.
O Japão está à beira do colapso, corroído pela corrupção, dominado pelo crime e mergulhado no caos. A justiça é impotente diante desse abismo sombrio. Mas a nação não está desamparada. O poderoso deus Susanoo, guardião do Japão, invocou seus guerreiros! Cem jovens promissores foram escolhidos para a batalha, reunidos na misteriosa Ilha de Sarushima, na baía de Tóquio. Nesta arena implacável, eles lutarão pela sobrevivência em um kodoku mortal, onde apenas um poderá emergir como o herói supremo: o Nihon Hiro!
Prepare-se para uma competição épica de força, estratégia e
vontade de ferro. Nossos lutadores usarão trajes de heróis de tokusatsu, com
capacetes, luvas e trajes justos, enfrentando desafios cruéis em meio à
incerteza. A ação será transmitida como uma mistura eletrizante de realidade e
ficção. Aqui, a linha entre o entretenimento e a brutalidade se desfaz.
Você está pronto para assistir à verdadeira face da justiça
japonesa? Acompanhe os desafiantes enquanto enfrentam armadilhas, lutam pela
supremacia em territórios selvagens e provam sua força em combates ferozes. Sem
regras. Sem limites. Somente os mais fortes e astutos sobreviverão.
Será que algum deles será digno de se tornar o Nihon Hiro e
liderar os Nihon Senshi, a última linha de defesa contra o caos no Japão?
Descubra a verdade por trás deste reality show sem precedentes, onde a
fronteira entre o entretenimento e a sobrevivência está para ser quebrada!
Sarushima
Sarushima — literalmente “Ilha do Macaco” — era um paraíso natural antes da virada do século XX. Localizada a poucos quilômetros da costa de Kanagawa, a ilha era famosa por sua biodiversidade singular e por ser o único habitat de uma rara espécie de macaco endêmico do arquipélago japonês. Durante o período Meiji, a pressão por modernização e industrialização transformou radicalmente sua paisagem. Veios profundos de carvão foram descobertos sob suas colinas, e a ilha rapidamente foi convertida em um entreposto minerador.
Ao longo da Primeira Guerra Mundial e até os anos 1930, Sarushima prosperou como uma instalação autossuficiente, contendo escolas, áreas residenciais, campos esportivos, hospitais e instalações militares. A fauna foi exterminada e a flora nativa dizimada para dar lugar a concreto, aço e fumaça. Seus habitantes originais — tanto humanos quanto não-humanos — foram substituídos por operários, engenheiros e militares.
Com o declínio da indústria carbonífera no pós-guerra, a ilha foi progressivamente abandonada. Nos anos 1960, Sarushima se tornou uma ruína esquecida, parcialmente demolida por terremotos, tufões e o próprio tempo. À medida que as décadas avançaram, a vegetação começou a retomar seu lugar, enredando-se entre as estruturas quebradas. Na década de 1980, ela reapareceu nos radares — não como local turístico ou patrimônio ambiental, mas como palco sombrio de experimentos e entretenimento violento patrocinado por corporações clandestinas.
Descrição Geográfica Atual (1989)
Em 1989, Sarushima é uma ilha híbrida: parte selva, parte ruína. A superfície é irregular, composta por platôs artificiais e escarpas naturais. As regiões costeiras são abruptas, com penhascos altos no lado norte e praias estreitas e pedregosas no sul e leste. A oeste, há uma enseada calma usada como ancoradouro secreto.
A vegetação selvagem tomou posse das zonas abandonadas, especialmente ao redor das antigas minas e dos bairros residenciais. Árvores frondosas crescem sobre os telhados e raízes racham paredes de concreto. Muitas passagens foram soterradas ou bloqueadas por deslizamentos. A visibilidade é precária em áreas florestadas, e a umidade torna o terreno traiçoeiro.
Internamente, a ilha abriga uma série de túneis, minas, passarelas, ruínas de apartamentos e áreas comunitárias soterradas. Algumas dessas estruturas são instáveis ou colapsadas, outras foram reforçadas secretamente por engenheiros a serviço da Vulcan Entertainment, Pentex e seus braços armados.
DOSSIÊ CONFIDENCIAL – CLASSIFICAÇÃO NÍVEL 5 (INTERPOL / STARGAZER)
Compilado por: Yunuen Trembley Pérez
Local de operação: Kobe, Japão
Data: 13 de Junho de 1989
Alvo: Michael “Mike” Poser
Status: Ativo / Alta Periculosidade Cultural e Humanitária
IDENTIFICAÇÃO GERAL
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Nome completo: Michael Poser
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Codinomes conhecidos: "The Editor", "Red Reaper", “M.P.”
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Nacionalidade: Holandês (naturalizado norte-americano)
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Idade estimada: 34 anos
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Profissão pública: Diretor de cinema documental e produtor de "cinema extremo alternativo"
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Afiliado a: Eagle Eye Productions, Vulcan Entertainment (subsidiária Eagle Eye), co-produtor em diversos projetos da rede Americana e Canadense “RazorWire TV”
PRINCIPAIS OBRAS E CONEXÕES CRIMINAIS
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Espectros da Morte (Vol. 1 a 12)
Série de vídeos “documentais” que simulam (ou não) mortes reais, tortura, sequestro e degradação humana. Vendidos como material jornalístico ou arte grotesca.
Evidências forenses indicam que ao menos 4 segmentos mostram vítimas reais (dois indígenas canadenses e dois desaparecidos do Havaí). -
American Gladiators (Co-diretor, 1987)
Reestruturação do programa para incorporar elementos de “humilhação ritualizada” disfarçada de esporte. Segundo denúncia de ex-funcionário da Vulcan:“Mike dizia que, com ângulos e cortes certos, um osso quebrado virava entretenimento.”
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Ilhas Silenciosas – Projeto 457-A
Projeto de desaparecimento sistemático de indígenas nas regiões do arquipélago filipino, Palau e litoral canadense. Documentos da Eagle Eye cruzam com nomes de pessoas desaparecidas e títulos de roteiros não filmados.
ANÁLISE DE PERFIL
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Psiquê: Narcisista, carismático, sádico funcional. Compensa a vaidade com humor autodepreciativo, criando falsa empatia.
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Presença pública: Adorado no circuito "culto-experimental". Convidado frequente de revistas underground (Men’s Playroom, REZ, Nyctophilia). Sempre defende seus filmes como "esclarecedores" ou "provocações sociais".
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Comportamento habitual em set: Rodeia-se de milicianos urbanos (Dreadnoks, confirmados), costuma dar ordens através de megafones como forma de reforçar sua autoridade “teatral”.
ENTREVISTA DADA A REVISTA ADULTA "MEN'S PLAYROOM"
“O Horror é Sexy”
Mike Poser fala sobre ultraviolência, cinema vérité, e o que realmente acontece atrás das câmeras de Espectros da Morte.
Apresentação
No cruzamento entre arte marginal, filme B, realismo brutalista e pornografia existencial, você encontrará Mike Poser — um homem que sorri mais do que deveria ao falar sobre sangue, sofrimento e gritos humanos capturados em 16mm. Holandês de nascimento e cidadão norte-americano por escolha e contrato, Poser é o co-criador da série cult “Espectros da Morte”, uma coleção de vídeos em VHS que causaram convulsões tanto em censores quanto em cinéfilos. Ele também é um dos nomes por trás da primeira temporada de American Gladiators — sim, aquele com menos colágeno e mais fraturas expostas.
Encontramos Poser em um estúdio abandonado nos arredores de Atlanta, vestido com jeans rasgados, camiseta branca suja de tinta spray e um par de Ray-Bans espelhados, mesmo sendo meia-noite. Ao lado, uma polaroid de um ator supostamente “morto” nas gravações.
PLAYROOM:
Mike, você parece sempre à beira de uma piada interna. O que exatamente te diverte tanto?
POSER:
[Risos] Eu gosto da ideia de que o público sempre acha que está vendo algo que não devia estar vendo. Isso me diverte. O tablado da arte não é para os tímidos. As pessoas assistem meus filmes com um olho coberto e o outro arregalado.
PLAYROOM:
Vamos direto ao ponto. Espectros da Morte—real ou falso?
POSER:
[Rindo alto] Você também vai me perguntar se Papai Noel existe? Olha, a ideia de Espectros é que tudo pareça real demais para ser verdade. Nós usamos efeitos práticos, sim, mas muito do que assusta nas minhas produções é a performance. Não há monstros — só humanos no limite. E eu sei como chegar nesse ponto.
PLAYROOM:
Então você nunca filmou uma execução real?
POSER:
Executar alguém seria barato. A ilusão é bem mais cara. Nós usamos câmeras escondidas, atores não-profissionais e muito improviso. A câmera tremendo, o som abafado — isso é intencional. É design. Eu faço teatro de guerra com orçamento de guerra fria.
PLAYROOM:
Você co-dirigiu American Gladiators. Aquilo era esporte ou sadismo estético?
POSER:
[Risos] Os dois. A primeira temporada foi crua. Era a ideia: gladiadores americanos enfrentando testes de força, ego e testosterona — com um pitada de guerra urbana. A audiência respondeu bem à violência, então a produção... exagerou um pouco. Mas era tudo espuma e coreografia, baby.
PLAYROOM:
Dizem que você teve problemas com os sindicatos por “abusos” no set...
POSER:
Ah sim, “abusos”. Olha, qualquer coisa fora do manual tradicional assusta os burocratas. Eu não sou um diretor de sindicatos — eu sou um artista performático com câmeras. Se eu quiser filmar um cara sendo atropelado por um tanque de mentira, eu filmo. Se quiser gravar um parto dentro de uma rave de necromancia industrial... eu faço. A indústria só quer controle. Eu quero o caos.
PLAYROOM:
Você tem fama de misógino. Em muitos dos seus filmes, mulheres sofrem horrores.
POSER:
Elas também causam horrores. Eu dou papéis poderosos. Faces 3 tem uma mulher que arranca os próprios dentes com alicate para escapar de um interrogatório. Isso é horror ou heroísmo? Eu acho que as mulheres nos meus filmes são mais livres do que em qualquer comédia romântica. Elas não são vítimas — são criaturas. Assustadoras, belas, invencíveis. Como minha ex.
PLAYROOM:
E quanto à crítica mais pesada: que você glamouriza a dor?
POSER:
Todo mundo consome dor. Você assiste o noticiário com café e ovos. Eu só te dou o noticiário sem o jornalismo hipócrita. Eu coloco você dentro da cena. E se você sente culpa por assistir... então talvez a culpa não seja minha.
PLAYROOM:
Você trabalha com a Eagle Eye, certo? O que é essa produtora?
POSER:
[Risos curtos] A Eagle Eye é uma produtora independente. Tem sede na Califórnia e um olhar... aguçado para o underground. Eles investem em liberdade criativa. Me deram carta branca desde o primeiro projeto. Eu posso fazer o que quiser — o que, pra mim, é o único jeito de fazer arte.
PLAYROOM:
Algum projeto novo?
POSER:
Tenho sim. Estou desenvolvendo uma experiência transmídia em locação exótica — algo com realidade aumentada, mas orgânica, saca? Os jogadores não vão saber se é atuação ou vida real. Quero mesclar game show, filme de guerra e documentário ao vivo. Vai ter sangue de mentira e emoção real. Vai se chamar... talvez Nihon Hiro.
Mas é só um rascunho... por enquanto.
PLAYROOM:
Se você não fosse diretor, o que seria?
POSER:
Empresário de boxe. Ou vendedor de caixões. Ou comediante stand-up. Tudo que envolva espetáculo e agonia.
PLAYROOM:
Última pergunta: você acredita em inferno?
POSER:
Claro. Eu já filmei lá. E a trilha sonora era excelente.
RELACIONAMENTOS
-
Vulcan Entertainment: Diretamente envolvida em tráfico de seres humanos.
-
Eagle Eye: Patrocinadora de várias de suas obras. Confirmada presença dele em reunião do board da Empresa em Seattle, 1987.
-
COBRA / Red Shadows: Cooperação confirmada em projeto experimental de “Reality War Footage”, nunca exibido.
-
Dreadnoks: Grupo paramilitar que atua como segurança e “casting agent” em áreas remotas.
INCIDENTES CONHECIDOS
-
Caso "Índigo": 1985, cinco jovens indígenas desaparecem na reserva de Klamath. Três meses depois, Espectros da Morte Vol. 7 mostra rituais com participantes “anônimos”. Uma tatuagem de família foi identificada.
-
Caso “As Ilhas que Gritam”: Em 1983, moradores de uma aldeia nas Ilhas Marshall denunciam a presença de “equipe de filmagem” que levou cinco jovens sob pretexto de gravação. Nunca retornaram.
CONCLUSÃO
Mike Poser é mais que um diretor. Ele é um arquétipo da corrupção artística a serviço da destruição cultural e indenitário. Sua imagem pública foi construída com base em controle narrativo, brutalidade estilizada e parcerias com entidades corruptoras.
Sua captura ou exposição é essencial para desmantelar a rede de entorpecimento cultural que atua sob a fachada da “vanguarda artística”.
RECOMENDAÇÃO STARGAZER:
Evitar confronto direto. Alvo é carismático, mas perigoso.
Identificar e interceptar rotas de captura humana ligadas à Vulcan.
Obter material bruto de seus projetos – pode servir como evidência e instrumento de exorcismo mediático.
Assinado,
Yunuen Trembley Pérez
Agente Especial (Stargazer)
Divisão de Reconhecimento e Mobilidade Estratégica
13/06/1989 – Kobe, Japão
Operação Jogo Mortal
A Operação Jogo Mortal foi viabilizada pelo sucesso da
Operação Popstar, liderada pela operativa Mari Azai, com o apoio da agente
Yunuen Perez e da agente Rey Ichiyama. Com base nos resultados obtidos na
Operação Popstar, a Força-Tarefa Stargazer identificou uma janela de
oportunidade para infiltrar agentes no reality show "Nihon Hiro," uma
fachada para o tráfico humano e recrutamento forçado para o Exército da
Vingança e outras operações criminosas.
Coordenação e Equipe
A operação será coordenada pela agente líder Yunuen Perez, com os seguintes
agentes e operativos envolvidos:
- Operativa Charlotte
- Operativa Mari Azai
- Agente
Rostov (GIAF)
Além disso, infiltrados entre os participantes do Nihon Hiro estão: - Agente Cósmica (GIAF)
- Colaboradores
civis: Douglas Rock, Frederico Nakajima, Mary Kingston e Wilssen De
Jong
Apoios
adicionais:
- Investigador
Jun Harada, da Polícia Metropolitana de Tóquio, coordena uma operação
paralela da Guarda Costeira para intervenção após a coleta de provas
suficientes.
- Agente
Amélie Boucher oferece apoio estratégico e investigativo, se
comprometendo em encontrar e remover qualquer elemento corrompido dentro
da operação da Guarda Costeira ainda que limitado, dada a necessidade de
manter seu disfarce.
- Agente
Rey Ichiyama irá auxiliar Agente Boucher em sua missão.
- Superintendente
Mayu Nakayama, da Polícia Metropolitana de Osaka, está fornecendo
recursos e cobertura tática em momentos chave.
Objetivos
da Operação
Objetivos
Primários
- Desmantelar
o programa Nihon Hiro:
Coletar evidências legais e substanciais suficientes para encerrar o programa Nihon Hiro e associar os crimes às gangues Black Warriors e Dreadnoks, atuando principalmente em Tóquio e Nagoya. Essas evidências devem incluir: - Relatos
de sobreviventes (preferencialmente com testemunhos gravados)
- Documentos jurídicos, fiscais
e contratos
- Provas
físicas e digitais (vídeos, fotografias, gravações de áudio)
- Registros
detalhados de transferências de dinheiro, propriedades e tráfico de
pessoas.
Nota: Evidências sobre o envolvimento da Vulcan
Entertainment e da Eagle Eye Entertainment, empresas que podem estar ligadas a
Star Corp, são cruciais para expor a conexão empresarial com as operações
ilegais e ampliar o impacto internacional da operação.
- Garantir
a segurança e o resgate dos agentes e colaboradores:
Prioridade máxima para garantir a sobrevivência e extração de todos os agentes, operativos e colaboradores civis infiltrados.
