O Calvário da Sala das Caldeiras - Prólogo - O Último Reflexo de Sonhos Despedaçados

 

O Calvário da Sala das Caldeiras – Prólogo: O Último Reflexo de Sonhos Despedaçados

Música de Apoio

"La Javanaise" by Serge Gainsbourg

Ainda estava escuro lá fora quando Amélie Boucher acordou, a hora matinal envolvendo seu quarto em um silêncio suave, pré-alvorada. Ela se espreguiçou, um arrepio de antecipação percorrendo seu corpo ao se lembrar de que dia era. Hoje marcava o início de sua nova jornada, uma que ela havia trabalhado incansavelmente para embarcar.

Amélie havia se formado na prestigiosa academia militar de Saint-Cyr, um feito notável para qualquer pessoa, mas especialmente para uma jovem nos anos 70. Seu tempo lá foi rigoroso e recompensador, moldando-a na pessoa disciplinada e determinada que ela era agora. Após a graduação, ela passou três meses como oficial administrativa Sous-lieutenant no exército francês. No entanto, logo percebeu que seu papel não passava de uma secretária glorificada, uma perspectiva que não combinava com suas ambições.

Seu pai, um respeitado almirante da marinha francesa que havia servido durante a Segunda Guerra Mundial, compreendia sua determinação e aspirações. Reconhecendo seu potencial, ele usou sua influência para garantir uma entrevista para ela com Marc Marchand, chefe de uma divisão dentro do SDECE. A entrevista foi um tanto decepcionante; Marchand parecia mais ansioso para aceitá-la imediatamente do que para testar suas habilidades. Apesar disso, Amélie decidiu não deixar que isso a afetasse. Ela estava determinada a se destacar e superar qualquer desafio em nome de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Levantando-se da cama, Amélie decidiu comer primeiro, querendo evitar borrar sua maquiagem mais tarde. Optou por um café da manhã leve, consciente do tempo e desejando evitar idas desnecessárias ao banheiro do escritório. Depois de comer, dirigiu-se ao chuveiro, a água morna ajudando a clarear sua mente e focar seus pensamentos.

Ela aplicou sua maquiagem meticulosamente, permitindo-se um pouco de indulgência para acentuar seus traços. Seu cabelo, uma cascata de mechas douradas, caía até os ombros, uma escolha deliberada para causar uma impressão marcante. Ao escolher suas roupas, buscou um equilíbrio entre classe, profissionalismo e elegância casual: uma blusa social abotoada com ombreiras, jeans sociais e sapatos discretos.

Enquanto se vestia, considerou levar sua pistola pessoal, uma SIG Sauer P220 modificada, que havia obtido em 1975. No entanto, decidiu não levar, para não parecer excessivamente arrogante ou agressiva em seu primeiro dia. Verificou pela janela que o tempo nublava rápido, então decidiu colocar por cima da roupa um prático e elegante casaco de gabardine, um foulard vermelho de cetim para proteger a cabeça, prendendo seu cabelo em um coque baixo e um guarda-chuvas pongee preto. Substituiu os sapatos por botas de chuva, guardando os sapatos em sua bolsa para calçá-los no escritório. 

Amélie calçava luvas nas mãos, quando seus pensamentos vagaram para o que ela sabia sobre o SDECE. A natureza sigilosa da agência significava que ela tinha informações limitadas, mas conseguiu descobrir alguns detalhes. Trabalharia ao lado de três ex-veteranos da guerra da Argélia, homens endurecidos pelos horrores que testemunharam e cometeram. Havia também uma misteriosa mulher franco-argelina e um outro novato como ela, que havia se destacado na Police Aux Frontières e sido convidado a se juntar à divisão.

Amélie sentiu uma mistura de excitação e apreensão enquanto terminava de se arrumar. Estava ansiosa para provar seu valor, para assumir um papel onde pudesse realmente fazer a diferença. Respirando fundo, deu uma última olhada no espelho, seu coração batendo forte de antecipação.

Hoje era o começo de sua nova vida no SDECE. Estava pronta para enfrentar qualquer desafio que viesse, armada com sua determinação e guiada por seus princípios. Com um último olhar ao redor de seu quarto, ela saiu para a manhã chuvosa, pronta para abraçar seu futuro. Ela deixou seu apartamento sem saber que seus testes aconteceriam tão cedo e seriam tão terríveis.