Objetivos
Secundários
- Resgatar
o maior número de vítimas:
Embora a proteção das vítimas seja crítica, o resgate delas não pode comprometer o sucesso dos objetivos primários ou colocar em risco a segurança da equipe operacional. - Capturar
Abobo:
Líder dos Black Warriors, Abobo representa uma ameaça significativa, mas sua captura não é essencial para o sucesso da operação. A captura deve ocorrer apenas se for possível sem comprometer as evidências ou os agentes envolvidos. - Capturar
Zanzibar:
Líder dos Dreadnoks no Japão e piloto do "Tubarocopteroplano”, Zanzibar é uma peça-chave no tráfico de pessoas entre o Japão e a Coreia do Sul. Sua captura seria benéfica, mas, assim como no caso de Abobo, a prioridade é obter provas de sua conexão com o tráfico e os crimes relacionados. - Capturar
Mike Poser:
Diretor do Nihon Hiro e responsável pela produção dos vídeos criminosos, Poser é um alvo secundário de grande relevância. Sua captura poderia desmantelar a operação de filmagem e a distribuição dos conteúdos criminosos, mas deve ser feita apenas se não comprometer a missão principal.
Possíveis
evidências adicionais:
- Dispositivos
eletrônicos com registros de filmagens e transmissões
- Ordens
de pagamento e transferências bancárias
- Planos
de logística para tráfico de vítimas entre países
- Comunicações
entre membros da Vulcan Entertainment, Eagle Eye e gangues envolvidas.
Equipamento
Disponível para a Operação
- Infiltração:
- Lancha
rápida para inserção inicial (agente Yunuen, operativa Charlotte,
operativa Mari e agente Rostov)
- Equipamento de Comunicação:
- Walkie-talkies
- Laptop e telefone celular
DynaTac
- Equipamento de Vigilância:
- Câmera
de vídeo, três máquinas fotográficas, gravadores de áudio
- Equipamento
de Proteção e Combate:
- Colete
à prova de balas camuflado, capacete camuflado
- Equipamento
de combate padrão (carregado por Yunuen)
- Armas
pessoais de Mari Azai (socos ingleses)
- Armas
de Yunuen (atlatl, machadinha tática Tomahawk, lança customizada)
- Equipamento Pessoal:
- Walkman
e fitas musicais de Mari Azai (usados para comunicação secreta)
Sugestão
de Equipamentos Adicionais:
- Equipamentos
para hacking ou bloqueio de transmissões eletrônicas (para impedir que
evidências sejam destruídas)
- Medicamentos
e kits de primeiros socorros avançados para as vítimas e agentes
- Flares
de sinalização para chamar a Guarda Costeira em caso de emergência.
Charlotte, Mari e
Yunuen chegam em Tóquio de trem, Yunuen, cansada, pede que Mari e Charlotte
lidem com o taxista dessa vez. Mari pediu que o taxista levassem elas até o
porto.
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Ryan Goveia |
No porto, elas se dirigiram até o depósito onde a operação da guarda costeira acontecia. Lá, se encontraram com Rey Ichiyama, Vostok e Ryan Goveia, Goveia se desculpa por Boucher, porque ela não pode vir, mas mandou ele no lugar. Yunuen pergunta se ela está bem, e Goveia responde bem-humorado, que depois da operação deles, tem certeza que ela vai ficar. Mari e Charlotte perguntam que operação é essa e ele fala que é espancar uns bandidos que pensam que estão montando uma armadilha para ela.
Rey parecia
exausta, mas com um brilho no olhar, como quem já aceitou o caos da situação e
até se diverte com ele e Mari a elogia dizendo que ela parece menos suada.
Rey, Goveia e
Vostok informaram que investigaram o depósito com ajuda de Jun Harada e falaram
que o possível informante dos Black Warriors é detetive da guarda costeira
detetive Hinami – Rey chegou a o fotografar conversando com um do líderes dos
Black Warriors, o gangster conhecido como Ron Roper.
Após tirarem
algumas dúvidas e pedir melhores esclarecimentos, Goveia se despede e vai
embora ajudar Boucher, Rey avisa que vai ficar cuidando e vigiando o bote, indo
embora de bicicleta, Vostok se une a elas e expressa certa preocupação com
Cósmica, embora acredite que ela possa se cuidar sozinha. Em um rompante
paternal, ele diz que adoraria que Cósmica fosse amiga de Charlotte e Mari. Charlotte
não gostou da ideia e deixou a impressão passar, Charlotte não gostou da ideia,
mas deixou a impressão passar. Mari a censurou, lembrando que estavam com o pai
de Cósmica. Acrescentou que, apesar de estranha, Cósmica era bem legal, e que a
considerava amiga — só não sabia se ela sentia o mesmo. Vostok disse que tem
certeza que ela adora Mari e disse a Charlotte que ela só estava com aquele
humor no avião porque ele estava presente. Curiosa Charlotte pergunta porque,
Mari disse que acha que é birra de filha com pai, e Vostok concorda. Charlotte
diz que ela é uma jovem e depois se toca que ela também é, mas diz que vai dar
uma chance para ela. Finalmente Yunuen pergunta “Acabou? Podemos voltar a
missão?”
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Detetive Harada |
As três e Vostok entram no depósito e falam com Detetive Harada. Ele se sente mais à vontade em conversa com Mari, mais é cordial com todos. As detetives e Vostok pedem uma reunião secreta, e ele diz que podem fazer isso nos fundos do armazém.
Se encontrando lá,
um espaço apertado entre a parede do armazém e uma cerca gradeada do cais, as
três e Vostok falam sobre Detetive Hinami – possível informante dos Black
Warriors. Harada fica entristecido, mas não exatamente surpreso, explica que
Hinami está com dificuldades financeiras devido a uma compra de nova casa para
sua família com esperança de que o bônus de fim de semestre fosse gordo, mas
não foi tanto assim. Acabou ficando em divida com a imobiliária, e
possivelmente a imobiliária tem relação com os Yakuza, que repassaram essa
informação para os Black Warriors. Eles discutem o que fazer com Hiname. Eles
discutem o que fazer com Hinami. Vostok e Yunuen acreditam que ele pode ser
perigoso demais — e que o melhor é 'removê-lo'. Charlotte concorda, mas hesita,
sem saber exatamente o que 'remover' implica. Harada e Mari não gostam da
idéia, Harada por ter Hiname como um amigo, e Mari porque acha que ele foi persuadido,
enganado, mas que não se sabe se ele aceitou ainda falando inclusive que se
“remover” ele, o que quer que isso signifique, pode alertar os Black Warriors
que algo está errado.
Eles decidem então
emboscar Hinami no velho cais abandonado da Segunda Guerra Mundial. Harada
inventaria que marcou um encontro com alguns agiotas, recomendados pelo gerente
do banco, para resolver sua dívida. Eles também concordam, que irão questionar
Hiname, e dependendo de suas respostas, irão decidir o que fazer com ele.
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Detetive Hinami |
Charlotte, Mari, Vostok e Yunuen chegam no porto primeiro no carro de Vostok, um Volvo 740 GLE preto. Harada chega com Hinami depois, em um Honda Accord sedan verde musgo. Harada vai acompanhando Hinami até o meio do encontro e ele vai falando para Harada que não precisava daquilo, ele ia se arrumar sozinho, mas Harada reiterando que já havia arranjado a reunião, então valia a pena ouvi-los. Então Vostok liga os faróis altos de seu carro, criando uma atmosfera intimidadora. Yunuen é direta, perguntando a ele logo se ele traiu Harada ou não. Confuso, Hinami pergunta por que esses agiotas são meninas, e que história é essa de traição. Mas o aperto no ombro que Harada dá é firme, indicando a Hinami que ele não tem para onde ir. Harada pergunta para Hinami se ele andou conversando sobre a operação dele com os Black Warriors. Mari se junta, dizendo, com jeito, que elas tem as fotos dele com um dos lideres deles, Ron Roper. Sem saída, Hinami confessa que estava conversando sim, mas não aceitou. Fala sobre o problema de dívida imobiliária e como isso chegou aos Black Warriors e como Ron Roper disse que a divida sumiria se ele apenas dissesse para eles tudo que ocorresse na operação da guarda costeira. Yunuen, farejando o ar, não detecta sinais de dissimulação e afirma que ele está sendo honesto. Mas Rostov e Charlotte ainda afirmam que ele não pode ser confiável. Porém, num rompante de arrependimento, Hinami se ajoelha e diz querer se redimir e fala tudo sobre o local que os Black Warriors se firmaram e onde eles o esperam, o Bar da Marinha. Esse bar era popular entre veteranos e aposentados da marinha, mas que foi tomado pelos Black Warriors e onde ele deveria se encontrar com eles. Hinami sugere que pode juntar um grupo bom de homens de confiança da Guarda Costeira e irem lá a paisana acabar com eles.
Eles se reúnem e
consideram a ideia de Hinami Harada fala que é possível sim Hinami juntar uns
quatro, que com ele, seriam seis homens da guarda costeira. Somados com
Charlotte, Mari, Vostok e Yunuen dariam dez no total. Os polícias ocupariam os
gangsters e os investigadores partiriam para cima dos líderes. Eles iriam a
paisana para fazer a invasão extra-oficial, uma necessidade para não se alertar
os Ichiwakage-gumi – os aliados Yakuza dos Black Warriors, ir em caráter como a
Guarda Costeira seria prova para os Yakuza de que a guarda costeira está
tramando contra eles. No caráter à paisana, eles poderiam passar por
marinheiros zangados com a invasão dos Black Warriors.
Mari arregala os
olhos, formando um “o” com a boca, e exclama:
— “Já que vamos nos passar por marinheiros… por que não chamar marinheiros de
verdade para ajudar?”
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Maeda “Senshi Ojo” Imura |
Em seguida, ela começa a contar a história de como conheceu Maeda “Senshi Ojo” Imura, um marinheiro com quem se tornou amiga. Durante uma investigação sobre carregamentos suspeitos no porto, Mari descreveu para ele a tatuagem dos criminosos que descarregavam equipamentos de filmagem e logística destinados à ilha Sarushima. Maeda, ao ouvir, recusou-se a ajudar, dizendo que aqueles homens eram perigosos demais e que não queria ver uma mulher se machucando.
Mari riu da
preocupação e respondeu com firmeza que sabia se defender. Maeda caiu na risada
e desafiou:
— “Se conseguir me vencer, eu acredito.”
Eles lutaram ali
mesmo — e Mari saiu vitoriosa, ainda que por pouco. Convencido, Maeda a ajudou
a identificar as tatuagens, o que levou Mari a descobrir que, além dos Black
Warriors, os Dreadnoks também estavam envolvidos. Ao encerrar sua história, ela
sorri confiante:
— “E foi assim que viramos amiguinhos! Acho que consigo convencer o Maeda a
reunir uns marinheiros... de verdade! Aí juntos vamos pocar os Black Warriors e
recuperar o Bar da Marinha.”
Eles então decidiram
dividir o grupo, Yunuen e Vostok iriam escoltar o bar da Marinha enquanto
Charlotte e Mari iriam até Yokosuka, no porto da Autodefesa Japonesa, próximo
da Base Americana de Yokosuka.
Mari e Charlotte
vão de metrô e depois pegam um ônibus, aonde finalmente chegam no porto. Com
malandragem, Mari se passa por “namorada do Maeda”, dizendo que Charlotte é
amiga dela, o truque funciona e elas ganha acesso ao porto, onde saindo
perguntando, descobrem que Maeda está na cafeteria do navio destroyer Yamagiri.
Clamando para o tenente do navio que buscava Maeda para perguntar por que ele
não apareceu no encontro que eles marcaram, Mari e Charlotte ganharam acesso ao
navio, onde foram até a cafeteria e encontraram um surpreso Maeda, que não
esperava que além de durona, Mari conseguiria entrar em um navio militar só no
papo... e levando uma criança junto.
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Destroyer Yamagiri |
Mari explica para
Maeda “Senshi Ojo” Imura sobre o que está acontecendo, os Black Warriors
tomaram o Bar da Marinha, onde aposentados da marinha se encontravam. E fala
que a guarda costeira vai atacar lá para expulsar a gangue. “Daí me perguntei
se a marinha ia deixar barato e deixar a diversão toda para o pessoal da guarda
costeira.” Ela provocou.
Maeda disse que não
mesmo, e que iria levar mais gente que a guarda costeira.
Imura acabou por
levar 6 outros marinheiros consigo.
Mari e Charlotte
retornam com a boa notícia, e se encontram com Vostok e Yunuen, notam que
Vostok está ferido, Yunuen explica que Vostok “é um louco” e entrou no bar para
examinar por dentro, fingindo ser um cidadão comum querendo beber um pouco sem
entender que tinha entrado em um antro de criminosos. Vostok fala que não foi
nada e valeu a pena, pois agora eles sabem os números de gangsters lá dentro e
que eles estão preparados para uma reunião, em peso, com mais de 20 para
intimidar, mas não estão esperando resistência.
Na esquina do bar
da marinha, os cinco da guarda costeira se encontraram com os sete marinheiros
e os investigadores. Os marinheiros fizeram pouco dos investigadores “É tudo
menina e só um homem?” No que Maeda retruca apontando para Mari. “Aquela alí me
espancou e eu posso espancar vocês tudo!” E charlote fala. “E eu posso vencer
vocês sem quebrar minha unha.” O que fazem os marinheiros rirem mas Mari fala.
“Essa daí certeza que me vence, e eu venci do Maeda, que vence de vocês
tudinho!”
Vostok e Yunuen explicam para os grupos todas
as entradas e saídas do bar, também onde os líderes se encontram, em uma grande
mesa aguardando a chegada de Hinami. Existe uma entrada frontal e a dos fundos.
Cada entrada está defendida por quatro gangsters Black Warriors e a mesa dos
líderes está localizada mais próxima da entrada principal. Vostok e Yunuen
desenham o mapa do bar para o grupo: uma entrada principal, outra nos fundos.
Cada porta é vigiada por quatro Black Warriors, e a mesa dos líderes fica perto
da frente, aguardando Hinami.
O plano:
investigadores e guarda-costeiros entram pela frente; os policiais seguram os
capangas enquanto os investigadores avançam nos chefes. A marinha ataca pela
porta traseira. Há um momento de disputa – os marinheiros queriam o “show” da
entrada principal –, mas acabam cedendo. Takeshi “Iron Whale” Morimoto ergue a
chave inglesa e sorri:
— “Relaxa. A gente arrebenta pelos fundos e ainda abre a porta da frente pra
vocês!”
Os preparativos têm
início.
A guarda costeira veste um equipamento padronizado: jaquetas pesadas — não
blindadas, mas grossas o bastante para absorver impactos —, calças jeans e
bastões de madeira simples e eficazes.
— “Vocês ainda
parecem policiais.” — faz pouco Yunuen, enquanto abre seu estojo de lacrosse e
monta sua intimidadora lança-flecha maia. Ela tira a jaqueta, revelando braços
e peito tatuados com jaguares, guerreiros, flores, serpentes e pássaros maias.
Mari ajusta seu
walkman na calça jeans, fones nos ouvidos, cantando trechos de Scorpions e
David Bowie. Calça um soco inglês, prepara o bastão telescópico e começa a
fazer shadow boxing.
Charlotte ajusta
seu pequeno guarda-chuva — na verdade, um bastão metálico disfarçado. Vostok
calça dois socos ingleses e aquece os músculos com socos no ar.
Enquanto isso,
Hinami e Harada reparam que a guarda costeira não veio para brincadeira.
Maeda ‘Senshi Ōji’
Imura é o mais leve em armamento, com dois socos ingleses.
Iron Whale Morimoto carrega uma chave de navio imensa como se fosse um porrete.
Shigeru “Torpedo Fist” Yamane, o mergulhador, empunha uma faca de combate.
Hajime “Boom-Boom” Arakawa, especialista em demolições, traz um alicate de
partir correntes e uma bolsa de explosivos.
— “Ei cara, você não vai usar esses, né?” — pergunta Mari. Ele só sorri como um
maníaco e dá de ombros.
Daigo “Echo” Funakoshi, especialista em comunicações, trouxe sua Shinn Guntō —
o sabre militar dos oficiais.
Riku “Rust Buster” Tanabe, oficial mecânico, segura um machado de incêndio... e
claramente não é para abrir portas.
Masaru “Silent Tide” Kurosaki, o sniper do navio, carrega um arpão militar,
pronto para ser usado como lança.
Preparados, os
grupos se separam.
A guarda costeira
avança ombro a ombro pela rua até o Bar da Marinha. Os investigadores logo
atrás.
Os Black Warriors percebem a aproximação e começam a se mover, sacando
correntes, porretes e facas.
Os homens da guarda costeira gritam “BANZAI!” e avançam com ímpeto.
Um rugido
semelhante ecoa pela entrada dos fundos.
E assim começa a
batalha pelo Bar da Marinha.
A guarda costeira
se choca com os Black Warriors, trocando golpes de porrete. Oficial Ryoto,
agarra um deles pela jaqueta e o usa como aríete para arrombar a porta. Os
investigadores entram no recinto. O bar da marinha, um espaçoso estabelecimento
antes decorado com motivos navais ainda retém parte de sua decoração original,
porém quadros e fotografias vandalizadas. No lugar, bandeiras da gangue Black
Warriors foram estiradas e decoração duvidosa de partes de motos e cápsulas de
balas tomaram o lugar. Os black Warriors parecem loucos, muitos tem o cabelo
tingido com tons de fogo e quase todos possuem intimidadoras tatuagens. O mais
interessante, é que muitos não são japoneses, confirmando a informação da
Stargazer que eles são originários de New Jersey, Estados Unidos. Elvis Presley
cantava “Jailhouse Rock” pela Juke Box do bar quando eles entram.
Logo os líderes
black warriors se levantam. Williams, um americano forte e tatuado, usando uma
jaqueta e calças azuis e luvas reforçadas. Ron Roper, um alto homem negro de
cabelos espetados pintados de vermelho, peito nu de músculos esbeltos e
definidos cobertos de tatuagens de gangue, um olhar tão frio quanto seu taco de
baseball metálico. Linda Lash, uma provocante dominatrix em látex decotado e um
chicote. Chin Taimei, um misterioso lutador Taiwanês de atlético e coberto de
cicatrizes, desejoso por uma luta e, fazendo sombra em todos eles, o gigante
Abobo, com seu corpo repleto de músculos quase impossíveis e seu icônico bigode
fu manchu. Abobo grita: “Vamos proteger a muamba! Vocês acabem com esses
desgraçados!” Fazendo os líderes partirem e debanda para uma porta no fim de um
corredor, apenas Williams ficando para trás para coordenar a defesa na parte
superior.
![]() |
Linda Lash, Roper, Abobo, Williams e Chin Taimei |
A guarda costeira
invade em peso, se digladiando com os capangas. Por trás, os marinheiros fazem
o mesmo, suas armas subindo e descendo contra as armas dos capangas.
Mari não deixa
barato, corre para cima de Ron Roper que fugia e desfere nele uma cotovelada.
“Tá amarelando, fujão?” Ela provoca.
Vostok abre caminho
até Mari, espancando com dois socos um capanga que ousou se colocar em seu
caminho.
Charlote entra,
nota que o bartender está se armando com um rifle de trás do balcão e lança sua
canção hipnotizante, fazendo-o parar. Yunuen, que se lança para abrir caminho
até Mari em um dropkick que apaga um capanga, nota que outro está se
aproximando de Charlote, e o ataca com uma acrobática ombrada.
Williams encontra
Vostok e os dois iniciam um duelo.
Chin Taimei se
amaldiçoa por ter que recuar, ainda mais quando Mari consegue o alcançar e
socar seu flanco. “E aí, china? Não que brigar não ou é só um tigre de papel?”
A brasileira provoca, fazendo ele proferir uma promessa de vingança.
Williams desfere
golpes pesados contra Vostok, nos quais o soviético facilmente se esquiva e
troca seus igualmente pesados mas mais eficazes socos, fazendo o líder Black
Warrior perder o folego quando é atingido na boca do estômago.
Charlotte consegue
encantar o bartender no momento em que ele mirava em Mari, ele para bobo
ouvindo a canção.
Ringo, o
cachorrinho dos investigadores, late entusiasmado por trás da proteção de seus
mestres.
Yunuen continua com
seus acrobáticos e pesados golpes contra os capangas, na esperança de abrir um
corredor que ligue eles a Mari que está avançada. Enquanto isso, Abobo arromba
a porta dos fundos do corredor com uma ombrada, e Linda Lash desaparece nas
escadas atrás dela.
Vendo que se adiantou muito, e que não vai conseguir pegar os líderes sozinha, Mari parte para cima dos capangas afim de ajudar a criar o corredor de passagem. Ela canta “Here I am, Rocking like a Hurricane!” enquanto desfere chutes giratórios como se fosse um furacão de chutes contra vários capangas.
Charlotte manda o
bartender tentar jogar a arma no alvo de dardos. Ele obedece, mas erra o alvo
ficando triste. Yunuen quebra as costelas de um capanga o jogando contra sua
própria coxa.
Após arremessar a
arma, o bartender consegue sair do encanto de Charlotte. Ele então alcança
debaixo do bar uma granada. Vendo o perigo, Yunuen é tomada por fúria
momentânea, seu sangue de deusa Jaguar se manifesta e ela salta de forma
assombrosa contra o bartender e enterra sua lança flecha em seu pescoço,
atravessando o corpo dele até atingir o coração.
Neste interim,
Vostok terminou de surrar Williams, a guarda costeira e Mari finalizam os
últimos gangsters e charlote ordena uma gangster a se render com sua melodia.
Nos fundos, os marinheiros estão cortando em pedaços o último de seus oponentes
que tentou alcançar uma espingarda na parede.
Com o bar tomado,
Harada avisa que mais gangsters estão vindo em socorro. Os investigadores
descem as escadas dos fundos em perseguições dos líderes fugitivos enquanto
marinheiros e guarda costeira ficam a postos para enfrentar os reforços.
Os investigadores
tinham feito o dever de casa. Sabiam que aquela escadaria levava a um antigo
museu particular — uma homenagem ao passado pesqueiro e à Marinha japonesa,
criado por um dono anterior do bar. Mas o que viram ao descer foi outra coisa.
O museu havia sido
transformado numa casa de jogos de azar clandestina — e jogos de azar
são ilegais no Japão.
Entre fichas, sacos
de dinheiro e cadernos de contabilidade, estavam três dos quatro líderes
restantes dos Black Warriors: Linda Lash, Chin Taimei e o
brutamontes Abobo.
Yunuen, que enxergava melhor no escuro, fechou os
olhos por um instante e usou a telepatia de Charlotte para avisar a
todos:
"Ron Roper
está na próxima sala. Está vasculhando tambores de munição."
O clima ficou
tenso.
Abobo, ao vê-los, soltou um rugido:
“Chega! Agora
mataremos todos vocês!”
Chin Taimei estalou
os punhos:
“Finalmente, a luta
que eu esperava.”
Mari sorriu,
provocando:
“Ei, Abobo! Lembra
do Oichi Top Six que te espancou uns meses atrás? Eu sou a única Top Six que
ainda não te espancou!”
E o combate
começou.
Mari avançou em
disparada na direção de Ron Roper, que surgiu carregando sobre a cabeça
um barril de munições.
Charlotte posicionou-se ao centro da sala, braços estendidos, pronta
para conjurar sua música-arma. Ringo, o cãozinho da Stargazer, ficou
logo atrás dela, latindo furiosamente.
Chin Taimei correu em direção a Vostok, mas foi
interceptado por Yunuen, que saltou entre os dois.
Linda Lash estalou seu chicote em direção a Mari, mas a brasileira se
esquivou com um giro veloz.
Ron arremessou o
barril, mas Mari o interceptou com um uppercut no queixo, seguido de um chute
giratório acrobático enquanto gritava, com fones no ouvido:
🎵 “Fall
fall fall fall out of the sky!” — The Cure 🎵
O líder Black
Warrior foi arremessado contra uma pilha de cadeiras, rugindo de dor.
Vostok enfrentava dificuldades contra o colosso Abobo. Seus socos ricocheteavam como se atingissem pedra bruta.
Quando o gigante ergueu o punho para esmagá-lo, Charlotte cantou uma nota poderosa, congelando Abobo por um instante.
Chin, percebendo a ameaça de Charlotte, avançou
contra ela —
Mas Yunuen, mesmo ferido por uma chicotada de Linda, lançou um dropkick
brutal, atingindo o taiwanês no peito e entortando-lhe o equilíbrio.
Vostok, vendo Abobo momentaneamente atordoado,
aproveitou e desferiu uma sequência rápida de socos no tronco do
gigante.
Linda recuou,
preparando um golpe especial —
“Flash Lash!”
Mas Mari saltou por
cima do chicote, girando no ar, e desferiu dois socos e um chute com
precisão. No ar, cantarolou com escárnio:
🎵 “We
will, we will rock you!” 🎵
Abobo, ainda zonzo,
errou um soco que teria esmagado o tórax de Vostok. O russo só pôde recuar.
De saco cheio de
Linda, Yunuen partiu para cima com outro dropkick de dois pés,
derrubando a mulher com força no chão.
Ron Roper se ergueu
do entulho, sacou um taco de beisebol e gritou:
“Essa aí luta como
os malditos Lee!” — apontando para Mari, estupefato.
Chin, também
recuperado, se lançou contra Mari e conseguiu acertar um soco rápido e
preciso no estômago dela.
Ela cambaleou, mas recuperou a postura com um sorriso feroz, e devolveu com um soco
alto no nariz e um chute baixo no joelho:
“Hey! Ho!”
Chin caiu com o
impacto.
Enquanto Vostok
ainda segurava firme contra Abobo, Charlotte entoava versos de poder,
dando-lhe apoio moral e místico.
Yunuen correu até
Ron Roper e, com sua lança, perfurou-lhe a coxa. O líder Black Warrior
caiu, uivando de dor e perdendo a consciência.
Charlotte, decidida
a acabar com Abobo, começou a cantar um soneto de rendição, uma melodia
tão profunda e hipnótica que o gigante caiu de joelhos, perdido, com os olhos
marejados.
Linda Lash tentou
recuperar o chicote, mas Mari a interceptou no ar com uma cotovelada precisa
no queixo:
“Vai dormir,
lambisgoia.”
Linda obedeceu —
pela força do impacto.
Por fim, Yunuen
se aproximou de Abobo e, com um golpe firme, chutou o joelho do
brutamontes para o lado oposto, deslocando-o com um estalo grotesco.
Abobo rugiu de dor,
mas logo depois caiu, vencido.
“Eu… me rendo…” —
sussurrou, antes de desmaiar.
Os investigadores
descobrem pelos documentos de contabilidade que os Black Warriors estavam
envolvidos em tráfico de armas e tinham cadernetas com nomes de pessoas na
polícia que foram pagas para “olhar para o outro lado” e de pessoas
“recrutadas” para o show Nihon Hiro.
Renderam os quatro
líderes, prendendo-os e obrigaram eles a levarem eles até os tuneis do Bar da
Marinha, que, pelos os esgotos, levavam até um armazém com um furgão à espera.
Vostok conduziu o furgão enquanto Yunuen, Mari e Charlotte questionavam os
Black Warriors.
Eles admitiram que
a ida deles até Tóquio não estava nos planos, que a ideia era que eles
dominassem Nagoya e levassem, convencendo ou de forma forçada, pessoas com
potencial atlético, como atletas, lutadores, ginastas, todos eles às margens da
sociedade, estrangeiros, indonésios, indianos, indochineses, coreanos,
polinésios, mestiços, punks, desempregados ou párias – pessoas que a sociedade
não sentiria falta – para serem usadas no Nihon Hiro.
Eles não sabem como
será o programa, mas sabem que os Dreadnoks estão encarregados da segurança do
evento e também da manutenção de equipamento e “consultoria” das provas. Como a
Stargazer teorizava, eles também confirmam que os Yakuza Ichiwakage-gumi estão
ligadas a tudo isso, eles foram o motivo dos Black Warriors terem ido a Tóquio
– para ajudar os Ichiwakage-gumi, na luta contra os Yakuza Yamaguchi-gumi, que
conseguiram uma cabeça de ponte na cidade com Hanayama.
Chin Taimei se diz
surpreso com o estilo de luta das três, em especial de Charlotte. “Usa energia
chi de forma especial, pequena. Estilo Psíquico, não?” E ainda emenda. “Muito
poder para uma criança, se és pelo menos viva.”
Charlotte responde
de forma a não confirmar nem negar.
Mari fala. “Ia,
sabichão, fica na tua cara, se toca!”
Finalmente, eles
falam da surpresa que tiveram em ver Mari lutando, pois seu estilo é único dos
irmãos Lee de Nova Jersey – o Sousetsuken. A surpresa veio porque eles
imaginavam que apenas os irmãos Lee dominavam esse estilo morto. Mari diz para
eles que existem então quatro pessoas que sabem esse estilo, que se chama Hitotsu
no Shinjitsu Ryu e não Sousetsuken, ela, a mãe dela e esses irmãos Lee. Ela
fica se perguntando se ela deve ter algum parentesco com eles. “Será que são
meus irmãos? Um é Jimmy, outro é Billy – eles gostam de usar diminutivos. Eu
sou Mari, de Mariana – também uso diminutivo!” Ela faz um “o” com a boca.
“Talvez sejamos mesmo irmãos!”
Eles param o carro
na fronteira de Tóquio, no meio do nada. Yunuen os solta e explica aos líderes
Black Warriors que eles falharam com o Exército da vingança, os Dreadnoks e os
Ichiwakage-gumi, e devem saber melhor que ela o que acontece com aqueles que
falham com esses. “Vocês perderam milhões em armas deles, vocês acham que eles
vão deixar vocês viverem por tempo bastante para se explicarem? Sumam, voltem
para a merda dos Estados Unidos. Se eu ver algum de vocês novamente, vocês vão
desejar terem sido mortos pela Caveira Dreadnok”. “O que é essa caveira?”
Vostok pergunta. Mari fala “chi, lí no relatório do Tanaka e do Tyron...”
Yunuen então procede a descrever: “ a Caveira Dreadnok é uma forma de execução,
onde a vítima é colocada dentro de uma jaula de palha ou madeira em forma de
crânio e a madeira é ateada em chamas... dizem que as vítimas parecem dançar em
agonia no fogo”. Os líderes empalidecem. Ninguém discute. Descem e se perdem na
escuridão da estrada.
O grupo retorna
para Tóquio com provas, reforço da ligação dos inimigos e perguntas ainda
maiores — e a certeza de que a guerra contra a Star Corp acaba de esquentar.
O plano agora era descansar antes da infiltração na ilha de Sarushima, no dia seguinte.
Yunuen instruiu Vostok a levá-los em seu Volvo 740 GLE até um hotel chamado Chantilly Akasaka. O carro serpenteou pelas ruas escuras do bairro, até parar diante de uma construção que parecia saída de um conto de fadas decadente: torres em miniatura, iluminação rosa-salmão e uma fachada de pedra falsa com o letreiro シャントリー赤坂 em néon azul.
Vostok encarou o
lugar e franziu a testa:
— Temos certeza de que este é o local? — perguntou, com o sotaque carregado.
Mari e Yunuen já estavam fora do carro. Yunuen virou-se para ele, confiante:
— Claro que sim! É esse o hotel.
Ele examinou melhor
a entrada decorada com coraçõezinhos de acrílico e um cartaz mal traduzido que
dizia “You relax. We clean. Welcome to Love!”.
— Uh... mas este não é um Love Hotel?
Yunuen olhou para
ele como quem responde uma pergunta absurda:
— É muito mais barato e discreto do que hotéis comuns. E os quartos são
enormes. Sério, você vai me agradecer depois.
Vostok apenas deu
de ombros, resignado.
— Sua operação, suas regras.
Por segurança, todos estavam falando em inglês — até entre si —, uma medida combinada para despistar escutas e confundir qualquer ouvinte indesejado. Charlotte foi a primeira a notar que os painéis de seleção de quarto ficavam ao lado de espelhos espelhados que escondiam o rosto do atendente. Yunuen seguiu direto ao painel, escolheu dois quartos no oitavo andar, e pagou em dinheiro por uma fenda horizontal metálica.
Virou-se para
Vostok:
— Quer dormir com a gente ou separado? Tem espaço pra todos. A cama é gigante,
tem puff, sofá e o carpete é bem fofo.
Ele pigarreou:
— Acho que prefiro deixar vocês com sua... privacidade.
— Aaaah! Pensa só!
— protestou Mari, com olhos brilhando de travessura.
Ela começou a dançar com um gingado hip-hop improvisado e sensual, balançando
os braços e cantarolando:
— Um homem, duas mulheres, uma criança e cachorrinho aconchegadinhos
juntinhos em conchinha!
Charlotte
estremeceu.
— Eu vou contar pro seu namorado!
Mari fez uma cara
de choque exagerado:
— Ah é! Eu tenho meu namoradinho!
Depois se virou teatralmente pra Charlotte:
— Nãããão! Fala nãããooo!
Vostok deu um
sorrisinho sem graça e respondeu apenas:
— Uh, não, obrigado.
— Você que perde! —
retrucou Yunuen, dando uma piscadinha.
Antes de subir, ela
ainda aproveitou um pacote promocional com jantar incluído — rosbife e salada
césar, que Mari desejava há dias — e rachou a conta com Vostok.
— Aí vale a pena vir pro Love Hotel mais caro de Tóquio: com o soviético
pagando metade, cortesia da KGB! — disse ela, com um sorriso travesso.
Vostok apenas
respondeu com um leve aceno de cabeça.
— De nada.
O elevador os levou
até o oitavo andar, em silêncio. As portas abriram para um corredor acarpetado,
perfumado com algo entre talco e incenso de supermercado. Luzes suaves
iluminavam discretamente as portas, todas numeradas com placas douradas. Os
dois quartos eram vizinhos. O grupo se dividiu — mas ainda próximos o bastante
para reagir, se necessário.
Do lado de fora,
uma brisa fria soprava do alto de Akasaka. Lá embaixo, a cidade nunca dormia.
Mas por algumas horas, eles podiam fingir que sim.
O quarto era
espaçoso e ostentoso, beirando o cafona. Um pequeno terrário com plantas
tropicais e uma cachoeira artificial dividia espaço com uma banheira de
hidromassagem, uma cama redonda de veludo vermelho e uma mini sala de estar com
sofás confortáveis voltados para uma TV equipada com videocassete, LD-ROM e
videogame.
Uma prateleira com filmes em VHS, LDs e jogos chamava atenção — metade da
seleção era de conteúdo adulto. Ao lado da cama, uma máquina de vendas em
formato de arco-íris oferecia desde preservativos e brinquedos adultos até
massageadores e gadgets para animais de estimação.
Mari e Yunuen
ficaram encantadas com as opções.
— É o novo modelo de Love Egg! — exclamou Yunuen, comprando um
imediatamente.
Mari, por sua vez, pegou uma bolinha com pelos de silicone com argola de dedo.
— Isso aqui vai deixar o Ringo maluco!
Ela encaixou no
dedo e começou a girar a bolinha. Ringo seguiu em círculos, latindo baixinho,
completamente obcecado.
Yunuen ligou o
massageador e começou a passar nas costas de Mari.
— Uma pena o soviético não estar aqui, hein? — comentou, com um risinho
malicioso.
Charlotte, rápida,
deu um tapa na bunda dela.
— Se comporta, safada!
Yunuen riu e virou
o massageador para Charlotte, encostando o Love Egg nas costas dela. Charlotte
soltou um gritinho e saiu correndo, rindo. Até Ringo entrou na brincadeira,
recebendo uma "massagem" desconfiada, mas depois oferecendo a
barriga, relaxado.
Enquanto esperavam
a comida, as três decidiram preparar um banho. Yunuen colocou moedas na máquina
da banheira e começou a ativar os jatos e luzes.
Mari e Charlotte
examinavam a estante de filmes.
— Charlotte, nada de fuçar esse lado aqui! — avisou Mari, tapando a parte dos
LDs adultos.
— Não sou tarada como você! — protestou Charlotte.
— Iá! Nem sou tããão tarada assim... — respondeu Mari, pensando por um segundo.
— Quer dizer… tá, talvez um pouquinho.
Elas se empolgaram
com os LDs clássicos. Mari escolheu Ribon no Kishi (A Princesa e o
Cavaleiro) e Giant Robo. Charlotte ficou encantada — nunca tinha visto
nada da Tezuka.
Com o desenho
rolando na TV, Yunuen gritou do banheiro:
— Bora, suas freiras! A água tá uma delícia!
Sem cerimônia, ela
tirou jaqueta e regata, jogando as roupas na cama. Depois vieram as botas,
calça, calcinha — completamente nua, sem qualquer pudor, mergulhou na banheira
com um suspiro.
Mari tirava a roupa
enquanto falava:
— Só não começa com aquelas esquisitices de novo, hein.
— Aquilo foi só uma brincadeira, tonta! — retrucou Yunuen.
Charlotte, mais
tímida, entrou na banheira com a chemise.
— Ih, por que tá entrando de camisola, menina? Vai molhar tudo! — reclamou
Yunuen.
Na água, as três
relaxaram. Mari e Yunuen riam enquanto testavam todos os botões da banheira —
luz negra, jato de espuma, vibração. Charlotte olhava tudo meio espantada, mas
logo também estava rindo.
Ringo rodeava a borda, inquieto, querendo entrar mas morrendo de medo de molhar
as patas.
O interfone tocou.
Yunuen gritou:
— Mari, atende lá!
Mari se enrolou na
toalha.
— O rango chegou!
— Vai lá pegar!
— Ah, por que eu?! — resmungou.
— Porque você já tá de pé, tonta! — respondeu Yunuen.
Mari fez biquinho,
mas vestiu calça, sutiã e camisa — ainda úmida.
— Tô nem aí se tô molhadinha. O entregador vai se apaixonar! — disse, apertando
os próprios seios com cara de provocação.
— Esqueceu do seu
namorado? — Charlotte ameaçou. — Vou contar!
— Há! Como
esquecer? Amanhã vou salvar ele e depois fazer muito amorzinho com ele! —
respondeu Mari com ar dramático.
— Eca! — fez
Charlotte.
Yunuen interrompeu:
— Para de enrolar e desce logo!
Mari saiu correndo,
rindo.
Yunuen olhou para
Charlotte com um sorriso cúmplice.
— Essa safada não presta…
Mari voltou da
porta animada.
— Estão comportadas? Trouxe o pai da Konya… da Yanna… sei lá! Vieram comer
juuuunto!
Charlotte correu
para se secar e vestir, enquanto Yunuen, ainda enrolando a toalha no corpo,
gritou:
— Pode entrar!
Ela conhecia a
amiga. Deu cinco minutos antes de abrir a porta, só o suficiente para as duas
se aprontarem. Charlotte estava um pouco emburrada por não ter conseguido
escovar o cabelo ou retocar a maquiagem.
Mari e Vostok
entraram carregando marmitas de rosbife japonês com salada, dando de cara com
Yunuen ainda puxando a regata por cima dos seios. Vostok abaixou os olhos
educadamente.
— Aí, aí… Sabia que ela ia fazer um show! — Mari brincou.
— O vacilão nem
viu! — Yunuen retrucou com um sorrisinho atrevido.
Charlotte, fingindo
indignação, deu outro tapa na bunda dela.
— Ai! — Yunuen reclamou, rindo.
Vostok respirou
fundo e falou, gentil:
— Espero não estar incomodando.
— Que nada, cara.
Você é família! — respondeu Mari com naturalidade, fazendo Vostok rir,
comovido.
— Vai entrando,
soviético! Senta aí! — Yunuen se jogou no sofá.
— Como assim, sem
mesa? — Vostok se alarmou, indo até a mesa de canto e trazendo-a até o sofá. —
Vamos fazer isso direito!
Charlotte brilhou
os olhos. Yunuen revirou os dela. Vostok forrou a mesa com cuidado e arrumou as
marmitas com perfeição militar. Mari se empolgou e saiu correndo, voltando com
um vasinho de flores que colocou no centro.
— Ficou legal, né?
— ela perguntou.
— Magistral! —
elogiou Charlotte.
— Bah, vamos comer!
— Yunuen cortou o momento.
Vostok ajudou a
preparar os pratos enquanto comentava:
— Vocês são um grupo e tanto. Reitero… adoraria que fossem amigas da minha
Yanna.
— Eu já sou! —
disse Mari com firmeza. — E espero que ela me veja assim também. Se você diz
que sim, então vou continuar curtindo ela!
Charlotte hesitou
por um instante, depois cedeu:
— É… posso tentar.
Yunuen, seca mas
brincalhona, soltou:
— Eu não tenho amigos.
— Isso não é
verdade, sua chata! — Charlotte respondeu na hora.
— Que mentiraaaa! —
Mari gritou, teatral.
Yunuen e Vostok
gargalharam. Ringo latiu feliz, abanando o rabo e implorando por um bifinho.
Vostok abriu uma
garrafa de saquê e ergueu o copinho.
— À amizade, ao sucesso da missão, e à camaradagem entre nós!
— Kanpai! —
todos brindaram.
Enquanto comiam,
repassaram os detalhes da missão e os temores. Sarushima seria um desafio
brutal: um lugar de morte, onde cem pessoas estavam presas, sendo usadas em um
sistema de recrutamento cruel. Entre elas, amigos de Mari… e a filha de Vostok.
Eles sabiam que
precisariam de tudo: força, astúcia e, principalmente, do fator surpresa. Mas
estavam confiantes. Tinham algo mais: uns aos outros.
No fim do jantar,
Vostok se despediu com um sorriso.
— Boa noite, meninas. Descansem. Amanhã será puxado.
— Ah, mas eu queria
ver o resto do desenho… — Charlotte protestou.
— O soviético tem
razão! — Yunuen bateu palmas, impondo ordem. — Vamos dormir, suas vagabundas
Antes de dormir,
Yunuen começa a raspar todo o pelo de Ringo. Enquanto ela faz isso com cuidado,
Mari e Charlotte se aproximam, de braços cruzados, prontas para intervir caso a
resposta da amiga não seja convincente.
— Por que tá
pelando o Ringo, Yuyu? — Mari pergunta, desconfiada.
Yunuen responde com
toda a calma do mundo:
— É bom raspar o pelo desses bichos de três em três meses. Ajuda a crescer pelo
novo, desembaraçar o velho, evitar problema de pele... e, principalmente,
aumentar as chances de sobrevivência dele.
Ela faz uma pausa, olhando para as duas.
— Em Sarushima tem muito cão vadio. Se ele aparece todo peludo, parecendo um
Chevalier King Charles, vai se destacar. Os Dreadnoks logo percebem que não é
nativo.
Mari e Charlotte se
entreolham e reconhecem: faz sentido. Então, sem mais discussão, se juntam a
ela para terminar o trabalho.
Depois vem a
bagunça da hora de dormir.
— Vamos dormir de
conchinha, Mari? — Yunuen provoca com um sorrisinho safado.
— Nãããão! Depois
daquela vez, nunca mais! — Mari responde, teatral.
— Hahaha! Descobri
como provocar a tonta! Que delícia! — Yunuen se dobra de rir.
— Ha ha, muito
engraçaaaada... — Mari revira os olhos, mas depois acaba rindo junto.
Charlotte entra na
brincadeira com um brilho nos olhos:
— Eu quero dormir de conchinha com você, Yunuen!
Yunuen se comove
com a doçura e se aproxima:
— Ô, menininha, quer é? Então vem cá!
— Só não vai
peidar! — Charlotte solta, rindo.
— Que peidar,
menina! Quer dizer… com aquele rosbife, pode ser que sim. Mas eu aviso e viro a
bunda pra Mari!
Mari gargalha:
— E eu durmo com minha bunda na tua cara...
Ela imediatamente
se arrepende da frase.
— Hm... promete? —
Yunuen não perde tempo.
— Esqueeece! — Mari
grita e se cobre com o lençol.
— Então você vai
dormir cheirando meu chulé! — Yunuen continua a provocação.
— Nem! Vou dormir
de conchinha do outro lado da Charlotte! Sanduíche de Charlotte!
— Yay! — Charlotte
comemora, empolgada.
— Hmm... então
vamos ficar com o rosto pertinho uma da outra... — Yunuen insiste, maliciosa.
Mari finge se
preparar para uma briga:
— Sei não, hein… vou dormir com o punho fechado na frente da boca. Se você
tentar beijar meu punho... POW!
Ela soca o ar.
Yunuen e Charlotte caem na risada.
Finalmente, as três
se ajeitam na cama. Apesar da zoeira, provocações e piadinhas, o que fica é o
conforto da companhia. Não precisaram dizer nada — o carinho entre elas estava
ali, prático, vivo, verdadeiro. E dormiram bem.
Yunuen foi a
primeira a acordar. Silenciosa, levantou-se sem incomodar as outras duas.
Vestiu a roupa de mergulho preta, justa como uma segunda pele. Depois, por
cima, veio o disfarce civil: blusa de manga longa com gola rolê, jeans,
jaqueta, lenço no pescoço, luvas. A mochila nas costas, a bolsa de lacrosse com
a lança maia e o atlatl dentro. Só quando estava completamente pronta, acordou
as amigas com um empurrãozinho leve:
— Vamos,
dorminhocas. Hora de ir!
Mari e Charlotte
saltaram da cama, ainda sonolentas, mas animadas.
— Poxa, Yu! Como
você consegue acordar tão cedo? Eu achava que você era mais da noite! — Mari
resmungou, coçando os olhos.
— E sou. Mas isso é
treino, minha filha. Agora olha só pra vocês: pularam da cama sem reclamar.
Estão ficando boas nisso!
— Iá! É mesmo! Ih,
Charlotte! A gente tá virando super-espiãs! — Mari disse, empolgada, já
tentando se enfiar na roupa de mergulho.
— Ai, Yu, tá
apertado! Não consigo fechar o zíper no bumbum!
— Calma, gorda!
Essa é sueca, então o tamanho é meio menor. Vem cá, deixa que eu fecho — disse
Yunuen, rindo enquanto ajudava.
Mari se olhou, toda
satisfeita:
— Iá! Tô usando um
traje da Suécia! Que chique! Me sinto uma espiãzona internacional!
Yunuen soltou uma
risada curta e passou a ajudar Charlotte, com mais delicadeza.
As três vestiram-se
discretamente, com as roupas civis por cima das roupas de mergulho. Golas
rolês, jeans, jaquetas. Mari completou com um véu islâmico que havia comprado
durante a missão no Afeganistão.
— Isso foi uma
ótima ideia. Queria ter pensado nisso. — Yunuen comentou.
— Né? Com isso aqui
ninguém nem me olha! Hihihi! — Mari respondeu, satisfeita.
— E é bonito. Eu
também comprei um! — Charlotte lembrou, com um sorrisinho.
Charlotte também
foi instruída a vestir um colete à prova de balas por baixo. Mari e Yunuen
optaram por não usar — queriam mais mobilidade para o salto noturno.
Já prontas,
desceram e se encontraram com Vostok, que também estava vestido de forma
discreta, mas funcional. Nenhum deles falou muito — o foco já tomava conta.
Entraram no carro
dele e seguiram pela madrugada fria até um quebra-mar esquecido nos arredores
de Yokosuka. Ali, Rey Ichiyama os esperava — já havia escondido o bote que os
levaria até Sarushima.
Quando chegaram ao
quebra-mar de Yokosuka, procuraram por Rey Ichiyama — e deram de cara com um
corpo pálido e suado largado entre as pedras.
A garota, de cabelos castanhos curtos, estava deitada de lado, vestindo uma
regata preta velha, colada no corpo, calção jeans rasgado e botas de trilha.
Dormia ao sol feito um lagarto, completamente à vontade nas pedras ásperas. Só
acordou quando Charlotte, Mari, Vostok e Yunuen chegaram a uns seis metros de
distância.
Rey se levantou devagar, arqueando o corpo numa espreguiçada exagerada, como um vampiro saindo da tumba. Abriu um sorriso sonolento, os olhos semicerrados, quase fechados, como se estivesse sempre a um passo de voltar a dormir.
— Ohayō... —
ela murmurou.
— Ela é esquisita —
Charlotte comentou, fazendo uma careta.
— Ih, é. Não sei se me acostumo — Mari respondeu.
— Me pergunto o que os pescadores pensaram ao ver ela largada aí desse jeito...
— Charlotte continuou.
— Provavelmente acharam que ela tava bêbada — Mari deu de ombros.
— Tava dormindo
largada aí, preguiçosa? — Yunuen perguntou, cruzando os braços.
— Só pegando um
solzinho e tirando um cochilo, chefa... — respondeu Rey, sorrindo com os olhos
ainda semicerrados.
— O bote tá pronto?
— Yunuen quis saber.
— Tudo em ordem! —
Rey respondeu de repente com energia, pulando em pé, batendo continência e
descendo pelas pedras aos pulinhos, cantarolando enquanto se equilibrava com os
braços esticados como se andasse numa corda bamba.
— Ela é retardada,
mas extremamente eficiente. Sigam a doida — Yunuen disse, sem emoção.
Rey levou o grupo
até a base do quebra-mar. À primeira vista, parecia só um monte de pedras
escuras, amontoadas de forma natural. Mas Rey continuava avançando com passos
leves, pulando de pedra em pedra, até que... desapareceu.
Ela havia criado
uma entrada secreta — uma caverna perfeitamente escondida pelas sombras e pela
arquitetura baixa, como a toca de um urso.
— Esperta —
comentou Vostok.
— A retardada é um gênio — Yunuen disse, pulando dentro da caverna.
Lá dentro, havia
espaço de sobra para o bote. Totalmente inflado, pronto para sair: cordas
firmes, remos presos, motor abastecido e bem encaixado, tudo oleado e seguro.
Varas de rolamento já estavam posicionadas sob o casco para facilitar a saída.
Ao fundo, a bicicleta de Rey, amarrada e preparada para transporte.
Rey “olhava” para
todos com os olhos ainda fechados, um sorriso bobo no rosto, suor escorrendo da
testa.
— Muito bem, sua
nojenta. Agora se manda daqui. Vai tomar banho e dormir, você fede! — mandou
Yunuen.
Rey soltou uma
risadinha, pegou a mochila e foi saindo aos pulinhos com a bicicleta nas
costas.
— Por que você anda
de olhos fechados? — Charlotte não se aguentou e perguntou.
— Hm? Ah! É pra conservar energia, descansar os olhos... — respondeu Rey, já
perdendo fôlego no meio da frase.
— Já pensou em
tomar café? — Charlotte provocou.
Rey levantou uma
rede improvisada onde carregava um fogareiro portátil e dois bules vazios.
— Ah... — ela
murmurou, meio sem reação.
— Deixa a doida em
paz. Temos trabalho — cortou Yunuen, seca como sempre.
— Queria conhecer
ela melhor quando ela estivesse... normal — arriscou Charlotte, olhando na
direção por onde Rey tinha sumido.
— Shi... boa sorte
com isso! — Yunuen provocou com um meio sorriso.
— Hmm... Ei, Yu,
sabe quando é o aniversário dela? — perguntou Mari, mexendo coçando a cabeça
com o indicador.
— Sei lá —
respondeu Yunuen, indiferente.
— Hmm... acho que
me lembro! Ei, Charlotte! Você pode conhecer ela melhor depois das missões! O
aniversário dela vai ser comemorado agora com a galera desse semestre! — Mari
falou animada, os olhos brilhando.
Yunuen arregalou os
olhos.
— E aquilo faz
aniversário? Shii... isso implica que ela tem mãe... — resmungou a
guatemalteca, com uma risada nasalada.
Vostok jogou a
chave do carro para Rey — e ela pegou com os dentes, como um cachorro treinado.
— Ela sabe dirigir?
— Vostok perguntou, sem ironia.
— Sei lá. Acho que sim — respondeu Yunuen, indiferente.
Rey se afastou
tranquilamente, acomodando a bicicleta no teto do sedan. Antes de entrar,
colocou óculos escuros e acenou. Ninguém teve certeza se ela abriu os olhos pra
dirigir.
Yunuen pediu ajuda
para empurrar o bote até a água. Enquanto ele rolava pelas varas, Charlotte foi
a primeira a embarcar, acomodando Ringo junto da bagagem fofa. Mari entrou em
seguida e se posicionou na proa, conferindo o walkman e as pilhas. Depois veio
Yunuen, sentando ao lado do motor, e por fim, Vostok.
Yunuen girou a
ignição e o motor respondeu. O bote zarpou, cortando as águas em direção a
Sarushima.
Sarushima
A viagem até
Sarushima foi tensa. Mari permaneceu o tempo todo na proa, imóvel como uma
estátua, atuando como vigia.
— A tonta vai ficar com a cara toda encharcada — comenta Yunuen para Charlotte,
sem desviar os olhos da rota.
Ninguém sabe
exatamente quão boa Yunuen é com veículos terrestres. Mas no mar… no mar ela é
uma mestre. Sua habilidade com embarcações e senso de geolocalização são
impressionantes. Ela deslizou sobre as águas como se Sarushima fosse sua casa
de infância.
A ilha tem esse
nome porque, até antes da Primeira Guerra Mundial, era um paraíso ecológico
habitado por uma espécie única de macaco. Mas com o avanço da “modernização”
japonesa, Sarushima foi cobiçada por seus veios de carvão. Toda a fauna e flora
nativa foi suprimida por minas e estruturas de concreto. A ilha se transformou
em algo que lembrava um encouraçado de pedra.
Com a mudança do foco para o petróleo e o declínio do carvão, a ilha foi
abandonada. Com o tempo, a natureza retomou o espaço — árvores, cipós e raízes
brotando por entre as rachaduras do concreto, fazendo da ilha uma mistura
dissonante de selva e ruínas industriais.
Yunuen manteve o
bote fora da vista, não apenas evitando as patrulhas dos Dreadnoks, mas também
antecipando suas rotas. Ela completou uma volta tática ao redor da ilha.
Essa manobra se provou extremamente útil: descobriram que o antigo porto havia
sido reformado pela produção do Nihon Hiro para receber navios, lanchas
e até uma monstruosidade tecnológica: um híbrido de avião, helicóptero e navio,
atracado ali com o símbolo dos Dreadnoks pintado. Em sua fuselagem lia-se, à
luz do dia, o nome “Hesperonis.”
![]() |
Hesperonis - Tubarocopteroplano |
Yunuen começa a
bater fotos do veículo e do porto. — Para mandar aos nerds militares. — Ela
disse.
—O que é
Hesperonis? — Pergunta Mari.
— Sei lá, deve ser
alguma coisa grega para eles se sentirem com pau maior. — Responde
Yunuen.
— Hm, isso eu
imaginei, mas o que significa? — Pergunta Mari.
— Também não sei, teremos
que jogar essa dúvida aos nerds linguísticos. — Responde Vostok.
Vários Dreadnoks
guardavam o local, armados com suas bizarras ferramentas motorizadas. Mas
pareciam mais interessados em beber, fumar e provocar uns aos outros do que em
vigiar.
A volta pela ilha
também revelou um ponto de entrada ainda melhor: com excelente cobertura,
facilidade de recuo e acesso privilegiado ao centro da ilha.
Yunuen atracou em silêncio e, com eficiência quase militar, organizou a
camuflagem do bote.
— Todo mundo, colhe folha local. Vamos forrar o bote.
Em poucos minutos,
o bote estava coberto de folhagem local, amarrado com cordas e içado até o topo
das árvores. De baixo, era invisível. E mesmo para quem olhasse para cima,
pareceria apenas parte da vegetação.
— Chequem os
aparelhos de comunicação — instruiu Yunuen, ativando o rádio e tentando contato
com Hiyata Mamoru.
O sinal estava
fraco, mas funcional.
— Macaco,
aqui é Jaguar. Na escuta? Chegamos no ninho — disse ela.
— Na escuta,
Jaguar. O sinal tá ruim... Pode ser que tenham um bloqueador na ilha. É amador,
mas pode atrapalhar — respondeu Mamoru, do outro lado.
— Faz sentido.
Mesmo se forem filmar um show, um bloqueador evita que vaze o que não for
conveniente — concluiu Yunuen.
— Isso. Recomendo
usar o pager e o rádio só pra mensagens urgentes ou complexas. Minha equipe tá
sobrecarregada — disse Mamoru.
— Entendido, Jaguar
desligando. — Ela se virou para os outros. — Ouviram, né? Prioridade no pager!
— Ahh, queria que
você mandasse um abraço pra ele por mim... — suspira Mari.
Yunuen mostra a
língua em resposta.
Em seguida,
reuniram-se sobre os mapas. Três locais estavam destacados com base nas
informações de Yanna “Cósmica”, filha de Vostok.
Um ponto, ao norte, era marcado como “Arena de Combate”.
Mais ao centro, próximo à arena, o “Dormitório dos Participantes.”
E, não muito longe dali, a “Torre de Rádio.”
Yunuen marca no
mapa também o porto, e abre as possibilidades.
— Ok, temos as
localizações da Cósmica. Precisamos confirmar a precisão dessas marcas. A torre
de rádio é prioridade para comunicações e, onde tem torre, não deve faltar QG.
Mas... tivemos sorte de encontrar o porto. Lá, podemos coletar dados valiosos:
registros de carga, vítimas, número de gangsters, equipe de filmagem,
equipamento, armamento, veículos... E ainda sabotar os barcos.
E ninguém espera uma invasão durante o dia.
— Arriscado, mas
parece a melhor opção — concorda Charlotte.
— É, demos sorte!
Vamos aproveitar! Estou com um bom pressentimento — diz Mari, animada.
Vostok assente, mas
pondera:
— Apesar da lógica
tática, a chance de sermos vistos à luz do dia é maior. E... bem, minha filha
está lá dentro. Temos seis dias. Podemos observar durante o dia, e sabotar à
noite.
— Eu ia sugerir
isso só quando a gente estivesse lá pra te encurralar, soviético. Bom saber que
tem sangue de barata — provoca Yunuen.
— Não é sangue
frio. É fé. A Cósmica sobrevive melhor do que eu.
Os investigadores
avançavam pela mata densa, atentos a cada som, galho partido, cheiro estranho.
Logo notaram que haviam cruzado para a área reservada aos competidores,
reconhecida por uma placa decorada com o logotipo estilizado do evento “Nihon
Hiro” e um aviso em inglês e japonês:
AVISO – Você
está saindo das áreas autorizadas. Se prosseguir, será desclassificado e
sofrerá consequências.
A ameaça parecia
parte de uma encenação publicitária, mas quem sabia o que realmente acontecia
ali entendia o peso das palavras.
Ultrapassaram o
aviso. Diante deles, um campo aberto separava a mata de uma estrutura de
concreto coberta de limo — a antiga entrada das minas. No caminho, uma cerca
improvisada de arame farpado e estacas de ferro. Poderiam contornar por entre a
vegetação rasteira, mas havia também uma torre de vigia, que tornava a
travessia impossível caso houvesse alguém atento no alto.
Por sorte — ou
providência — a torre estava vazia naquela hora do dia. Yunuen não perdeu
tempo: mandou todos contornarem pela lateral da cerca, mas ela própria escalou
com facilidade felina a barreira, subindo na torre com movimentos certeiros,
como se já conhecesse cada polegada daquele aço oxidado. Observou o entorno. Estava
limpo. Fez um gesto com os dedos. A travessia estava liberada.
Eles avançaram até
a entrada escura da estrutura e desceram os primeiros degraus até as
profundezas das minas abandonadas.
— É uma boa ideia
usar as minas… — começou Vostok, ajustando o colarinho. — Mas as chances de nos
perdermos são enormes. Tens um mapa?
— Ficou maluco? —
Yunuen respondeu seca, sem nem olhar para trás. — Até os mapas da época já eram
ruins. Um mapa aqui só ia atrapalhar.
— Então… qual é o
plano? — ele insistiu. — Mesmo um túnel que parece reto pode nos levar direto para
as profundezas da ilha.
— Pai da Konya…
sério. Só confia na Yu. — murmurou Mari, com sua voz mais grave e séria que o
normal.
Mas Yunuen ergueu a
mão, pedindo silêncio, e se virou lentamente para encarar o soviético.
— Acha que eu sou
burra, soviético?
Vostok ergueu uma
sobrancelha.
— Nem um pouco. Só
sou cauteloso.
— Bom. Porque mesmo
uma mina como essa tem padrões. Bussolas indicam o norte. Pêndulos mostram
inclinação. — Ela mostrou o pulso: um relógio antigo, mas funcional, com
bússola integrada. Ao lado, uma pulseira de contas de madeira parecia simples
adorno indígena… até que ele notou o pequeno pêndulo preso a uma delas. — Além
disso, a luz natural tem um calor próprio. Indireta é fria, difusa. A coloração
do mofo nas paredes também indica profundidade. Escadas de madeira são expansões
e improviso; de concreto, projeto original.
Vostok fez que sim
com a cabeça.
— Ainda assim — ela
continuou — vocês vão ter que confiar em mim. Mas se prestarem atenção, vão
começar a ver o padrão também.
E com isso, ela
desceu. Ringo foi atrás, abanando o rabo no escuro como se tivesse feito isso
mil vezes. Charlotte sorriu, esperou um pouco, e então o chamou suavemente Mari
e Vostok.
— Vamos queridos?
Mari colocou a mão
no ombro de Vostok com tranquilidade.
— Pode confiar nela
de olhos fechados nessas coisas. Ela é quase um bicho nessas situações!
Vostok hesitou um
segundo. Depois sorriu de lado.
— Confio que ela
confia em si mesma. Mesmo assim… farei uma trilha.
— Tipo João e
Maria? — Mari perguntou, divertida.
— Tipo isso. — ele
respondeu, já tirando discretamente um giz de bolso e fazendo a marca “Ж” no
batente da escada.
Dentro do túnel, já
ficava claro que um mapa seria inútil. A câmara estava tomada pela água;
impossível ver onde se pisava. Havia canaletas de concreto, ligeiramente
elevadas acima do nível da inundação — e foi por elas que o grupo se moveu.
— Vamos nos manter
apenas no primeiro nível sempre que possível. Não se preocupem. Mais adiante já
posso ver que isso seca — disse Yunuen, firme, sem diminuir o passo.
Vostok a observou
em silêncio, impressionado com a visão aguçada da moça. Por um instante, pensou
em sua filha — Yanna — que também enxergava como predadora no escuro.
— Aproveitem a luz
natural o máximo que puderem. Usem os óculos de visão noturna apenas no breu
total… ou quando for realmente importante. — Ela fez uma pausa, olhando ao
redor. — E lembrem-se: esses lixos dos Dreadnoks gostam de vagar por aí.
Podemos encontrar alguns mesmo aqui. Lembrem-se de Nova Jersey. Fizeram o
mesmo.
Mari, já com o
capacete de visão noturna preparado, mas com o visor ainda levantado, arqueou
uma sobrancelha.
— Ué… ninguém aqui
esteve em Nova Jersey, Yu.
— Não me provoca,
tonta. Eu sei que você leu os relatórios. Não se faz de burra.
— Iá, foi mal… —
Mari resmungou, encolhendo os ombros.
Yunuen então
virou-se para Charlotte, e com um gesto cômico — dois dedos indicadores nas
têmporas — pediu a conexão mental.
Charlotte sorriu e
atendeu sem palavras. Num piscar de olhos, todos sentiram a ligação sutil das
suas mentes — um elo telepático, gentil mas firme.
— Isso é muito útil
para infiltração… — comentou Vostok, inaugurando a conversa mental.
— E o mais legal é
QUE DÁ PRA GRITAAAR! — Mari pensou alto demais.
— Corta a tonta se
ela fizer mais uma dessas — pediu Yunuen, do jeitão sarcástico habitual.
— De nada,
queridos! — Charlotte respondeu com bom humor.
Seguiram então
pelos túneis. Como Yunuen dissera, o terreno foi ficando mais raso. Poucos
metros adiante, o piso finalmente emergia da água, com apenas poças aqui e ali
refletindo a luz escassa.
Os corredores eram
labirínticos. Havia claros sinais de deslizamento e escavações irregulares que
terminavam em abismos. Algumas dessas valas estavam cheias d’água, sem fundo
visível. Numa delas, apenas uma corda podre balançava, amarrada a um gancho antigo,
enquanto noutra uma escada de madeira parcialmente submersa rangia sem vento.
Como combinado,
Vostok e Mari só utilizavam os óculos de visão noturna nas travessias delicadas
ou quando a escuridão era absoluta. Charlotte, pequena demais para o modelo
PVS-5, levava os binóculos de luz noturna emprestados de Lacroix. Ringo ia
carregado por Yunuen — que, estranhamente, parecia dispensar qualquer tipo de
auxílio visual. Enxergava tudo. Como se tivesse nascido ali dentro.
Mais uma vez,
Vostok pensou em Yanna.
— Será Yunuen
também um projeto militar? Como minha filha foi? — ponderou, cauteloso,
evitando projetar a pergunta pelo elo mental.
Yunuen, de tempos
em tempos, escalava poços de ventilação ou escadas de inspeção para se orientar
em relação à superfície. Logo, Vostok começou a fazer o mesmo. Como ela
prometera, os padrões se tornavam perceptíveis. O distanciamento entre escadas
verticais era previsível: de nove a doze metros. A própria luz do dia ajudava —
os raios solares penetravam por rachaduras e grelhas antigas, permitindo uma
espécie de norte primitivo, natural, reconfortante.
Mas não era a mina
o verdadeiro perigo.
Yunuen parou
subitamente.
— Ouviram?
Todos silenciaram.
A escuridão respirava em volta deles.
E então, no fundo
do túnel… o som:
Tap… tap… tap...tap… tap…
Batidas. Tapas
secos, cadenciados e continuas.
Yunuen ergueu o
punho, sinal de parada. Olhos atentos na escuridão.
Eles não estavam
sozinhos.
Ao se aproximarem,
o barulho de tapas vinha seguido de grunhidos e suspiros. Yunuen já revirava os
olhos antes mesmo dos outros entenderem.
— Ah, não! Eu me
recuso a usar a visão noturna pra isso! — Mari resmungou, adivinhando a cena.
![]() |
Pitgirl & Powercord |
Dreadnoks eram
animalescos. E todos entenderam: havia um casal deles “mandando ver” adiante.
— Não tô pedindo
pra vocês serem voyeurs. Só prestem atenção onde pisam, estudem o local e me
sigam. Vamos contornar esses cachorros no cio — disse Yunuen, pelo elo mental.
De fato: um homem e
uma mulher, semi-nus, estavam um sobre o outro, fornicando como se o mundo
estivesse acabando.
— Isso parece mais
uma briga… — Mari murmurou.
— Me poupe dos
detalhes, sua nojenta! — Charlotte respondeu com asco.
— Eca… olha as curubas
nas costas dele! EEECA! — Mari provocou, enjoada e divertida ao mesmo tempo.
— Parem com essa
merda. Observem o acampamento. Tem equipamento pra quatro. Faltam dois. Vejam
aquela porta nos fundos — doze metros deles. Eles podem ter vindo de lá. Peguem
a escotilha e subam. Encontro vocês na próxima escotilha.
— Aí, acho que vi
os outros dois! — Mari avisou, já contornando o casal.
— É… — disse Yunuen
com uma voz cansada, quase derrotada.
Vostok grunhiu, num
misto de asco e indignação.
— Ugh! Nojentos! —
Charlotte virou o rosto, arrependida de ter olhado.
Atrás de uma parede
arruinada, os outros dois Dreadnoks observavam a cena.
E...
— TÃO BATENDO UMA
PUNHETA. ECA!! — Mari gritou mentalmente.
— NÃO QUERO
DETALHES! Se não eu desligo esse elo! — Charlotte reagiu, indignada ameaçando
cortar o elo.
— Chega. Subam
agora. Já sabemos a localização deles — ordenou Yunuen, encerrando o inferno
sensorial.
— Boa sorte, Yu. —
Mari disse num tom solene.
— Vou lavar meus olhos e meu nariz depois… —
Fala Yunuen conformada.
Quando os três
saem pela escotilha, percebem que há mais inimigos no exterior.
Abaixo da
construção, próximo a uma porta metálica enferrujada, dois Dreadnoks estavam
deitados numa velha maca médica, tomando sol como se estivessem num spa
pós-apocalíptico.
Um deles, vestindo
apenas uma cueca imunda, era esquelético, pálido, e coberto por tatuagens de
caveiras flamejantes com asas de morcego que reluziam no sol. Ao seu lado, um
segundo homem usava calças de camuflagem, jaqueta militar aberta e exibia uma
cabeleira desgrenhada enquanto descansava com um fuzil apoiado sobre o peito.
Sentada ao lado
deles, numa cadeira plástica pichada e desbotada, uma mulher grande, de
moicano, vestia calças de couro e um sutiã preto que mais parecia parte de um
figurino de bondage. Ela fumava, roncava e bebia do infame refrigerante Dread
Punch, cujo rótulo era um soco em forma de caveira.
À frente deles
estava o que um dia fora um Land Rover Perentie, agora transformado numa
aberração mecânica: placas de aço com viseiras substituíam os para-brisas,
serpentinas de arame farpado corriam pelas laterais, e lâminas de foice estavam
montadas sobre os para-lamas. Um espigão de aço reforçava o radiador, e a
pintura, num degradê de vermelho, laranja e preto, ostentava a caveira
flamejante dos Dreadnoks no capô.
“Tsuki, tem mais
aqui!” — Mari avisa a Yunuen telepaticamente, chamando-a pelo apelido japonês.
“São mais três. Estão descansando, acho.” — completa Charlotte.
“Ok. Mantenham-se escondidos. Não deixem eles lhes verem. Estou subindo pela
próxima escotilha.” — responde Yunuen, serena como sempre.
Enquanto isso, os
Dreadnoks discutiam, animadamente, sobre qual droga usar em qual ilha
paradisíaca.
— Lá no Fiji, eu
usaria haxixe, cara! — disse o magrelo das tatuagens, gesticulando com um
cigarro de filtro amarelo.
— Haxixe é droga de
bebê, seu frouxo! — rebateu a mulher do moicano, cruzando os braços por cima da
barriga que tremia a cada risada.
— Cala a boca, sua
gorda! É de acordo com o clima da ilha! Em Krakatoa, por exemplo... eu usaria
craque!
— CRAQUE?
— Sim! Pra explodir junto com o vulcão, porra!
Ele pulou da maca,
apontando o dedo pra ela.
— Você vai cair com
a boca espumando na primeira fungada, seu moleque! — ela respondeu,
levantando-se e assumindo uma postura de boxeadora, socando o ar com tanta
força que o peito balançava como gelatina de guerra.
— Tá me chamando de
frouxo, sua puta sapatona?!
— Vem ver, então!
Os dois começaram a
se agredir sem nenhuma coordenação: socos, tapas, mordidas, até lambidas no
peito e chaves de braço improvisadas.
O cabeludo caiu na
gargalhada e, entre goles de Dread Punch, começou a molhar os dois com o
refrigerante. Foi nesse exato momento que Yunuen surgiu pelas sombras, e
os investigadores começaram a se mover discretamente.
Mas então...
Enquanto Vostok
passava por cima de uma viga, o cabeludo notou algo.
— Ei... galera? Tô
doidão ou passou um bicho por cima de mim? Foi uma nuvem estranha? Sei lá...
O cabeludo olhou
pra cima, olhos semicerrados. Vostok, por sorte, conseguiu recuar sem ser
visto.
A mulher, que
prendia o magrelo numa chave de braço enquanto levava cotoveladas nas costas,
parou e olhou com raiva:
— Tá querendo
empatar nossa porrada, seu bosta?
— Ou tá escondendo
os comprimidos, hein?! — rosnou o magrelo, lambendo os próprios dentes.
O cabeludo examinou
o céu de novo, depois olhou pra eles com um sorriso torto:
— Deve ter sido o
comprimido…
— ENTÃO PASSA ELE
AQUI! — gritou a mulher.
Imediatamente, os
dois largaram a briga e partiram pra cima dele, tentando saqueá-lo. Gritavam,
xingavam e reviravam os bolsos do pobre infeliz.
Era o momento
perfeito.
A equipe aproveitou
o pandemônio. Passaram despercebidos por trás do Land Rover blindado e seguiram
pelas laterais da construção.
As docas não
estavam longe agora.
![]() |
Crazy Revolver, Sapper e Bulky Boot |
O grupo alcança
as docas de Sarushima pouco depois das oito da manhã. A movimentação ali era
tudo, menos sutil.
As docas se
estendiam como um labirinto de containers amassados, píeres de madeira podres e
plataformas improvisadas. Do ponto de vista dos investigadores, o caos era
visível — e barulhento. Quatro lanchas armadas com metralhadoras pesadas
estavam ancoradas, prontas para ação. Havia ao menos uma dúzia de jet-skis
atracados, e, mais adiante, o que parecia ser um navio torpedeiro de guerra
— com canhão, lançadores de mísseis e tudo — ostentava uma pintura roxa
berrante com a caveira flamejante dos Dreadnoks no casco.
Mas nada se
comparava ao monstro no centro da cena: o Hesperonis, apelidado entre
eles de “tubarocopteroplano”. Um híbrido grotesco de hidroavião e
helicóptero, com hélices de rotor nas laterais e um canhão pesado no nariz. Ele
dominava o espaço como um deus mecânico em meio a um carnaval de ferro-velho
armado.
Mais ao fundo,
viam-se outras estruturas: uma pequena boathouse, de telhado de zinco e
graffiti, e a guarita da doca, o único prédio que parecia ter alguma
função estratégica — e o objetivo deles.
Pelo menos dez
Dreadnoks estavam espalhados pelo local. Quatro, escondidos do outro lado
do Hesperonis, estavam pescando e gritando, como os investigadores sabiam desde
a volta pela ilha. Os outros seis estavam visíveis, cada um mergulhado em seu
próprio tipo de insanidade.
Um deles, sem camisa e de moicano, pintava o casco de uma das lanchas com um pincel largo. Parava de tempos em tempos para colocar um comprimido debaixo da língua, fechando os olhos com um suspiro extasiado.
Outro, moreno,
musculoso, armado com uma haste terminando numa serra circular rotativa,
balançava a cabeça no ritmo de uma música imaginária. Mas não era só na cabeça
dele: ao lado, uma mulher loira, desgrenhada, de pintura facial que lembrava
asas negras de corvo, tocava uma guitarra elétrica de frente para o mar,
fazendo distorções brutais em volume máximo.
No píer vizinho, um
homem careca, de calças cravejadas de rebites afiados que deixavam suas
nádegas expostas, berrava com um fuzil nas mãos:
— EU QUERO
MATAR! EU QUERO MATAAAR!
— Calma, Cheeky
Bastard, daqui a pouco começa o jogo — disse o homem da serra circular,
conhecido como Slice Mike, sorrindo com dentes de nicotina. — Sempre tem
uns otários querendo sair. A gente estoura eles!
— Sem contar que é
um prazer ver esses desgraçados se matando por nada, né, Slice? — gritou a
guitarrista, conhecida como Busty Bass, soltando um solo distorcido que
parecia evocar o próprio inferno.
— Ver é bom... mas
matar é mais gostoso! — rebateu Cheeky Bastard, babando um pouco ao rir.
— Mais gostoso que
eu, é? — Busty Bass provocou, empinando o quadril.
— Sossega a xoxota,
mulher! Tu já não levou quatro hoje? — retrucou Cheeky Bastard, empinando as
nádegas com orgulho tribal.
— Tu tá um atrás, pela minha conta! — devolveu ela, tirando outro solo que fez Slice Mike rir que perdeu o folego.
—Até o fim do dia
te supero em pinto e na matança! Finalizou gritando Cheeky Bastard fazendo
Slice Mike sufocar no riso.
Mais atrás, junto a um Humvee blindado, pintado
nas cores dos Dreadnoks e com uma metralhadora montada, estavam os dois últimos
visíveis. Um deles, magro, de cabelos longos pretos e rosto sujo de pó
branco, estava recostado contra a roda do veículo, completamente apagado.
As calças de couro estavam abertas, e de sua virilha saía o rosto adormecido de
uma mulher de cabelo cornrow, usando uma jaqueta cheia de rebites e
short militar.
Ela havia vomitado
nas calças dele antes de desmaiar, e agora dormia como se estivesse em um
spa.
Caóticos.
Erráticos. Viciados em violência, drogas e exibicionismo grotesco — mas extremamente
perigosos. Sua imprevisibilidade era uma arma em si.
O grupo sabia o que
precisava fazer: chegar até a guarita, acessar os arquivos do sistema e
rastrear os movimentos da gangue.
Mas para isso...
teriam que passar pelo meio desse circo demente.
Era impossível
passar no momento, não sem luta, não em plena luz do dia. Como eles planejaram,
eles iriam esperar pelas sombras.
Mari, aproveitando o elo telepático de Charlotte, decidiu falar uma coisa que a estava incomodando.
“Yu, sobre sabotar os barcos, não sei se é uma boa ideia fazer isso agora não, porque sabe-se lá quanto tempo a gente vai ficar aqui, e se eles verem a sabotagem antes, fudeu.”
Yunuen respondeu sem nem virar o rosto:
“Pensa que não pensei nisso, tonta? Fica tranquila! Faremos isso apenas na hora de nossa saída. Agora cala a boca e foco. Vamos fazer certo e esperar o tempo que for por nossa oportunidade. Nada de repetir a merda de Osaka.”
O silêncio que seguiu carregava o peso do fracasso de Osaka — Ren e Sanjuro
abandonaram a vigília e subestimaram o inimigo atacando um membro de gangue
isolado. Acontece que haviam bem mais por perto e eles foram derrotados. Mari
se uniu a eles para tentar ajudá-los, mas também foi derrotada. Para sorte
deles, Charlotte não se envolveu e conseguiu fugir, os salvando mais tarde.
. Mari assentiu,
sem rebater.
“Não, pode crer, vamos fazer tudo direitinho!” respondeu com voz baixa, já
tirando da mochila saquinhos de banana chips e distribuindo entre o grupo.
Antes de abrir o
próprio, Yunuen mostrou por que trouxera Ringo. O cão já estava com o pelo
raspado irregularmente, coberto de terra e fuligem, com manchas que o faziam
parecer mais um vira-lata esquálido e doente. Perfeito para a paisagem
miserável da ilha. Com um clicador de adestramento e alguns gestos que só Ringo
entendia, ela deu a missão: mijar em cada barco e cada porta que encontrasse.
“Ainda não entendi
direito como isso vai nos ajudar” Vostok pergunta.
“Ele tá mijando no
caminho inteiro. Depois é só seguir o mapa de xixi.” Yunuen explica.
“Você também consegue discernir o cheiro?” Vostok arrisca.
Yunuen dá de
ombros. “Do mijo do Ringo? Sim, dieta especial a mambo jambo indígena.” Ela
brinca sarcástica e seca.
Enquanto o cão se
afastava, a caminho das docas, ninguém comentou nada — sabiam que não era só um
truque sujo. Era estratégia.
As docas
fervilhavam em caos funcional. Ringo passou por baixo de encanamentos, entre
pneus pendurados e debaixo de correntes de ancoragem. Cheeky Bastard, Slice
Mike e Busty Bass discutiam sobre qual das músicas da banda “Rotten Maggot Ass”
era melhor para se tocar para uma pesca com dinamite. O pintor vomitava no mar
enquanto ria sozinho. Perto da guarita, um loiro de óculos escuro e dentes
amarelos cortava o próprio braço com uma serra de precisão para “atrair
piranhas” para pescar, fazendo o outro que acabara de pescar uma bota rir,
explicando que “piranhas são peixe do mar atlântido”. Ninguém percebeu Ringo,
ou se perceberam, ignoraram. Cachorros eram parte da sujeira natural da ilha.
O cão passou rente
ao casco de uma das lanchas armadas, levantando a perna e marcando território
com precisão. Depois, caminhou até o banheiro químico onde já avia cheiro forte
de mijo e ele se demorou um pouquinho mais decifrando todos os cheiros (ele
ainda é só um cão).
O Boathouse teve
sua porta marcada também. Ela estava vazia com a exceção de uma lancha que
estava sendo pintada e uma turbina de jato içada no topo. Depois da mijadinha,
seguiu.
Dois containers, usados como “quartos”, também foram “abençoados” por Ringo. Em
um deles, um Dreadnok com mullet tingido de verde fazia flexões nu, berrando
“Setenta e oito! Setenta e nove! Salve Zanzibar!” enquanto uma mulher de
cabelos tingidos de vermelho e moldados em forma de estaca dava um tapa na
bunda dele para cada flexão, explicando porque ela já estava roxa. Ringo deixou
seu jato na porta com dignidade.
Foi quando, se
esgueirando até o lado oculto do Hesperonis, Ringo viu os dois vigias
adicionais. Um, negro, forte como um touro, com uma tatuagem de caveira que
cobria o rosto inteiro e se estendia em chamas pelo escalpo careca. Ele parecia
esculpido em raiva. Segurava um lança-chamas como se fosse uma extensão
do corpo, e murmurava “carbonizar é purificar” como se fosse um mantra.
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Einherjar e Skullface |
O outro, loiro, gigantesco, quase dois metros de puro músculo, lembrava um viking. A jaqueta aberta deixava ver os piercings bizarros: três balas 7,62mm como piercings nos mamilos e uma no umbigo, encaixadas com precisão grotesca. Dois cinturões de munição cruzavam o peito, e ele carregava uma metralhadora pesada que parecia mais um canhão portátil. Ele estava em silêncio, olhos sempre voltados ao horizonte, como se aguardasse o Ragnarok.
Ringo não ousou se
aproximar muito, mas circulou devagar, farejou, e marcou a lateral da estrutura
que dava para o local — uma forma sutil de deixar informação olfativa que só
Yunuen saberia interpretar. Depois, voltou.
Mari e Charlotte
começaram a se inquietar com a demora, mas Yunuen as interrompeu de forma seca:
“Calma, idiotas. Se acontecesse algo, ele teria latido. Ele tá bem.”
Um vira-lata local se aproximou deles, fazendo Charlotte levantar animada,
achando que era Ringo, mas era só um dos tantos cães da ilha.
Finalmente, o verdadeiro Ringo apareceu trotando com o rabo meio erguido. Yunuen o pegou nos braços, farejou seu pelo e olhou nos olhos dele. Ele a farejou de volta.
Yunuen então o soltou, deu-lhe um bifinho seco e virou para o grupo.
“Tem mais dois guardando o tubarocopteroplano, do lado cego. Bem armados e
focados na vigilância.”
“Para que o
bifinho?” Perguntou Charlotte.
“Por que ele foi um
bom menino.” Yunuen fala enquanto revira sua mochila e da um macaron embalado
para Charlotte.
“Ei! Eu também fui
boa menina!” Protesta Mari, fazendo Yunuene dar a ela um saquinho de banan
chips.
“Você descobriu
isso pelo cheiro do cão?” Vostok perguntou, ainda com tom de incredulidade.
Yunuen olhou para
ele com os olhos semicerrados.
“Vem cá, soviético.
Eu te encho o saco perguntando todos os segredos do Kremlin? Então para de
encher.”
Vostok levantou as mãos, rindo de leve. “Justo.”
Então após isso os
investigadores esperaram. Bonnie e Clyde finalmente acordam montam em motos e
começam um estranho jogo de sedução, em que ameaçam se colidir um contra o
outro até passar muito perto do outro e roubar um beijo ou carícia em alta
velocidade e movimentos acrobáticos com as motos. Busty Bass começa um “show ao
vivo” com sua guitarra, fazendo Slice Mike e LSZen dançarem, enquanto Cheeky
Bastard tenta arriscar cantar alguma coisa. Whaler, um homem moreno e grande de
barba que chega até o peito e um arpão preso às costas saí com várias tigelas
distribuindo-as entre eles gritando “rango!”, jogando uma tigela cheia de um
molho com carne e um pouco de macarrão e uma garrafa de refrigerante “Dread
Punch”.
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Bonnie e Clyde |
Uma explosão que
esborrifa muita água assusta os investigadores, mas logo outro dreadnok grita a
explicação “Whaler! Acho que consegui
pegar aquela cavalinha... mas, sei lá, acho que não sobrou muito dela não!”
“Drill Pipe! Seu idioota!” Rosna o Dreadnok da longa barba fazendo os outros
rirem.
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Dock Scrap |
Enquanto esperavam, Mari demonstrava sua típica ansiedade, fazendo discretos exercícios, cantarolando, contando histórias e pedindo tantas outras. Charlotte brincava com Ringo, ria e se amuava atentamente com as histórias enquanto de vez em quando retocava a maquiagem. Vostok tomou a oportunidade para falar de algumas engraçadas histórias de infância de Yanna, que traziam sorrisos para o rosto dos demais, mas também uma melancolia da vida isolada que foram obrigados a tomar. Mari anunciava que ia dar uma mijadinha e voltava dizendo que demorou porque acabou soltando um barro, enojando Charlotte, fazendo Vostok rir da ousadia e Yunuen se irritou tanto com a tagarelice dela que se afastou para escoltar o perímetro. Uma vez, uma dreadnok de cabelos espetados e tingidos de vermelho se aproximou perigosamente deles, fazendo eles recuarem, a nok que atende pelo codinome “Love Cruiser” apenas arriou sua calça de ginástica rosa e usou o arbusto para se aliviar, não notando a presença deles. Os ventos começaram a mudar.
Primeiro vieram as
rajadas esparsas, carregando areia e cheiro de maresia forte. Depois, as
nuvens. A luz do sol, ainda brilhante, começou a se esfarelar no céu. Um ou
outro Dreadnok praguejou contra o vento bagunçando o cabelo, ou o som sendo
distorcido pela interferência elétrica.
— “O tempo tá
virando.” — comentou Yunuen ao retornar.
— “O Japão nunca decepciona.” — disse Vostok, puxando o capuz e observando o
céu como se adivinhasse algo além das nuvens.
Ao fim de quatro horas, o clima tinha se transformado. O dia parecia noite. A música parou. Os Dreadnoks começaram a dispersar. Ainda riam, mas já cuidavam dos detalhes.
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Drill Pipe |
Bonnie e Clyde
pararam as motos com estilo, os pneus cortando lama. Busty desligou o
amplificador. Whaler recolheu pratos. Slice Mike apagou a fogueira de churrasco
com urina.
Antes de se trancarem, os Dreadnoks asseguraram os barcos e jet skis com cordas e ganchos. Um deles atualizou o log da guarita — tanto no computador quanto nos arquivos em papel — e trancou a porta com um cadeado pesado.
Alguns se dividiram
entre os dois containers-quartos, enquanto outros se abrigaram dentro do grande
boathouse, exceto Drill Pipe, que sobe a canhoneira e começa a desafiar o
tempo, xingando e gritando e Bonnie e Clyde, que decidem ficar e brincar de
rolar na lama, rindo da ventania. O vento começou a uivar como fera ferida.
Agora, com a área
externa deserta, com a exceção dos dois vigias do tubarocopteroplano e os
acessos fechados, chegava a oportunidade que os investigadores esperaram. A
guarita estava isolada. Os dados de entrada e saída — tanto os arquivos físicos
quanto os digitais — estavam ali, esperando por mãos pacientes e olhos atentos.
Os investigadores
se moveram, seguindo a trilha deixada por Ringo e se desviando dos Dreadnoks
que ainda desafiavam a ventania. Bonnie e Clyde rolavam e riam na lama. Ao
passarem pelo centro das docas, os investigadores se aproveitaram das vigas de
ancoragem e do casco dos barcos para não serem vistos por eles. Drill Pipe
estava ocupado demais discutindo com o vento para perceber qualquer coisa, e
eles só precisaram esperar LSZen acordar quase se afogando e se retirar para um
dos contêineres-quarto. Charlotte e Yunuen iam fotografando tudo que podiam.
Finalmente,
chegaram ao Hesperonis — o monstruoso veículo híbrido — e aos dois
guardas que o protegiam: Einherjar e Skullface.
— Ok, quem é o
melhor aqui em arrombamento? — pergunta Yunuen, repassando rapidamente a
situação.
— Aí... eu fiquei de aprender mais, mas vacilei... — Mari se entristece.
— Eu vou. Me deem cobertura. — Vostok se voluntaria.
Vostok lança um
olhar de soslaio aos guardas do Hesperonis. Eram colossos. Einherjar, um
escandinavo gigantesco, ostentava uma cabeleira ruiva e uma barba trançada.
Dois cinturões de balas cruzavam seu peito musculoso, tatuado com runas
nórdicas. Sua jaqueta militar aberta revelava piercings feitos com balas de
7,62 mm nos mamilos e no umbigo. Em suas mãos, segurava uma metralhadora M2
Browning. Ao seu lado, igualmente imponente, estava um homem negro com o rosto
inteiro tatuado como uma caveira branca, e o couro cabeludo tatuado com chamas.
Vestia um colete balístico pesado, calças militares reforçadas e carregava um
lança-chamas M2, com granadas e munições de espingarda pendendo de sua
bandoleira.
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Love Cruiser |
Esperando o momento
certo, Vostok avançou até a guarita quando os brutamontes olharam para o outro
lado. Escondeu-se atrás do poste do telhado e das sombras da estrutura. Na
próxima distração dos dois, ele se aproximou do cadeado, canivete em mãos. A
primeira tentativa demorou demais e ele recuou. Na segunda, conseguiu
destrancar e entrou silenciosamente.
Lá dentro, sem
risco de ser visto, tomou seu tempo. Fotografou todos os arquivos que pôde. Ao
acessar o computador, pediu ajuda a Hiyata Mamoru, que o guiou remotamente na
quebra de senhas e navegação dos diretórios. Conseguiu um mapa do evento Nihon
Hiro, além de logs de entrada e saída de pessoal da filmagem, materiais,
mantimentos, veículos e presença de Dreadnoks. Imprimiu tudo na impressora
matricial do local, limpou os rastros, colocou tudo no lugar, esperou o momento
certo, trancou o cadeado novamente e retornou discretamente ao grupo.
— Temos muita coisa
para examinar durante o almoço — comenta.
— Ihh... quando chegarmos já vai ser quase janta! — Mari brinca.
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Whaler |
Com a sensação de
dever cumprido, os investigadores decidem recuar para seu esconderijo. O
caminho ainda é longo — e eles ainda não estão seguros.
A volta foi tão ou
mais tensa que a ida. Os investigadores cruzaram os túneis para se abrigar da
chuva e evitar olhos curiosos.
— Essa chuva vai
durar. Esperem o nível da água aumentar nas minas — comentou Yunuen.
— Yu, mas aqueles
Dreadnoks que a gente viu na volta... vão acabar se abrigando nas minas também,
né? — perguntou Mari.
— Bem pensado,
tonta — respondeu Yunuen, seca.
— Ué... se é bem
pensado, então não é coisa de tonta... — falou Mari, cautelosa, fazendo
Charlotte rir.
— É coisa de tonta
sim. Se veio de você, é coisa de tonta — rebateu Yunuen, agora fazendo
Charlotte gargalhar.
— Ah, eu sei que é
um apelido carinhoso! — Mari respondeu, resignada.
Mas, na volta, Mari
se mostrou extremamente competente. Inspirada por uma música que cantarolava,
acabou sendo quem mais ajudou o grupo a se ocultar. Foi a mais atenta aos
arredores.
— Você tava certa,
Mari. Estão todos aqui — disse Yunuen, ao ouvirem uma verdadeira festa nos
túneis. Os Dreadnoks Pitgirl e Powercord discutiam sobre como sintonizar a
rádio americana.
— Chega de música
em japonês! Cadê as músicas americanas?! — gritou Bulky Boot.
— Espera, Booty! É
só rodar pra esquerda que a gente acha — disse Pitgirl com uma voz
surpreendentemente doce.
— Não, Pity, não é
pra esquerda. Tenta rodar pra direita! Eu juro que a gente ouviu Elvis pela
direita — falou Powercord.
— Não, Yu, não tá
todo mundo aí, não. Saca só: a gente ouviu três falando — a Booty, a Pity e o
Powercord. Eu consigo ouvir um quarto dançando... então tem quatro. Mas tá
sentindo o cheiro de hambúrguer? Tem um fritando, então são cinco aí. Faltam
dois — explicou Mari com o cuidado de uma aluna explicando para a professora.
Yunuen arregalou os
olhos e fez uma careta impressionada.
— Pô... tô
impressionada, tonta. Você tem razão!
Dito e feito. Logo
ouvem outro chegando, com um vozeirão carregado de sotaque alemão:
— Oz burguers
estão prontos, leute! — anunciou Herr Flail.
Powercord foi o
primeiro a avançar para pegar um hambúrguer.
— Você primeiro
não, schwarze! Respeite a hierarquia genética! Primeiro Fräulein,
Pitgirl, klaro?! — falou o racista Herr Flail.
— Aí eu concordo! A
minha Pity primeiro! — disse Powercord, completamente indiferente ao racismo.
Rat Eater, no
entanto, roubou um hambúrguer sem pedir permissão e voltou para a escuridão
dançando.
— Eslavo imundo! —
resmungou Herr Flail.
A gargalhada de
Bulky Boot e Pitgirl ribombou pela mina.
— Ok, não vamos
conseguir passar por aí. Vamos por fora — aconselhou Yunuen.
— Yu... mas se tem
cinco aí, os outros dois devem estar se refugiando na torre de vigia. Não vai
ser fácil passar — deduziu Mari.
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Herr Flail e Rat Eater |
— Quem é você e o
que fez com a Mari? — perguntou Yunuen, olhando surpresa para ela.
— Quench my fire
with gasoline? — respondeu Mari, brincando e dando de ombros, citando o
refrão da música que cantarolava.
— Vai ser difícil
passar, mas não impossível como nesse túnel. Vamos ser cuidadosos e conseguimos
— disse Yunuen.
— Na real... a
gente pode ir pelo teto. Lá tem umas ruínas que a gente pode usar pra se
esconder atrás — sugeriu Mari novamente.
— Você tá pegando
fogo, menina. Não lembro dessas ruínas — comentou Yunuen.
— É verdade! O
Vostok até usou uma delas pra se esconder dos bandidos que procuravam ele lá em
cima — confirmou Charlotte, e Vostok assentiu com a cabeça.
— É isso, então.
Vamos pelo teto. Valeu, inspetora tonta — disse Yunuen, dando uma palmada
reconfortante no ombro de Mari.
Os investigadores
avançaram com cautela pelas ruínas da antiga área de mineração, agora tomadas
pela umidade, fungos e raízes entranhadas. Após uma lenta travessia, chegaram à
torre de vigilância — uma estrutura montada pela produção para “dissuadir” os participantes
do Nihon Hiro de sair da área delimitada do jogo. Com o início da
competição, a torre estava ocupada.
Dois Dreadnoks
vigiavam o topo. Um deles era magro, careca, o corpo inteiro tatuado com cenas
do velho oeste americano: saloons em chamas, duelos sob o sol, esqueletos de
búfalos. Usava apenas botas de vaqueiro, um cinturão de balas, uma cueca preta
desbotada e uma capa de chuva transparente. Operava o holofote com a destreza
de um menino entediado brincando com um inseto.
O outro era o
oposto: grande, forte, carregava no cinturão um martelo elétrico conectado a
uma bateria presa às costas. Também portava um rifle de precisão. Tinha uma
longa cabeleira e uma barba espessa, cuidadosamente aparada. Vestia um colete
militar verde, calças camufladas surradas e botas de combate, além de uma capa
de chuva improvisada. Enquanto o magrelo nu fazia piadas e brincava com a luz,
o grandalhão permanecia impassível, olhos no horizonte.
Aproveitando o fato
de ambos estarem focados em vigiar a frente da torre, os investigadores
contornaram a base pelas sombras densas e por entre os escombros, passando
despercebidos. Finalmente alcançaram a floresta tomada pela mata, onde haviam
montado seu esconderijo — na antiga área residencial e administrativa das
minas.
Yunuen acendeu uma
pequena fogueira dentro do que um dia fora um ofurô, agora afundado e
coberto de musgo. A depressão do terreno escondia a luz, mantendo o esconderijo
seguro. Com o abrigo garantido, o grupo se debruçou sobre os achados da missão.
O que foi
encontrado:
📍 Mapa da Ilha:
Era o mapa mais atualizado de Sarushima, com anotações de como eram as antigas
instalações e os planos para a nova estrutura. Curiosamente, o mapa havia sido
finalizado antes da chegada da equipe do Nihon Hiro, o que
levantava dúvidas: talvez os obstáculos reais da competição tenham mudado de
lugar.
Os relatos da COSMICA sobre a localização dos alojamentos dos participantes e a
torre de rádio foram particularmente úteis, já que não estavam marcados
no mapa.
📋 Registro de Entradas e Saídas:
Um caderno simples, mas funcional. Contava com anotações de:
- Entrada da equipe de filmagem, direção,
segurança e participantes.
- Saída e chegada de patrulhas marítimas
(indicando três turnos por dia).
- Uma anotação sombria: a saída de seis
“perdedores” na noite anterior, levados pelo Hesperonis para destino
desconhecido.
🧰 Inventário da Ilha:
O inventário revelou o que estava disponível tanto para o evento quanto para a
segurança.
Itens para o
evento (disponíveis ou usados como armadilhas):
- Pregos, explosivos, cordas, estacas,
maçaricos
- Ferramentas de construção pesada
- Armas brancas
- Armas de fogo (pequeno e médio calibre)
- "Serra elétrica x3"
- "Minas terrestres x30"
- "Lança-chamas x2"
- "Granadas x30"
- “Mãe de todas as armas x1”
(Ninguém soube dizer o que exatamente era isso — o nome estava entre aspas e escrito à mão.)
Armas da Equipe
de Segurança:
- Armas leves e médias em abundância
- Armas pesadas (lança-foguetes,
metralhadoras .50, lançadores de granadas)
- Lança-chamas, minas, explosivos
- Suprimentos para tropas blindadas
Veículos:
- 19 jet-skis
- 5 lanchas de ataque (uma chamada "Dreadnok
Maw")
- 1 navio torpedeiro
- 6 veículos utilitários blindados
- 1 veículo chamado "Sugar
Rush" (sem descrição técnica)
- 1 helicóptero Bell 206 batizado "Hell’s
Belle"
Armas Navais:
- Torpedos
- Foguetes
- Mísseis terra-terra e terra-ar
🦴 Registro Biológico:
- Algumas entradas misteriosas incluíam
nomes em português:
- “Rex”
- “Lixa Seca”
- “Duquesa”
Não havia
explicações adicionais, mas a seção era intitulada “Animais de Interesse”.
Enquanto examinavam
os documentos e escutavam a ilha ao redor, ficava evidente o nível de violência
do jogo. Ao longe, sons de luta ecoavam entre os trovões: tiros espaçados, uma
explosão forte, súplicas por misericórdia abruptamente cortadas. Um grito lancinante
de alguém caindo de grande altura, seguido de um baque seco.
Em meio à tensão
crescente, começaram a discutir os próximos passos.
![]() |
Vostok |
Yunuen, com o cenho franzido e a voz grave, resumiu o quadro:
— Conseguir provas contra o Nihon Hiro não é o problema. Já temos o bastante pra mostrar que isso tudo aqui é uma monstruosidade criminosa. O verdadeiro desafio... é a saída.
Ela explicou que
mesmo que a Guarda Costeira viesse com força total, os Dreadnoks eram malucos o
bastante — e armados o suficiente — para afundar qualquer embarcação antes que
ela atracasse. Eles poderiam transformar cada barco num posto de artilharia flutuante.
Além disso, havia o helicóptero... e o Tubarocopteroplano. Yunuen
duvidava que apenas cortar as linhas de combustível fosse suficiente para
detê-lo.
A única solução
real seria demolir tudo: uma destruição completa da “marinha Dreadnok”.
Mas havia um problema crucial — nenhum deles era perito em explosivos.
Após discutirem
métodos tradicionais de sabotagem e entenderem que só eles não seria o
bastante, eles suspiraram em silêncio. O caso era mais profundo do que
esperavam.
Charlotte foi a
primeira a sugerir:
— Podemos começar observando os Dreadnoks. Tentar identificar os pontos fracos
de algum deles. Intimidar, enganar, ou até convencer alguém a cooperar. É
arriscado, mas...
— Vale a pena
tentar. — completou Vostok.
Em seguida, a
conversa desandou num tipo de “análise de novela grotesca”:
— Pitty
provavelmente namora o Powercord — comentou Mari com naturalidade.
— É Pitgirl.
— corrigiu Charlotte, sem perder o tom.
— Isso aí! Mas
reparei também que tinha um magrinho calado. O careca grandão chamou ele de
“Eslavo imundo”.
— O “eslavo imundo”
é o Rat Eater. E o careca racista é o Herr Flail. — informou Yunuen, com
precisão.
— Ué, eu percebi
que o nome do magrelo era Rat Eater... mas não me toquei que o careca era esse
tal Herr Flail.
— Ele tinha sotaque
alemão, então é fácil. Nome alemão é dele. — disse Charlotte com lógica básica
de detetive.
— A tonta é burra.
— cravou Yunuen.
— Tá, tá... podem
me chamar de tonta burra, mas eu notei mais coisa! — rebateu Mari, animada. —
Tinha uma mulher grandona, Bulky... acho que era Bulky Boot. Tipo “bota
grande”? Sapatão?
— Isso mesmo. Bulky
Boot. — assentiu Charlotte. — Me chamou atenção as luvas dela...
— Vocês não
lembram? O careca magrelo chamou ela de “puta lésbica” antes. Faz sentido o
nome. — comentou Mari, casual como se falasse do elenco de reality show.
— Também lembro dos
nomes dos do porto: Cheeky Bastard, Busty Bass, Slice Mike... — listou nos
dedos.
Vostok observava
tudo, surpreso com a quantidade de informação que elas haviam memorizado.
— Não achei que
esse tipo de observação seria tão útil. — confessou, sincero.
— Né? Eles têm uns
nominhos bem esquisitos. — disse Mari sorrindo pra ele.
— Esses nomes
ridículos são codinomes, óbvio. — disse Yunuen, balançando a cabeça.
— Hm... mas e se
forem nomes de verdade? — Mari provocou, com um sorrisinho.
Yunuen nem piscou:
— Tu acha mesmo que Pitgirl e Powercord são nomes reais? Se tua
mãe tivesse te dado o nome de "Tonta", qual apelido eu ia te dar,
tonta?
Mari baixou um
pouco os olhos, meio triste:
— Meus pais adotivos que me deram meu nome...
Yunuen congelou por
um instante. Depois, ergueu as mãos diante do rosto e fez voz de bebê:
— "Boohoo!" — fingiu choro, zombando. — Pronto, drama
encerrado. Vamos focar no que importa.
Charlotte ficou
pasma. Mari revirou os olhos, mas deu de ombros.
Charlotte voltou ao
tema da sabotagem, mas dessa vez sugerindo que se sabotasse a energia do local
para dificultar a vida deles e prejudicar o jammer de comunicação.
- É, mas precisa
ser feito de forma a parecer uma casualidade, soviético sabe fazer isso, não é?
– Yunuen pergunta.
- Sim, isso também
é útil para até pedirmos ajuda externa para lidar com os explosivos, existem
peritos em explosivos em sua equipe? Porque se não eu sei que existem na GIAF.
– Rebate Vostok.
- Existe sim, a
loba adora mandar coisas pelos ares. – Fala Yunuen mencionando a agente
Boucher.
- Bom, também é
crucial que coletemos as informações de Cósmica, ela pode ter informações
vitais sobre a localização do QG deles. – Menciona Vostok novamente sua filha.
O grupo voltava à
sua forma.
Yunuen ergueu a
mão, chamando a atenção de todos. Do lado de fora, os sons de batalha haviam
diminuído. No lugar deles, ouviam-se motores, um solo de guitarra estridente e
uma voz amplificada por um megafone:
— E CHEGAMOS AO
FIM DO PRIMEIRO DIA OFICIAL DO NIHON HIRO! PARABÉNS AOS 50 BRAVOS NIHON SENSHI
VITORIOSOS!
POR FAVOR, FORMEM UMA LINHA ORDENADA INDICADA PELA EQUIPE DE SEGURANÇA E
APROVEITEM O BANQUETE DA VITÓRIA!
OS PERDEDORES, FAÇAM UMA LINHA ORDENADA INDICADA PELOS SEGURANÇAS E DIGAM
TCHAU-TCHAU!
PERDEDORES QUE NÃO CONSEGUEM ANDAR, USEM SEUS SINALIZADORES PARA SEREM
ENCONTRADOS PELA EQUIPE DE SEGURANÇA!
O anúncio foi
repetido várias vezes, enquanto os motores dos veículos varriam o perímetro da
“área do jogo”.
De repente, um som
de luta irrompeu ao longe. A voz no megafone retomou com sarcasmo:
— HEY! EU AVISEI
QUE ACABOU POR HOJE, MANÉ!
Um tiro seco ecoou
logo em seguida.
— OPS! AGORA
TEMOS APENAS 49 VITORIOSOS!
MAS ISSO É BOM, PORQUE AGORA DOIS PERDEDORES SERÃO SELECIONADOS PRA LUTAR
ENTRE SI... E O VENCEDOR SE JUNTA AOS VENCEDORES!
Os investigadores,
atentos, viram não muito longe uma coluna de fumaça vermelha: um sinalizador.
Provavelmente de algum "perdedor" ferido, aguardando a tal “equipe de
segurança”.
A brutalidade era
evidente. Mas também revelava outra coisa.
— Eles preferem que
todos vivam. — comentou Vostok, pensativo.
— É. Por mais
macabro que pareça, ainda é uma operação de recrutamento... só que agora com
hierarquização. — concluiu Yunuen.
— Então... eles não
querem matá-los? — perguntou Charlotte. — E os tiros, as explosões, as quedas?
— Esses filhos da
puta são malucos. E o estilo mokumentary do Poser é exatamente isso:
choque, violência estilizada. Uns ovos quebrados no caminho? Eles chamam de
"colateral poético". — respondeu Yunuen com asco.
— Acho que... dois
ou três morreram. — disse Mari, com pesar.
— Três. — corrigiu
Vostok, seco.
— Então todos os
participantes têm esses flares? — refletiu Mari.
— É. Pode ser útil.
Se encontrarmos algum morto, podemos esconder o corpo e um de nós pode se
passar por ele se for necessário. Mas já temos seis infiltrados. Isso serviria
só pra confundir os inimigos ou como último recurso. O mais importante continua
sendo: não podemos ser pegos. — disse Yunuen, encarando cada um deles.
Ela então se
levantou e retomou o foco da missão.
— Hoje vamos voltar
ao porto. Fotografem tudo que puderem do movimento de retirada dos
“perdedores”. E tirem fotos dos Dreadnoks também. Mas, sem flash. Usem a
luz natural. Se não der... desenhem. Uma de vocês duas é artista, certo?
Mari e Charlotte
responderam quase ao mesmo tempo:
— Eu!
Trocaram um high
five animado.
— Ok, tonta. Tudo
certo, boneca.
(Soviético, vambora.)
Yunuen puxou o
zíper da jaqueta, inspirou fundo três vezes e apertou o cabo de sua lança.
— Eles vão estar
caçando perdedores, o que significa que estarão atentos. Redobrem os cuidados.
E assim, os quatro
voltaram à escuridão da selva úmida, com o som da guitarra ainda ecoando ao
fundo, como um hino sombrio da distopia em que haviam se infiltrado.
A noite parecia
respirar perigo.
Sob o véu espesso
da chuva, os investigadores avançavam entre os escombros e trilhas tomadas pela
lama. O céu se rasgava em relâmpagos silenciosos, enquanto o som de motos de
motocross ecoava pela mata como predadores uivando à caça. Flashes de lanternas
varriam os arbustos. Em meio à ventania e ao barro, o infame veículo de
megafone cruzava a ilha mais uma vez, seu anúncio deformado por um solo
infernal de guitarra distorcida, como se a própria realidade gritasse por
socorro.
Yunuen, à frente,
parou subitamente. Seu rosto, ensopado de água e lama, mantinha-se
impenetrável.
— Acima de tudo,
foco no objetivo. — sua voz era baixa, mas cortava o ar. — Devemos chegar às
docas. Custe o que custar.
O grupo assentiu em
silêncio. A tensão era palpável. Se os Dreadnoks ainda estavam vasculhando a
ilha, era porque nem todos os “perdedores” haviam sido localizados. Isso
poderia jogar a missão no caos — ou abrir oportunidades imprevisíveis.
Avançando por entre
árvores retorcidas, Mari avistou algo que a fez parar de súbito.
— Ali. Aquilo é...
um flare?
Era. Um bastão de
sinalização, intacto, com a tampa ainda lacrada. Um tom verde intenso,
deslocado na paisagem úmida e escura. Estava simplesmente... jogado. Abandonado
no chão.
Vostok se agachou,
examinando o objeto.
— Blyat. —
sussurrou. — Não há rastro de pegadas. Quem o deixou aqui queria que ninguém
o seguisse. Ou... estava desesperado.
— Será que ele não
sabia usar? — arriscou Mari, a voz baixa mas aflita.
— Ele está por
perto. Temos que encontrá-lo. — Charlotte se adiantou.
Yunuen, até então
silenciosa, ergueu o rosto, como se farejasse o ar. Seu olhar cortou a mata.
— Silêncio,
idiotas! Me sigam. Eu sei por onde ele foi.
— Como?! — Vostok
perguntou, surpreso.
Mari apenas fez um
gesto: “Confia. E anda logo.”
Eles o encontraram
não muito depois. Um rastro de sangue, tênue, mas constante, levava até
um jovem caído, com uniforme do Nihon Hiro — número 66 estampado nas costas. Estava
sem capacete, sem força, sem esperança. Tentou se arrastar quando ouviu os
passos dos investigadores. Gemia baixo, em agonia, enquanto seu corpo deixava
uma trilha de morte anunciada.
Yunuen observou de
longe, em silêncio. Depois murmurou, com um peso antigo na voz:
— Pobre diabo. Está
morto e não sabe.
Mas Charlotte não
aceitou o destino.
— Não. Eu vou salvar ele.
Sem esperar
aprovação, correu até o garoto. Mari logo atrás. Vostok fechou a retaguarda, e
Yunuen, contrariada, acabou se juntando ao esforço.
Charlotte canalizou
toda sua energia espiritual, seu chi, sua alma — pressionando as mãos
ensanguentadas sobre a ferida. Luz e calor fluíram de seus dedos, rompendo a
carne infectada com força vital ancestral. O garoto gritou, mas viveu.
Yunuen e Vostok
rapidamente improvisaram uma cirurgia brutal: costuraram a artéria com
linha dental esterilizada e mãos firmes, sujas de terra. Um trabalho cirúrgico
que teria feito um médico de campo veterano suar. Mari, tremendo, preparou soro
e improvisou uma intubação com o que tinham à mão.
Enquanto lutava
para sobreviver, o jovem murmurava:
— “Não era só um
jogo... Eles... nos marcaram...”
— “Não olhem dentro da porta vermelha...”
Então, apagou.
Yunuen olhou para o
céu, depois para o corpo quase sem vida entre eles.
— Abortar missão.
Vamos levá-lo para o esconderijo. Agora.
A operação de
retirada foi um inferno.
Yunuen dividiu as
ordens com precisão cirúrgica: Mari lacrou a ferida com fita isolante e gaze
para conter o sangramento. Vostok seguia à frente, cobrindo o rastro de
sangue com terra e folhas. Charlotte, exausta, ajudava Yunuen a carregar o
jovem como podiam.
Carregando o garoto
entre a lama e as sombras, os investigadores seguiram por veredas estreitas,
desviando de patrulhas, evitando fachos de luz e rastros sonoros. Yunuen, com
os sentidos felinos em alerta, assumiu a dianteira estratégica: orientava o grupo
e eliminava rastros com precisão quase sobrenatural. Cada passo era uma
sentença suspensa.
Ao chegarem às
ruínas do antigo balneário dos mineiros, o grupo adentrou a mata fechada que
envolvia os escombros. Acima, a copa das árvores formava uma abóbada
natural, escura e úmida, abafando sons e ocultando luzes. O bote camuflado
jazia imóvel entre galhos cobertos de musgo. E no centro daquele labirinto
natural, o velho onsen, agora seco, servia como o santuário secreto
da missão.
Eles desceram
cuidadosamente com o corpo ferido do garoto, acomodando-o no fundo da estrutura
de pedra. Mari, como um ritual, conectou os fones de ouvido dele a um walkman
surrado e pôs para tocar uma fita de pop rock suave. A música abafava os
trovões distantes e as memórias ainda vivas do horror.
Charlotte e Vostok
cuidavam dos curativos com delicadeza. Charlotte ainda tremia — drenada física
e espiritualmente — mas recusava qualquer pausa. Vostok trocava os gazes,
atento aos sinais vitais. O rapaz ainda estava vivo. Por milagre ou por força
de vontade.
Enquanto isso,
Yunuen ainda não havia retornado.
Ela patrulhava os
arredores. Apagava pegadas com folhas úmidas e lama, examinava o solo por
qualquer perturbação que indicasse aproximação. Seu instinto — de guerreira e
predadora — a impelia a garantir, a todo custo, que ninguém mais soubesse
daquele santuário. Só depois de uma ronda completa, e convencida de que não
havia sinais de intrusos, ela retornou. Escorregou pela borda do onsen e se
juntou aos outros.
Mari ergueu os
olhos e sorriu aliviada. Mas Yunuen não sorriu de volta.
— Está limpo.
Por enquanto. — disse, a voz rouca. Sua silhueta ainda parecia à espreita,
como se a floresta estivesse atrás dela.
Ela se ajoelhou,
observando o garoto. Respirou fundo. Então quebrou o silêncio:
— O que vamos
fazer com esse moleque? — sua voz não era fria, mas também não era
calorosa. Era pragmática. Medida.
Mari, sem hesitar,
respondeu:
— A gente não podia
deixar ele morrer, né, Yu?
Yunuen assentiu, os
olhos fixos nos ferimentos recém-tratados.
— Não... é. É
claro. — ela murmurou, baixando o olhar, mordendo a unha do polegar. Um
gesto que denunciava o que ela nunca dizia: medo.
Charlotte,
recostada contra a parede de pedra, abaixou a cabeça.
— Me desculpem...
Eu não achei que isso poderia prejudicar tanto...
Mari não deixou o
silêncio crescer:
— Nada disso!
Você fez certo, Charlotte. Se fosse comigo, eu teria feito igual. Vostok
assentiu com firmeza.
Yunuen suspirou.
Seus olhos percorriam cada um deles. Finalmente disse, sem muita força na voz:
— A tonta tem
razão. Tem gente na Força que... teria ordenado que deixássemos ele. Eu devia
ter feito isso. Mas não fiz. Então a culpa é minha.
— Porra nenhuma!
— Mari ergueu o tom. — E se fosse um de nós, hein? Ia ser só mais um corpo no
mato?
— Entendo o ângulo
moral. — interveio Vostok. — Mas isso pode nos expor. Precisamos de um plano.
Yunuen voltou a
encarar o garoto. Frágil, desacordado, respirando com a ajuda do soro e da
música.
Ele era só uma
criança.
Mas agora, era também um peso. Uma variável perigosa. E uma fagulha de
esperança.
Eles não sabiam
quanto tempo ele viveria. Ou se os Dreadnoks notariam sua ausência. Mas sabiam
que haviam cruzado uma linha.
Naquela noite, não
venceram a guerra. Mas impediram uma morte.
E isso era o
bastante... por enquanto.
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